quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Lembranças de um amigo que se foi...

Pai, amigo, confidente: lembranças que guardarei eternamente!

Ontem, dia 29 de Dezembro de 2010 seria o aniversário de 68 anos do melhor amigo que tive: meu pai.

Sr. Luciano Benevides, vulgo Sivuca ou Papai Noel por causa da pele rosada, cabeça e barbas brancas que clarearam precocemente, dando a impressão que de ele já nascera daquele jeito, afinal, aquela imagem tenho na memória desde que me entendo por gente.

Minha relação social com o mundo nunca foi muito convencional. Marido, professores, patrões, colegas e é claro, também com a família, nunca seguiram um padrão de comportamento típico da maioria.

Com “Seu Luciano” não foi diferente. Nosso relacionamento pai e filha passou por muitos altos e baixos comuns aos demais, mas outras situações foram totalmente atípicas.

Às vezes, eu parecia mãe dele. Em outras, agíamos como amigos, confidentes e até colegas de farra. Pode parecer meio grotesco, mas dividiu comigo segredos em mesas de bar quando eu não passava de uma adolescente. E embora isso tenha provocado choque nas pessoas, nunca afetou minha índole. Fiz na vida o que quis, provei o sabor agridoce da liberdade, com todos os seus prazeres e consequências, mas sempre me norteei pelos valores da autenticidade e coragem, reflexo da personalidade ímpar do meu pai.

Ele era um ingênuo, um boêmio. Um filósofo infante, com uma mente imaginativa e de uma racionalidade louca que no final, fazia todo sentido. Altamente tolerante, livre de preconceitos (a não ser quando algum rapaz se aproximava da filhinha, nessas horas virava um machista incorrigível), um coração puro que acreditava em todos e até aos quase 60 anos batia no compasso de um menino. Cuca fresca, engraçado, ria e fazia rir. Assim era meu pai.

Partiu muito cedo, aos 59 anos, vítima de cirrose. Carrego a culpa de ter sido tão impaciente com ele. Sua complacência diante do mundo foi adotada também diante do vício e da doença que tanto o maltratou. Justificava suas crises com todo tipo de desculpa, menos o álcool. E contava os dias para receber alta e comemorar com uma dose de branquinha com limão. Eu ficava possessa!

Talvez se naquele momento soubesse que não tivesse mais jeito, eu mesma tivesse tirado-o do leito para curtirmos uma noite de canção e boemia.  Nem que fosse a última. Ou tivesse simplesmente transposto nossa muralha de aparente frieza (nunca fomos muito carinhosos) e deitado ao seu lado, abraçado seu peito e beijado sua careca.

Meu Papai Noel”, como você escreveu no meu presente de Natal no ano que descobri quem era na verdade o bom velhinho, onde quer que esteja quero que saiba que mesmo de um jeito torto, eu o amo demais. Aprendi muito com sua firmeza, sua disposição para o trabalho, sua coragem e jeito diferente de pensar. Nossa ligação sempre foi muito forte e acredito que persista até hoje. Não duvido que esteja comigo comemorando minhas conquistas e recriminando minhas falhas. Mas sei que, mesmo errada, me defenderia de qualquer um ainda que diante de mim fosse duro e crítico.

Sei que nos reencontraremos um dia (mas não tenho pressa, viu) e vamos dar aquele abraço que nunca demos. Finalmente permitirei que me aninhe em seus braços e seja o pai convencional que talvez sempre tenha tentado ser, que me ponha no colo e dê broncas sem ser questionado pela filha independente e difícil que colocou no mundo. Feliz Aniversário, Papai!

Da sua “fofoleti”!

2 comentários:

  1. Lindo, lindo, lembrei-me de seres amados de minha familia que gostaria de ter feito o mesmo antes de partir. Parabéns.

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  2. Tenho muita saudades do meu pai! Ele era um grande homem, e sempre soube disso! Fico muito feliz que tenha gostado! É um prazer ter você aqui!

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