segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Descendo até o chão!!!

Eis a nova musa do feminismo pós-moderno!

Boa tarde, meus amores!

Hoje minha segundona começou um pouco diferente, pois neste final de semana ocorreram fatos pitorescos e, porque não dizer, chocantes, que provocaram uma reflexão profunda no meu inquieto ser pseudo-feminista.
 
Minha vida, como a maioria já sabe, é uma montanha-russa de aventuras sem fim. Meus gostos e preferencias tendem a variar com tanta frequência que já me levaram até a concluir um autodiagnostico de Bipolaridade atestado pelo sábio Dr. Google. Fazer o que, eu sou assim!

Pois bem, a bola da vez são as experiências gastronômicas. A convivência no trabalho com uma cozinheira de mão cheia, que vive nos mimando com purês e creminhos engordativos, acrescentou à minha personalidade uma visão mais simpática e curiosa em relação à culinária, outrora tão temida. E motivou meu ingresso autodidata neste universo de temperos, aromas e sabores.

Como consequência, resolvi submeter meu corajoso marido aos experimentos, até porque ele é o único que não corre o risco de reclamar (na minha frente) dos resultados das minhas entusiasmadas e bem intencionadas tentativas.

As prévias demonstraram que – pasmem - eu tenho certo talento. E empolgada, mandei brasa no fogão surpreendendo o meu amado com algumas iguarias.

A peculiaridade da experiência despertou um pensamento tragicamente bem humorado, quando comparei a diferença da época de namoro e do casamento. A distinção na forma de “surpreender” o companheiro ficou evidente, já que na fase mais apaixonada costuma-se impressionar com uma lingerie. Ousadia que no futuro é substituída pela ideia de aguardá-lo com um prato saboroso e elaborado. Mas vá lá, é tudo comida mesmo!

O devaneio cômico logo deu lugar ao pânico quando percebi que eu, uma feminista fajuta que adora usar a desculpa da militância quando esta lhe convém, estava lá, com as mãos fedendo a alho e o pensamento absorvido pela perspectiva de novas receitas.

Culpada, corri para o quarto e retirei da gaveta um sutiã, no intuito rebelde de queimá-lo, só para me redimir perante a causa maculada. Mas ao observar o detalhe da renda gripir, o tecido acetinado e, principalmente, ao recordar o quanto custou, a minha porção capitalista acabou falando muito mais alto do que a feminista. Envergonhada, voltei a guardar a lingerie agradecendo aos céus por ninguém ter presenciado toda aquela frescura.

Acontece que eu estava determinada a me penitenciar de qualquer forma. E saí à procura de um manifesto da Simone de Beauvoir ou coisa parecida, mesmo sabendo que a bonita na verdade também era uma feminista do Paraguai que alimentava o sonho inconfesso de ser o tapetinho do amante americano.

Enfim, fuçando meus arquivos encontrei um artigo da Revista Superinteressante intitulado “O Funk é Feminista”, onde, basicamente, a autora defende que as funkeiras, com suas letras picantes e suas coreografias libidinais, representam o novo feminismo. E que rebolando até o chão e passando o rodo geral elas estão, no fundo, dando um exemplo de resistência à opressão e exigindo o prazer sexual. A cereja do bolo do texto ficou por conta do pretenso rompimento dos padrões de beleza esquálidos defendidos pela mídia. Ah, vá! Como se os homens brasileiros detestassem aqueles popozões gigantes e preferissem, na prática, as modelos magrelas de passarela.

Antes de me revoltar com a cunhã e encher o e-mail da revista com comentários e reprovações eu pensei que, talvez, ela tenha sido mais muito mais inteligente e astuta do que imaginei. Não, não estou dizendo que concordei com a maluquice. Mas veja bem, até então eu nunca tinha sequer ouvido falar da racha. E agora, depois da polêmica, certamente seu passe bombou. Polêmica é bom e sempre rende dividendos, ainda que à custa de conceitos e métodos duvidosos.

E ela não é a única. Na faculdade de jornalismo iniciei essa discussão dentro do meu grupinho maligno, carinhosamente batizado de “As Cobras”, composto de figuras tão inteligentes quanto controversas, com estereótipos típicos: da loira gostosona ao gay da periferia, passando pela balzaquiana sarcástica que adorava provocar. Unimo-nos intensamente ao passo que éramos odiados e incompreendidos em nosso deleitante recolhimento. Praticamente um reduto de gênios. E o grupo não passou incólume às especulações e, a nós, foram atribuídos comportamentos e opiniões que nem de longe representavam os assuntos que pautavam nossas discussões hilárias, geralmente temperadas por temas maliciosos e confissões muito particulares. Sabe como é, a magia do desconhecido. Como nenhum de nós tinha vocação pra vítima, foi mais fácil nos atribuir uma postura de algozes e logo fomos acusados de que, em nossa reclusão, disfarçávamos um empenho sádico de reprimir e denegrir colegas que, certamente enciumados diante do nosso ar blasé, deram um jeito de, em sua delirante imaginação, fazer parte das nossas conversas da forma mais pejorativa possível. Do dia pra noite nos transformaram em nazistas, facistas e, pior ainda, praticantes de bullying da pior espécie.

Na maioria das vezes ríamos muito dessas situações absurdas. Mas como éramos acadêmicos de jornalismo e estudávamos sobre o poder que as estórias fantasiosas (o popular FUXICO) tem no processo de corrupção da verdade, também abrimos espaço para uma conversa séria sobre os rumos surreais que as coisas estavam tomando, principalmente nas ocasiões em que o caldo ameaçou entornar. E discutindo sobre todos os ângulos que podem haver numa pretensa “VERDADE”, descambamos para o terreno dos IDEAIS.

Hoje, parece que levantar bandeira virou moda. Seja ela qual for e independente do fato de você realmente acreditar ou vivenciar aquela ideologia. Parece que a graça mesmo é segurar o mastro e se mostrar antenado com as novas diretrizes politicamente corretas do mundo moderno. E, se possível, jogar sua pitadinha no meio desse caldeirão.

Acho que foi mais ou menos isso que a autora do artigo quis fazer. Em meio a um universo desgastado de discursos feministas, ela trouxe à tona uma ótica totalmente diferente sobre o mesmo tema. Ou, quem sabe, simplesmente inventou algo para atiçar os ânimos e se autopromover.

Minha cara, não te julgo. Na verdade até invejo sua ousadia. No terreno das ideias toda novidade que emerge tem sua contribuição, ainda que seja o de instigar o debate (o que, de fato, aconteceu).

E em homenagem à sua controversa bandeira, vou até parar pra pensar no proveito que posso tirar dessa visão tão “exótica” sobre o novo feminismo. Quem sabe eu chegue à conclusão de que devo mesmo é colocar um short minúsculo e ficar balançando a bunda pra lá e pra cá, porque varrer casa é humilhante demais!

Boa semana pra vocês!
Beijos,

sábado, 15 de setembro de 2012

Abarcando o mundo com as pernas!

Escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore... será que ainda é suficiente???


Olá, meus amados leitores!

Eu sei que esta saudação efusiva pode contrastar com a aparente indiferença demonstrada pela ausência de postagens. Mas acreditem, tal ausência foi sentida principalmente por eu mesma, que tenho por este espaço um carinho especial.

O que ocorre é que as inúmeras obrigações cotidianas impendiam novas atualizações e bloqueavam as inspirações. Era o trabalho que consome além da conta, a pia cheia de louça que parecia dar cria ao final de cada lavagem (sim, eu lavo louça, pelo menos de vez em quando), a família que carecia de atenção, a saúde que reclamava cuidados, as atividades religiosas necessárias ao bem-estar e, sob o pano de fundo de tantas urgências, a lembrança de um blog abandonado martelando na minha consciência já sobrecarregada por tantos fardos mal administrados.

E, para vocês verem como são as coisas, foi justamente durante a resolução de uma dessas cobranças (a louça suja), que o pensamento inspirador surgiu concatenado à angústia que me oprimia por não poder fazer tudo o que gostaria e tão bem quando achava que deveria.

Enquanto lavava a louça, agradecia aos deuses pela chance de distrair meus pensamentos da lembrança de uma bandeja de Chambinho, o queijinho do coração, que estava guardada na geladeira. Sim, meu bem, porque na minha infância (época de extrema pindaíba em que não havia Bolsa Escola para prover os caprichos de uma criança chantagista), um dos meus sonhos de consumo era comer um Chambinho sozinha. A carência dessa iguaria era tão sentida pelo meu pobre ser pequenino que quando era abençoada por tal dádiva, eu degustava o minúsculo potinho com um garfo, para demorar mais para acabar. E escondida, é claro. Não que fosse egoísta, muito pelo contrário: como irmã mais velha era duro engolir alguma gostosura furtiva com a lembrança de dois irmãos menores chatos e implicantes a cobrar-me as obrigações fraternas. Mas com o Chambinho a coisa era diferente, tamanho o valor que tinha para mim.

O que ocorre é que hoje - vejam só a ironia - tenho de me controlar para não atacar a bandeja inteira, já que a menina magricela deu lugar a uma mulher madura e bem fornida, que sofre horrores para perder peso. E a culpa por não querer dividir o Chambinho com as outras criancinhas deu lugar à culpa pelo esforço de resistir à tentação enquanto no mundo inteiro, tanta gente passa fome. Ou seja, o motivo mudou, mas a culpa ainda está lá, a comprimir a minha lombar (até rimou!).

Bom, agora que eu já protagonizei meu momento de divagação e delírio, vou entrar de vez no tema que é a ansiedade do mundo moderno.

Há alguns anos, a sabedoria popular afirmava que qualquer fulano seria feliz se completasse sua missão na Terra, sintetizada pela máxima: “Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.”. Pois é. Mas hoje, diante de um mundo tão competitivo, abarrotado de ofertas, tentações, informações e cobranças acho que se eu ESCREVESSE UM FILHO, PLANTASSE UM LIVRO E PARISSE UMA ÁRVORE, ainda assim não seria suficiente. Parece que não basta mais ser BOM, você tem que ser O MELHOR! Tarefa quase impossível diante de uma humanidade que alcançou as estatísticas dos bilhões em que quase todos também querem ser “O MELHOR”.

E aí? Quem é o Juiz? Quem decide essa parada? Quem fiscaliza o páreo? Fica difícil saber. Estamos todos nadando perdidos num oceano de variedades e diversidades, como náufragos que precisam se manter desesperadamente na superfície, bem visíveis, ainda que demos braçadas sem rumo e sem destino, sem saber onde está a terra firme. E a profundidade submersa nos parece por demais assustadora, já que nos vemos praticamente obrigados a estar onde todos estão: de preferência até acima dos demais, nem que seja preciso brotar asas no lugar onde a natureza nos deu braços.

Para nós mulheres, premiadas por uma dose extra de ansiedade hormonal, essa angústia pode ser ainda mais devastadora. Porque saímos do casulo da mesmice e dos limites sufocantes do passado. Dos destinos previsíveis de mães, esposas e donas-de-casa, encontramos um universo de possibilidades: novos espaços, novas metas, novos caminhos a percorrer. Mas ainda nos encontramos presas às cobranças culturais e ficamos profundamente divididas diante das novidades a usufruir e descobrir no mercado de trabalho, na política, nas artes, nos esportes, enquanto os deveres “tradicionais” permanecem na nossa lista de prioridades. Nesse ínterim, muitas mulheres são massacradas pela ideia de serem excelentes profissionais, vencendo o machismo através de resultados espetaculares e comportamentos irrepreensíveis, enquanto sofrem com a dúvida diante da maternidade tardia ou mal exercida. E de quebra, ainda precisam manter-se sempre lindas, jovens e atraentes, prontas para o príncipe encantado que caiu do cavalo branco bem em cima de uma Ferrari vermelha.

Não que essas novas conquistas sejam uma coisa ruim. Muito pelo contrário. São justas e necessárias. Mas o mundo moderno, tão corrido e inquieto, ao invés de nos proporcionar a liberdade de escolha parece nos aprisionar num arsenal de novas obrigações. E na urgência de fazer tudo, de provar tudo, de experimentar tudo da forma mais profunda e satisfatória possível, fica difícil dizer o que verdadeiramente ESCOLHEMOS ou o que ESCOLHERAM PRA NÓS! No final das contas pode ser que estejamos apenas cumprindo metas diferentes do passado, mas ainda assim, cumprindo metas e padrões estabelecidos pelos outros e não por nós mesmas.

O que vale aqui é uma mensagem sincera de reflexão, ao qual me comprometo (de boa, sem pressão) a compartilhar. Antes de nos jogarmos diante de meta, de um objetivo aparentemente essencial à felicidade e que represente a idealização de uma vida plena e satisfatória, paremos um instante para pensar se realmente QUEREMOS aquilo ou se apenas projetamos mais uma peça desse quebra-cabeça sem fim. Pode ser que o que tanto almejemos como satisfação seja justamente a causa da insatisfação. Nada que não surja do nosso oceano de profundidade pode ser realmente completo. O que está na superfície é apenas uma minúscula parcela da complexidade humana. E jamais conheceremos essa profundidade enquanto continuarmos a procurá-la ACIMA DA SUPERFÍCIE. Concentremos, então, nossos esforços em mergulhar e conhecer nossos desejos mais profundos e sinceros, para depois comprarmos o ingresso do parque de diversões e gozar da vida aquilo que verdadeiramente nos fará felizes, mesmo que o brinquedo escolhido seja o batido carrosel ou um brinquedo novo e nada convencional. O que deve estar em jogo é a SUA ESCOLHA!

Beijos,

sábado, 26 de maio de 2012

Inguinoranssa, ti queru cumigo agóra!


Seria mesmo a ignorância uma dádiva?


Quem hoje conhece minha figura agradável, carismática, crocante e modesta certamente não consegue acreditar que eu fui uma daquelas crianças curiosas e insuportáveis, dotada de uma inquietação desgovernada que me fazia cobrir os adultos de perguntas de todos os tipos: das mais tolas e pueris às mais capciosas e desconcertantes.

Não que não desejasse ser bela, rica, adorada e bem sucedida. É óbvio que como toda criança, fantasiava sonhos maravilhosos e destinos gloriosos que com o tempo provaram ser, em sua maioria, exagerados, inviáveis e até mesmo impossíveis. Afinal, quando o Rick Martin saiu do armário frustrou completamente as minhas expectativas infantis de casamento.

No entanto, todo esse universo de criança e suas metas e facetas mirabolantes jamais sobrepujou o maior dos meus desejos: conhecer e aprender. Eu sempre quis saber de tudo, entender tudo. Compreender a lógica das coisas, porque elas eram “assim” e não “assado”. OK! Um desejo relativamente comum, diriam vocês, mas que em mim ultrapassava todos os limites do “aceitável” e geravam situações, no mínimo, desconfortáveis, como colocar o professor numa saia justa perante toda a sala de aula ao levantar questionamentos que, aparentemente, objetivavam atingir sua autoridade, quando na verdade tudo o que eu queria era que as coisas fizessem total sentido pra mim.

Mas o tempo passou. E depois de ter vivido alguns anos e de ter esgotado muito a paciência alheia, cheguei num patamar da existência em que toda essa “bagagem” cultural acumulada através da educação formal e do conhecimento empírico, me deixou com um baita abacaxi nas mãos para descascar. Sim, porque percebi que o conhecimento que busquei por toda a minha vida de forma tão obsessiva, e que sempre idealizei como a chave para a satisfação e a felicidade plena, na prática, não me livrou da tristeza e do sofrimento.

Saber, por exemplo, que o amor é uma reação química orquestrada por substâncias de nome difícil não diminuem a dor de um coração partido; compreender que a vida transcende a matéria e que o corpo é apenas um invólucro do princípio espiritual eterno não impede o sentimento de saudade de um ente querido que se foi; entender que relações abusivas só são construídas mediante nosso consentimento e fraqueza, não evitam que pessoas manipuladoras e interesseiras ajam com ingratidão e crueldade; e ficar ciente de que a venda desenfreada de chips aliada à falta de estrutura da OI é o motivo de não conseguir completar uma ligação não minimizam a raiva pelos desencontros e prejuízos gerados pela falta de contato. Pelo contrário, aumentam a revolta com esses e outros escândalos patrocinados por uma nação governada por corruptos e prevaricadores!

Pensar assim me fez sofrer a tal ponto que cheguei a almadiçoar o conhecimento, a lógica e a razão. Tudo que eu queria era ser um espírito simples e ignorante, tal qual um fã do Restart que se satisfaz com músicas bobas e se deleita com roupas coloridas. Eles, sim, pareciam felizes, em seu total desconhecimento de tudo aquilo que era realmente “útil” e “importante”! E eu, que um dia tanto almejei a sabedoria e a instrução, pensei obsessivamente na idéia de que, quanto menos soubesse, menos sofreria. Mas é lógico que não dava pra voltar atrás. Não poderia simplesmente “desaprender” tal qual uma máquina desprogramável. Sou um ser humano e a lobotomia, pelo menos por enquanto, parecia fora de questão.

No entanto, uma reflexão profunda e sincera fez perceber o tamanho do meu egoísmo e da minha covardia. Viver nunca foi fácil, ninguém jamais disse que seria. Mas viver pela metade seria muito pior: uma “sobrevida” autoboicotada, fugindo da verdade enquanto tantos outros tem essa oportunidade negada pela falta de recursos ou até mesmo por duras limitações físicas. E eu, gozando de saúde (tirando uma dorzinha nas costas aqui e ali), com um cérebro perfeito e sentidos em pleno funcionamento, sonhando com a ignorância? Não, não é por aí. Não PODERIA ser por aí, ou a existência humana na Terra nada significaria.

E assim, guiada pelas minhas convicções e dando um generoso desconto na minha autopiedade, finalmente cheguei a conclusão de que o que vale mesmo não é o conhecimento em si, mas aquilo que se faz com ele. E que toda essa insatisfação e angústia representam, no fundo, o preço por não ter sincronizado teoria e prática. Aprendi muito, porém fiz pouco. Sobraram neurônios e faltou força de vontade!

E agora que também sei disso e acrescentei mais uma lição ao rol da sabedoria, espero não apenas escrever outra página vulgar no livro da minha história. Mas aproveitar, na prática, a valiosa oportunidade de fazer diferente e construir, definitivamente, um novo modelo de vida. Palavra de escoteiro!

Beijos da Lulu!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Eu tenho a FORÇA!

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E aí, majestade, tá achando que é fácil? Então raspa a tua juba agora!



Falar mal da programação da TV aberta é praticamente um pleonasmo! E um pleonasmo BEEEEEM vicioso, pois ainda que a gente critique e reclame, continua a assistir, como se não houvesse nada de mais útil pra fazer. Afinal, como você acha que eu cheguei ao tema do post de hoje? Lendo Dostoievski é que não foi, né, meu bem!

Mas entendam as minhas razões. Confinada aos limites sufocantes do quarto e dividida entre um netbook chinfrim que trava à cada meia-hora, uns gibis da Mônica dispostos na cabeceira e o controle remoto do lado, não me resta muita opção. E por mais que eu fique completamente chocada com a forma tosca e sem noção com que o Sílvio Santos tem conduzido o seu programa, não há como não se apaixonar pelos efeitos hilários que os sinais da senilidade tem provocado do Homem do Baú. Gente, é sério: dá muita pena dos convidados! Mas como todo ser humano que se preze, a minha humanidade passa é longe e eu morro de rir das declarações surreais que o Sílvio protagoniza. Quem dera ele fosse eterno!

Bom, mas a razão da revolta feminista da vez foi a careca da Panicat Babi Rossi. Para quem não sabe, a bela loira perdeu suas madeixas ao vivo, num daqueles quadros estúpidos e sem criatividade que o desespero pela audiência é capaz de criar. E que funcionam, porque mesmo odiando cada minuto da condução do espetáculo pastelão, fiquei ligada até o fim. Simplesmente não podia acreditar que a moça teria coragem de perder o símbolo-mor da vaidade feminina. Mas raspou no zero, coitada!
Claro que as especulações em torno do que teria sido real ou armado, são muitas. Mas ainda que a jovem tenha concordado previamente com o absurdo, pra mim, não deixa de ser um assédio moral e uma coação. E ainda que a “profissão” da garota não seja considerada das mais nobres pela sociedade, não creio que justifique tamanha violação. Até porque, se ela tá lá rebolando as ancas, certamente é porque tem quem assista! E por mais fútil e desnecessária que tenha sido sua exposição (mesmo que com sua anuência), não deixa de refletir uma das facetas mais sádicas do machismo, especialmente no meio profissional.

É claro que existem várias exceções. Mas não é incomum que a mulher precise se submeter à situações degradantes para conquistar e manter seu espaço no mercado de trabalho, seja lá qual a profissão que ela escolheu. De doméstica à executiva de multinacional, talvez o que mude seja apenas o índice de refinamento do preconceito e da coação. Possivelmente, nesses meios mais “civilizados”, a pressão, as cobranças e a desigualdade sejam expressas em palavras cuidadosamente elaboradas por hábeis consultores de RH. Mas que no final das contas, tem o mesmo significado da grosseria dita por um dono de boteco. Você é mulher! E sua condição naturalmente desfavorável implica na necessidade extra de esforço somados à magnânima complacência do chefe que compreende sua TPM mensal. E você seja eternamente grata por isso, que fique bem claro!

Evidente que a ânsia em agradar e ser aceita pelos nossos algozes contribui, em muito, com essa condição. É a baixa auto-estima agindo em nosso desfavor. Eu mesma sempre tive uma preferência descarada pelo meu pai (que era um excelente pai, mas com uma boa dose de machismo), de quem tentava roubar toda a atenção dedicada à minha mãe. E não pensem que a maturidade da minha genitora era capaz de aplacar o clima de rivalidade infantil. Ela entrava na disputa pelo poder tal qual uma pré-adolescente insegura da 6ªsérie. Hoje sou capaz de rir daquelas cenas, que agora me parecem tão tolas e pueris... Mas a verdade é que, na minha cabecinha e na minha vida, o filme continua, com repetecos que de tão sutis, se tornam ainda mais perigosos!

Enfim, garotas, meu post de hoje tem mais um tom de desabafo. A consciência de uma nova realidade pelo menos me fez enxergar essas armadilhas nas quais caímos com tanta facilidade. Mas não pensem que deixei de cair nelas. Temos sorte de ter vencido barreiras e de usufruir de direitos que nos foram concedidos, mas não podemos esquecer que a maioria dessas "concessões" só ocorreu por conveniência ou por necessidade masculina. O secretariado, por exemplo, só tornou-se uma atividade eminentemente feminina durante a 2ª Guerra Mundial, quando faltaram homens para exercer tipicamente a função. E graças ao espaço forçado, provamos nossa capacidade superior também nesse ramo profissional.

Mas somos muito e queremos muito! Não há erro algum em servir, pois até quem está no topo, precisa servir a pessoas e propósitos. Agora, dividir a fatia do poder e exigir igualdade de cargos e funções, com dignidade e respeito, não é um favor que os bondosos machos-alfas tem a nos conceder quando lhes der na telha ou quando não tiverem outra saída: é um direito, uma luta e um dever de toda mulher, independente de seu nível de instrução e de sua condição social. E sem ter que se desculpar, se explicar, se sujeitar e, principalmente, sem precisar se DESCABELAR!

Beijos, meninas, e lembrem-se: FORÇA NA PERUCA!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Fera Indomável!

Desculpem, cunhãs, mas eu não resisti! ASHUASHAUSHAUSHASU

Dia Internacional da Mulher! Você, amiga dona de casa, certamente já ouviu a piadinha infame sobre termos apenas 1 dia, enquanto a macharada curte os outros 364 (ou 360, na contagem da Daniela Albuquerque). E o que é pior: para ganhar esse mísero dia foi preciso que humildes operárias ardessem nas chamas da opressão masculina. Mas a data, mais do que um simples rótulo, tem sua representatividade e nos convida a uma reflexão.


Quanto a mim, que vivo em análise constante para evitar que o tico e teco entrem em curto circuito, resolvi aproveitar o ensejo para rememorar alguns fatos da longínqua infância, mãe de todos os traumas e dilemas. E para pegar o fio da meada, começo com um fato protagonizado por papai e filhinha, direto do túnel do tempo. Senta que lá vem a história!


Eu sempre tive uma relação muito próxima com meu pai. E passei por todas aquelas fases de relacionamento pai e filha, que começam na idolatria infantil e culminam no remorso pela perda. E foi justamente quando criança que mais procurei agradá-lo, nem que para isso precisasse sufocar ou desviar meus sentimentos e opiniões.


Bom, numa infância marcada pela mais pura pindaíba (mas nem por isso, menos feliz), demorou até que eu fizesse minhas primeiras compras com um pouco mais de autonomia (lembram das situações constrangedoras que relatei no post anterior?). Mas um dia essa oportunidade chegou, quando contava 11 ou 12 anos de idade.


Papai me carregou até uma Loja da Fábrica para comprar, ora vejam só, minha primeira CALÇA JEANS. Na época, um sonho dourado de consumo que hoje, ironicamente, não faço a menor questão de possuir. A vendedora separou algumas peças e enquanto ia buscar os tamanhos certos, vi pela primeira vez o mais belo exemplar de feminilidade na forma de tecido: um VESTIDO, lindo de morrer! Lembro até a cor: cinza mescla. E de quebra, com todos os atributos que acarretam uma maior incidência de aparecimento precoce de cabelos brancos nos genitores: justo, curto e decotado. Tudo bem que eu não era lá nenhuma beldade. Com 12 anos, estava mais para uma fedelha magricela e sem graça. Mas amei o vestido e achei que valorizaria a minha falta de atributos. Assim, o levei sorrateiramente ao provador e ingenuamente, chamei meu pai para mostrar como ficou. Ele, por sua vez, não fez questão de esconder sua desaprovação. Como eu ainda era muito criança para entender a malícia dos abutres que só esperam a mulher completar 20 Kg para cair matando, meu pai poupou-me de maiores detalhes e apenas me convenceu a optar pela calça jeans reta e a camiseta quadrada que generosamente estava ofertando e que, na sua opinião, me deixavam muito mais bonita. Lógico que eu não acreditei, mas como cavalo dado não se olha os dentes, engoli o choro e recebi o presente calada.


Bom, depois disso, papai foi feliz durante mais alguns anos. Pois bastou que eu engrossasse mais um pouco o pescoço para escolher as roupas que me atraíam - o que para seu desespero, atraíam os rapazes também. Mas meu gosto prevaleceu e para respaldar minha liberdade e minimizar a censura paternal, dediquei-me ao máximo ao trabalho e à busca pela independência financeira, características que me acompanham até hoje.


Todo esse “arrodeio” foi feito com o objetivo de mostrar o quanto nós, mulheres, fomos instigadas a pensar, desejar, escolher e viver conforme as expectativas alheias. Expectativas essas que muitas vezes nos foram apresentadas no decorrer da vida como formas altruístas de “proteção e amparo”, cuja aceitação irrestrita nos garantiria a felicidade plena e eterna.


É bem possível que isso seja verdade. Pelo menos no que tange à felicidade “coletiva”, se assim posso definir. A felicidade medida e mensurada pelos protocolos de convivência e obrigações sociais, cujas regras são bem mais extensas e específicas quando se trata de uma mulher.


A questão é que, felizmente, não obstante todas as tentativas de opressão e subordinação (descarada ou velada) que nos foram impostas durante a história, nós, mulheres, sempre questionamos e, mesmo que minimamente, rejeitamos cláusulas desse Contrato Social. E aos poucos, fomos retirando ou pelo menos amenizando tais regras. Esse sentimento de rebeldia é natural, porque o ser humano (que é o que todos nós somos, independente de gênero ou etnia) tem dentro de si a chama da liberdade. Recebemos do Criador o livre arbítrio e por isso não nascemos para ser cativos, a não ser de nossas escolhas e de nossa consciência.


Quem sabe, se fossemos mais dóceis e “receptivas”, teríamos menos problemas. Quem sabe, assim, não sofreríamos violência doméstica, teríamos casamentos mais duráveis e lares mais estáveis. Mas esta seria apenas a CARICATURA DA FELICIDADE, desenhada sob a ótica de terceiros que se acham superiores e não aceitam questionamentos naquilo que julgam ser o IDEAL para nós (ou melhor dizendo, conveniente para ELES). Por dentro, morreríamos ainda em vida, corroídas pelo desgosto e pela frustração.


É, queridas, não era pra ser assim. Mas se é assim, o jeito é vestir a armadura e ir à luta. Todos os dias. Nunca sufoquem seus desejos e nunca permitam que direcionem ou adequem os seus sonhos. Nunca se permitam acreditar que não são dignas do que quer que seja ou que não podem realizar pequenos e grandes feitos. Somos ESPÍRITOS ANIMADOS PELO DOM DA CRIAÇÃO DIVINA e temos um pouco de Deus em nós. Se nascemos mulheres, honremos essa condição e façamos disso um desafio pela igualdade a ser conquistada a cada dia.


E quanto a você, homem, um conselho de quem entende do assunto: antes de tentar DOMINAR uma mulher, procure COMPREENDE-LA (nem que para isso precisem comprar enciclopédias de 60 volumes). Essa guerra estúpida e inútil pelo poder deve até enchê-lo de orgulho e entusiasmo, mas no final das contas não lhe assegura absolutamente nada de proveitoso. Se tiver uma fera indomável ocupando seu coração, ame-a, então, com toda a ferocidade e descubra que o amor em seu estado selvagem é mais puro, forte e sincero do que qualquer sentimento corrompido pelos ditames da racionalidade e da lógica tendenciosa. E se o “respeito” ainda é condição expressa para o seu amor condicional, saiba que MEDO não combina com RESPEITO e nenhuma mulher é capaz de amar um homem que a submete à inferioridade e à humilhação. Ela pode até ficar ao seu lado durante toda a vida: por dever, submissão ou falta de autoconfiança. Mas no silêncio do seu coração, estará a cada dia sonhando com a felicidade que nada mais é do que um legítimo direito!


Feliz Dia Internacional da Mulher para todas as Feministas de Arake! Brasileiras, portuguesas, inglesas, americanas, afegãs, francesas, russas, italianas, espanholas... Enfim, do mundo inteiro! Um grande beijo dessa feminista fajuta que a cada dia se solidariza com cada uma de vocês, mesmo nos momentos em que a despeita fala mais alto e tiro sarro da bunda torta da Valesca Popozuda ou do Todynho da Daniela Albuquerque. Eu amo vocês, mesmo assim. Suas lindas!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mãe, eu quero brocólis!!!

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Fala a verdade: quando o filho não é da gente, bem que dá uma vontade louca de sapecar uma bifa no moleque chiliquento!

Ultimamente tenho pensando muito em crianças. Sei lá, talvez seja efeito do meu relógio biológico que já parou de marcar faz tempo: na verdade, está apitando desesperadamente feito sirene escolar, convidando a coroa aqui a encomendar logo um herdeiro antes que me apareça um neto. Eu, hein! Do jeito que as crianças de hoje estão precoces, não dá pra duvidar de mais nada!

Mas é sério. Não tem uma noite sequer em que não sonhe com bebezinhos enrugados e com carinhas de joelho, que de tão feios, chegam a ser lindos! Lógico que quando penso no quão encantadores e fófis eles são, surge logo a desejo de mandar meu problema da coluna para as cucuias e encarar de vez o barrigão. Mas esse entusiasmo também tende a diminuir quando visito algum amigo que tem filho pequeno. Nossa! Como a molecada dá trabalho, meu povo! Canso só de olhar.

Durante essa visita aos amigos-papais, fico observando o contraste na forma de se tratar as crianças de ontem e de hoje. A meninada dessa geração é praticamente a majestade do lar, a razão da existência de cada casal. Monopolizam as atenções, o orçamento familiar, os planos para o futuro, os desejos fugazes, os roteiros das férias, o controle remoto, fins de semana e a aplicação do 13º... Enfim, são eles quem mandam no pedaço. Muito diferente de quando eu era criança.

Claro que, considerando a minha idade, não era nada do tipo “absoluta e irrestrita autoridade paternal”. Até porque, se fosse assim, tadinho dos meus pais, que tiveram uma filha tão rebelde e contestadora. Mas ainda assim, era tudo muito diferente. Menino era tratado mais ou menos como se fosse um animalzinho de estimação, desses que são mais paparicados e ganham roupinhas coloridas e raçãozinha selecionada. Mas que ainda assim, não tinham vontade própria ou poder de escolha. Era para aceitar o que os adultos (os donos) determinassem ou escolhessem.

Minha mãe, por exemplo, às vezes tentava me tratar como um bibelô ou um robô. Duro era eu aceitar sem reclamar. Mas mesmo diante dos meus protestos, ela insistia em colocar-me em situações que na minha cabecinha representavam tortura e constrangimento infinitos. Quer um exemplo? Quando íamos fazer compras na Capital. As lojas da época não eram tão modernas e bem equipadas e poucas tinham provadores acessíveis e em quantidade (isso quando tinham provador). Então, quando ela via alguma blusinha interessante (e barata!) não contava pipoca: subia minha camiseta no meio da loja e me deixava seminua na frente do mundo inteiro, chocando toda a sociedade. Claro que estou exagerando, porque meus seios nessa época nem de longe denunciavam a fartura que viriam se transformar. E, portanto, ninguém dava a mínima para uma fedelha de 7 anos com dois ovinhos fritos de fora e vestida numa calcinha “bunda rica” (só os fortes entenderão). Mas minha mente fértil fazia imaginar a própria casa de vidro do Big Brother, com centenas de curiosos me observando e dezenas de câmeras dando closes indiscretos. Os efeitos desse martírio é que até hoje tenho dificuldades de trocar de roupa na frente de quem quer que seja. Quando estou no meio de uma prova no biombo de uma loja e sou surpreendida por alguma vendedora descolada querendo ver como ficou o modelito, tenho ímpetos de cometer um assassinato. Mas como a lei não permite, limito-me a fuzilá-la com um olhar de vergonha e indignação.

Outra demonstração de mais puro constrangimento do qual só as mães são capazes de nos infligir, era quando ela tentava de todas as formas (meio tortas, por sinal) alçar-me aos status da fama e do sucesso instantâneo! Certa vez, durante um show do Alípio Martins, o refinado cantor chamou alguma criança para cantar com ele um dos seus hits no palco. Sem ter noção do que estava acontecendo, só me vi flutuando acima das cabeças dos adultos, enquanto braços peludos e desconhecidos tentavam me puxar para cima do palco. É claro que fiz o meu show particular: abri o berreiro na hora, assustando público e produção! E ouvi durante horas as lamentações da minha genitora sobre a minha “matutice”. O trauma foi tão sério que até hoje não consigo ouvir “Ela é americana”, sem chorar.

Bom, deixando de lado as experiências particulares deprimentes e traumatizantes, não sou exatamente o tipo de pessoa mais indicado para dar pitacos sobre educação de monstrinhos. Até porque, ainda sou uma figueira seca, e fica fácil criticar os pais alheios (e os meus) quando não tenho um filhinho insistente e chantagista exercendo sua ascendência emocional sobre mim. Mas ainda assim, alguns exageros não posso deixar de comentar.

Acho muito saudável o exercício da autoridade paterna de uma forma racional e equilibrada. Não simplesmente “obedecer, por obedecer”, como se o fato de ser pai ou mãe torne uma pessoa infalível. E a autoridade cega, imposta mais pela ameaça do que pelo respeito e confiança mútuos, cria filhos instáveis e inseguros, com dificuldades de lidar com relacionamentos e manter sua autoestima em níveis saudáveis, que lhe assegurem bem-estar.

Por outro lado, filhos que comandam e monopolizam o lar, dobrando tudo e todos à sua poderosa vontade, tendem a tornarem-se jovens sem limites e adultos arrogantes e perigosos. Do tipo que não aceitam um não como resposta! E não se pode confundir determinação e coragem com prepotência e presunção.

Bem sei que quando chegar a minha vez de ser mãe, vou queimar a língua e enfrentar momentos apreensivos de chiliques e birras infantis com uma visão bem mais tolerante que só o amor incondicional é capaz de aplicar. Mas ainda assim, espero que meu amor seja suficientemente grande para vencer minhas próprias fraquezas e fazer aquilo que é certo para garantir ao meu filho um aprendizado definitivo e positivo para seu futuro! Ainda que esse aprendizado seja fruto de um “não” doloroso, dito na hora certa e do jeito certo!

Boa semana pra vocês!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma heroína desajeitada!

Mesmo sendo mais forte que um rato, no final das contas, ele resolve tudo!


Muitas vezes, fui agraciada com referências elogiosas à minha personalidade intrépida e corajosa. Adjetivos como “guerreira” e “mulher de fibra” eram comuns. E a fonte de tão generosas observações é legítima e imparcial (bom, pelo menos pra mim), já que grande parte dos comentários veio de pessoas com as quais travo relacionamentos apenas amistosos. Ou seja, nesta contabilidade não entram a rasgação de seda de amigos queridos (porém míopes), marido apaixonado e mãe coruja. Até porque, em se tratando dessa última, o mais comum é que as virtudes enumeradas sejam “doida”, “teimosa” e “besta”, não necessariamente nessa mesma ordem.


Na maioria das vezes, o efeito que esses comentários tem sobre mim é o mesmo que teria sobre qualquer mortal: boçalidade instantanea. Por trás da expressão humilde e do sorriso sem jeito, tem um ego massageado e eufórico dançando frevo em cima de qualquer resquício da minha costumeira baixa auto-estima. Um efeito fugaz, porém eficaz!


Mas em outros momentos em que meu “chip on-board de culpa” está funcionando mais rápido do que o de costume, a reação ante a um comentário amável sobre a minha pretensa coragem é a de puro remorso. A vontade é de prostrar-me aos pés do generoso bem-feitor e declarar a plenos pulmões: “Puna-me, meu bom homem, pois eu sou uma farsa!”. Desculpem o exagero, mas vocês sabem o quanto sou dramática! Mas se querem saber, se existe mesmo uma cunhã medrosa nesse mundo, essa alguém sou eu!


Tenho medo de tudo, podem anotar alguns aí: panela de pressão, Anador (!!!???), tesouras e alicates de unha, bonecas sem cabeças, relógio parado, televisão fora da sintonia, guarda roupa com a porta aberta, clipes do Gorillaz (aquilo é o cão!), acúmulos de água em que não possa enxergar o fundo (pode ser o açude do Cedro ou uma pequena bacia de lavar roupa, tanto faz), canções sobre velhas tenebrosas que moram embaixo da cama e também dormir com os pés descobertos (esse último é conseqüência do medo anterior, vai que a anciã das trevas resolve puxar meu dedão no meio da noite!). É uma coisa assim, tão variável e extensa, que às vezes tenho ímpetos de cavar um buraco no quintal e me enterrar dentro.


As razões dessa coletânea de medos eu desconheço. Embora desconfie de algumas. Mas não vamos tirar o ganha-pão da minha terapeuta, deixemos esse aspecto da discussão para os meandros da psicologia. Pois agora que a confissão foi feita, prefiro me ater a outra questão.


Embora todos nós adotemos papéis para conviver em sociedade, e eu, claro, faço parte desse elenco, a verdade é que, grosso modo, nunca ensaiei meus passos nem costumei colocar máscaras para conseguir as coisas ou ser vista pelos outros de uma determinada maneira. Muito pelo contrário. Lamento ter sido inconsequente e passional, pois agir de forma fria e calculista de vez em quando é mais do que necessário nesse mundo cruel e maledicente em que vivemos. Portanto, a razão das pessoas enxergarem uma “guerreira” por trás de uma personalidade tão insegura e medrosa, dá-se pelo simples fato de que, apesar de tudo, eu decidi sobreviver, seguir em frente. Sempre. Os meus fantasmas, embora frequentemente a me assombrar, aprendi a ignorar na maior parte do tempo. No popular: “engolir o choro”!


Claro que não sou a única e privilegiada mulher dotada de tão maravilhosos poderes. Somos todos assim e muitas vezes, nem nos apercebemos disso. Convivemos todos os dias com companheiros, familiares, chefes, colegas de trabalho, cobradores de ônibus, transeuntes, operadores de telemarketing de um jeito superficial, embora com os traços de personalidade marcantes peculiares a cada um. Mas cada um de nós, quando encosta a cabeça do travesseiro, sabe realmente aquilo que lhe aflige, angustia e incomoda, ou ainda o que lhe alivia as dores, desperta a alegria e alimenta as esperanças. Nas mulheres, em especial, esse LADO B configura-se de forma ainda mais forte, já que temos a mania de querer carregar as dores dos outros e os problemas do mundo nas costas (será coincidência sermos mais sujeitas às dores físicas do que os homens?). É algo nosso. E vamos aprendendo a (sobre)viver com isso, mesmo que nos obrigando a contornar os efeitos nocivos que o papel de Super Mulher pode trazer.


Então, amiga, proponho colocarmos o pé do freio de vez em quando. Permitir-nos ser cuidadas, afagadas e lisonjeadas. VIVER dias de princesa para compensar a rotina de SOBREVIVER como gata borralheira. Aceitar que não somos infalíveis, perfeitas e que tudo pode, sim, sobreviver sem a gente. Deixa o povo se virar, pelo menos vez por outra! E nada de ajoelhar no milho quando receber um elogio. Mesmo se houver algum fundo de inverdade, pelo conjunto da obra, ele sem dúvida é mais do que justo. Aproveita, guerreira!


Beijos e boa segunda-feira!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Lava, lava, lava! Esfrega, esfrega, esfrega!

Minha mãe um dia tentou me convencer de que isso era diversão!

Quando era criança, os brinquedos não eram tão fartos e modernos quanto hoje. A indústria do setor ainda não era bem desenvolvida e a política de importação limitada, deixando para os pais desesperados poucas opções de marcas nacionais que custavam os olhos da cara (Não esqueça a minha Caloi!). Mães contemporâneas, levantem as mãos para o céu e agradeçam às bênçãos trazidas pela sonegação fiscal, pela pirataria e pela Feira da Parangaba. Foram elas que lhes permitiram mimar seus monstrinhos dentro das possibilidades orçamentárias.

Quanto a mim, só restava apelar para a criatividade e construir mobiliário de caixas de fósforo revestidas em papel de pão. Para quem não conhece essa última peculiaridade da aplicação do papel de pão, saiba que seu uso era dos mais versáteis: ia desde embrulho para manteiga vendida em colheradas até borrão substituto de cadernos. É, meu bem, a coisa era preta! Com cinco pestinhas para sustentar, meus pais precisavam fazer malabarismos com o orçamento doméstico. Eles, sim, podem ser chamados de Super Homem e Mulher Maravilha!

Mas às vezes aparecia na vizinhança alguma criança mimada que tinha um exemplar da Barbie, uma bicicleta com cestinha ou alguns trequinhos de plástico. Ahhh! O plástico! Eu demorei a possuir um brinquedo desse material. Hoje minhas sobrinhas se dão ao luxo de palitar os dentes com eles. E dá-lhe aquecimento global!

Bom, dissipado o delírio, voltemos ao assunto. Quando aparecia alguma “criança abastada” em nosso meio, é lógico que ela se tornava a heroína de nossas vidinhas inocentes. Qualquer um que recebesse a graça de ser convidado para brincar com esse coleguinha se sentia feliz e privilegiado.

Numa das vezes, uma amiguinha da qual não recordo o nome (interesseira como sou, lógico que só lembro o que ela tinha) reservou uns “bregueços” para brincarmos de casinha. E fiquei maravilhada com a vassourinha, o rodinho e o baldinho. Passamos a tarde inteira encenando diálogos entre duas donas de casa prendadas envolvidas pelos afazeres domésticos. Tudo tão lúdico e encantador!

Quando acabou a festa, voltei para casa empolgadíssima, contando para minha mãe a novidade. E como toda mãe que se preze, a maquiavélica genitora bolou instantaneamente um plano para aproveitar-se da minha ingenuidade. Começou a falar maravilhas sobre o serviço doméstico, pintando em cores vivas e atraentes a rotina de uma dona de casa. Falou sobre a beleza de encerar um chão até ele refletir o fundo das nossas calças e do orgulho de encher o varal com peças tão alvas que ofuscavam os vizinhos invejosos. E num golpe de misericórdia, “generosamente” me convidou a tomar parte desse universo maravilhoso no âmbito do nosso lar. É sério?! Eu posso mesmo? Nossa, mal posso esperar!

Pois é, caí nessa. Apesar de inteligente e precoce, sempre fui do tipo que acredita em tudo e me empolgo com uma facilidade absurda. E para completar o cenário mágico das minhas ilusões, a sapiente mulher ainda confeccionou um aventalzinho para mim.

No dia seguinte, lá estava eu, com um lenço colorido na cabeça e o bendito avental. Pronta para absorver as delícias da rotina de cuidados com a casa. Comecei com tudo, varrendo o chão e esfregando alguns calções encardidos dos meus irmãos. Meia-hora depois, comecei a achar que a diversão estava demorando demais pra começar. Antes do meio-dia já estava achando aquilo tudo um saco! Não dava mais para fingir empolgação. E tão logo mamãe deu as costas, fugi para a casa da minha tia, uma professora aposentada que tinha uma estante repleta de livros que eu adorava folhear.

A partir de então, o hábito da leitura ficou ainda mais forte. E as desculpas para fugir do serviço doméstico, cada vez mais frequentes, junto com as brigas e reclamações da Dona Sandra. Porque é claro que não fui a única a acreditar que adoraria o trabalho. Tadinha da mamãe! Foi mais ingênua do que uma pirralha de 7 anos.

Nesse contexto, fui crescendo e seguindo um caminho que em nada apontava para o perfil de "Amélia”. Estudar bastante e fazer bicos para faturar uns trocados, eram a minha rotina! Muito moleque da vizinhança salvou-se da reprovação (e de umas boas lapadas) graças às minhas aulas particulares, pagas com dinheiro ou mesmo em troca de uma bobagem qualquer.

Mamãe, revoltada, só vivia prometendo surras (e de vez em quando, até cumpria a ameaça). Quando me via a tarde inteira com a cara enfiada nos livros, gritava da cozinha que eu ainda iria morrer de estudar (dramática!), e que deveria achar uma coisa mais útil pra fazer, como aprender a lavar roupa ou pregar um botão (!!!????). Acreditem, é a mais pura verdade. Enquanto tantos pais dariam um rim para ver seus filhos dedicando-se aos estudos, minha mãe mandava-me procurar algo “de futuro” pra fazer. O que costumava salvar minha pele era o fato de eu compartilhar os dividendos das atividades empreendedoras com a família.

Mas a situação era tão difícil naquela época que hoje compreendo a inversão de valores da nossa matriarca. Durante toda a vida ela só conheceu a dificuldade e a pobreza. Órfã de mãe e abandonada pelo pai, sua existência foi nula em termos de oportunidades e perspectivas. Estudo, ela nunca conheceu. Apenas a força dos próprios braços, no qual empenhava aquilo que sabia fazer: costurar e realizar atividades domésticas. Foi com isso que ela conseguiu escapar da fome e do abandono!

Hoje, felizmente, nós mulheres temos milhões de oportunidades. Podemos estudar, trabalhar, construir uma carreira, adiar e planejar a maternidade... E se dar ao luxo de escolher seguir uma rotina antes permitida apenas aos homens. Infelizmente, o que me entristece, é ver que tantas mulheres tem usado MAL esses privilégios. Confundiram a questão dos “direitos iguais” e procuram imitar os maus hábitos masculinos: tudo aquilo que sempre condenamos. Acham-se no direito de beber em excesso, agir de forma promíscua e irresponsável, porque os machões assim o fazem, portanto podem se permitir as mesmas prerrogativas. Muitas dessas mulheres talvez acreditem que serão jovens e belas para sempre. E não aproveitam seu tempo no sentido de unir, de forma equilibrada e saudável, a diversão, a satisfação pessoal e o crescimento intelectual e profissional. Benefícios justos para os quais tantas feministas deram até mesmo a própria vida para conquistar.

Mas eu acredito no futuro e, principalmente, nas queridas cunhãs. Acho que como uma criança que ganha uma bicicleta e leva vários tombos até aprender a andar, nós ainda estamos meio que na fase de aprender a usar da melhor forma as nossas conquistas. Portanto, umas besteirinhas aqui e ali, até que são perdoáveis. Faz parte! Só não vale repetir a burrada e tornar essas mancadas um hábito frequente e nocivo para a própria vida. Não duvide: quem mais vai sofrer, é você!

Bom final de semana procês!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nas lembranças, um lugar seguro!

O trem do passado já passou... E só fica esperando à toa na estação, quem quer!

Minha terapeuta que me perdoe, mas deixei para revelar aqui um desejo jamais confessado: meu sonho é participar de um reisado.

Isso mesmo. Aqueles reisados tradicionais do início de janeiro, onde os grupos saem durante a madrugada cantarolando cantigas do cancioneiro popular e nos tirando o sono em troca de alguma bobagem qualquer que tivermos em casa.

A chama desse desejo é reavivada, é claro, sempre que o calendário aponta a aproximação do evento. E mesmo com a minha cidade promovendo um encontro de grupos de reisado, ainda assim não me conformei. Eu não quero simplesmente olhar! Quero sair às ruas, virar lata, fazer bagunça na porta alheia e curtir os ares românticos da boêmia.

Infelizmente, o hábito odioso da procrastinação distanciou-me da concretização desse sonho. Pois agora a ideia de me arriscar pelas madrugadas não me parece nem um pouco atraente. Ainda mais porque a experiência de avaliação dos “grupos de reisado” que fiz ano passado mudou um pouco minha visão poética sobre o assunto.

Em outros tempos, os andarilhos foram atendidos pelos meus pais e, anos depois, pelo meu marido. Eu só ficava ansiosa e quietinha na cama, ouvindo canções bonitas e a hábil execução dos instrumentos musicais: violão, flautas, alguns pandeiros e atenta às vozes cujos timbres denunciavam faixas etárias variadas. Tudo isso alimentava ainda mais a minha imaginação e desejo. Um dia estaria ali, do outro lado do portão!

Mas ano passado foi diferente. O roteiro de espera até que foi o mesmo. Separei as coisinhas de sempre: uma cidra que sobrou no Natal, umas fileirinhas de bolacha água e sal, um refrigereco de uva... E tão logo escutei os primeiros passos na calçada, comecei a girar a chave da porta. No entanto, mal abri e já fiquei arrependida. Era um bando de rapazes magrelos, sem camisa, andando meio trôpegos, com umas latas velhas na mão e fazendo um barulho infernal (aquilo não era música, não podia ser). O ritmo em que entoavam a letra das canções e aqueles, como poderia dizer, “instrumentos rústicos”, me faziam duvidar de seus estados de sobriedade. Era um desencontro total!

Quando finalmente terminaram a sessão de tortura, o “líder do bando” me encarou de forma desafiadora e disse: “Tia (como assim!!!!), o siguinti é essi: a sinhora podi dá qualqué coisa mermo, viu! Qualqué cinco conto, tá bom!”.

Quanto a mim, era a pura imagem da perplexidade e da frustração, segurando uma cidra e com uma vontade absurda de chorar e chamar pela minha mãe. O sentimento de idealização e contentamento deu lugar a uma sensação semelhante ao que devem sentir os reféns. Diga-se de passagem, um refém sem o mínimo sintoma de Síndrome de Estocolmo. Eu queria mesmo era fugir dali! Mas não dava mais pra voltar atrás. Sorri amarelo, voltei para dentro orando para todos os santos para que eles não tivessem a ideia de me acompanhar e também para que eu tivesse os benditos “cinco conto” na bolsa. Felizmente, as orações deram certo, e despachei o “reisado” da minha porta com uma respiração de alívio e a promessa de não abrir a porta para nenhum outro grupo.

A experiência rendeu duas certezas. A primeira delas: cuidado com aquilo que deseja, é melhor adotar um plano B e escolher outro sonho inútil para corroer minha existência; a segunda é que o saudosismo exagerado pode deturpar nossa visão sobre a realidade e atrapalhar muito a vida presente.

Muitas vezes me pego rememorando o passado e repassando momentos especiais: a infância, com toda a família reunida (hoje cada um seguiu seu caminho), o início empolgante e marcante do namoro que rendeu o casamento (que como toda união, tem suas dificuldades), aquela professora amorosa e gentil (substituída agora pela figura de autoridade de chefes bem exigentes), o frescor da juventude com o corpinho no auge (e que a lei da gravidade transformou radicalmente)... Enfim, nada mais natural do que recordar. Todo mundo faz isso!...

O problema é que prender-se a esses flashbacks, principalmente se você estiver passando por uma fase difícil, pode tornar o dia-a-dia insuportável, fazendo com que as lembranças boas constituam-se no único refúgio (agradável, porém irreal). O que a gente não para pra pensar é que até mesmo aquele período cultuado no altar de nossas recordações, também tinha suas nuances negativas. E só o passar do tempo fez dele “a melhor época de nossas vidas”. Parece que simplesmente apagamos da memória a parte ruim e elegemos o passado como um ideal a ser apenas enaltecido, já que nada mais podemos fazer dele. Passou... Só o que temos é o AGORA!

Ouvimos todos os dias que é preciso seguir em frente, deixar o que passou para trás. Mas talvez a dificuldade que temos de lidar com nós mesmos e com os problemas do cotidiano, nos instigue a procurar válvulas de escape da realidade. Como o futuro ainda não aconteceu e é apenas consequência do “hoje” (que em muitos momentos pode não nos parecer tão feliz), essa válvula acaba sendo as “lembranças selecionadas” do ontem. É como diz a canção: “A gente era feliz e não sabia”!
Eu, finalmente, reconheci o aspecto sombrio desse traço saudosista (aparentemente tão inocente) e decidi fazer diferente. Vou reservar as lembranças aos limites da memória e deixar que elas possuam fluir naturalmente, de vez em quando. Mas sem alimentá-las em devaneios sem utilidade. E daí admitir que tenho apenas o dia de HOJE como um PRESENTE, uma dádiva para ADMINISTRAR e CONSTRUIR minha vida a cada minuto e fazer aquilo que eu quero fazer, da melhor forma possível. Sem procrastinar (por causa disso, perdi meu reisado) e sem esbarrar na melancolia e na beleza plastificada do passado. Pelo menos é assim que vou tentar agir daqui para frente!
Mil Beijos!