sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Lava, lava, lava! Esfrega, esfrega, esfrega!

Minha mãe um dia tentou me convencer de que isso era diversão!

Quando era criança, os brinquedos não eram tão fartos e modernos quanto hoje. A indústria do setor ainda não era bem desenvolvida e a política de importação limitada, deixando para os pais desesperados poucas opções de marcas nacionais que custavam os olhos da cara (Não esqueça a minha Caloi!). Mães contemporâneas, levantem as mãos para o céu e agradeçam às bênçãos trazidas pela sonegação fiscal, pela pirataria e pela Feira da Parangaba. Foram elas que lhes permitiram mimar seus monstrinhos dentro das possibilidades orçamentárias.

Quanto a mim, só restava apelar para a criatividade e construir mobiliário de caixas de fósforo revestidas em papel de pão. Para quem não conhece essa última peculiaridade da aplicação do papel de pão, saiba que seu uso era dos mais versáteis: ia desde embrulho para manteiga vendida em colheradas até borrão substituto de cadernos. É, meu bem, a coisa era preta! Com cinco pestinhas para sustentar, meus pais precisavam fazer malabarismos com o orçamento doméstico. Eles, sim, podem ser chamados de Super Homem e Mulher Maravilha!

Mas às vezes aparecia na vizinhança alguma criança mimada que tinha um exemplar da Barbie, uma bicicleta com cestinha ou alguns trequinhos de plástico. Ahhh! O plástico! Eu demorei a possuir um brinquedo desse material. Hoje minhas sobrinhas se dão ao luxo de palitar os dentes com eles. E dá-lhe aquecimento global!

Bom, dissipado o delírio, voltemos ao assunto. Quando aparecia alguma “criança abastada” em nosso meio, é lógico que ela se tornava a heroína de nossas vidinhas inocentes. Qualquer um que recebesse a graça de ser convidado para brincar com esse coleguinha se sentia feliz e privilegiado.

Numa das vezes, uma amiguinha da qual não recordo o nome (interesseira como sou, lógico que só lembro o que ela tinha) reservou uns “bregueços” para brincarmos de casinha. E fiquei maravilhada com a vassourinha, o rodinho e o baldinho. Passamos a tarde inteira encenando diálogos entre duas donas de casa prendadas envolvidas pelos afazeres domésticos. Tudo tão lúdico e encantador!

Quando acabou a festa, voltei para casa empolgadíssima, contando para minha mãe a novidade. E como toda mãe que se preze, a maquiavélica genitora bolou instantaneamente um plano para aproveitar-se da minha ingenuidade. Começou a falar maravilhas sobre o serviço doméstico, pintando em cores vivas e atraentes a rotina de uma dona de casa. Falou sobre a beleza de encerar um chão até ele refletir o fundo das nossas calças e do orgulho de encher o varal com peças tão alvas que ofuscavam os vizinhos invejosos. E num golpe de misericórdia, “generosamente” me convidou a tomar parte desse universo maravilhoso no âmbito do nosso lar. É sério?! Eu posso mesmo? Nossa, mal posso esperar!

Pois é, caí nessa. Apesar de inteligente e precoce, sempre fui do tipo que acredita em tudo e me empolgo com uma facilidade absurda. E para completar o cenário mágico das minhas ilusões, a sapiente mulher ainda confeccionou um aventalzinho para mim.

No dia seguinte, lá estava eu, com um lenço colorido na cabeça e o bendito avental. Pronta para absorver as delícias da rotina de cuidados com a casa. Comecei com tudo, varrendo o chão e esfregando alguns calções encardidos dos meus irmãos. Meia-hora depois, comecei a achar que a diversão estava demorando demais pra começar. Antes do meio-dia já estava achando aquilo tudo um saco! Não dava mais para fingir empolgação. E tão logo mamãe deu as costas, fugi para a casa da minha tia, uma professora aposentada que tinha uma estante repleta de livros que eu adorava folhear.

A partir de então, o hábito da leitura ficou ainda mais forte. E as desculpas para fugir do serviço doméstico, cada vez mais frequentes, junto com as brigas e reclamações da Dona Sandra. Porque é claro que não fui a única a acreditar que adoraria o trabalho. Tadinha da mamãe! Foi mais ingênua do que uma pirralha de 7 anos.

Nesse contexto, fui crescendo e seguindo um caminho que em nada apontava para o perfil de "Amélia”. Estudar bastante e fazer bicos para faturar uns trocados, eram a minha rotina! Muito moleque da vizinhança salvou-se da reprovação (e de umas boas lapadas) graças às minhas aulas particulares, pagas com dinheiro ou mesmo em troca de uma bobagem qualquer.

Mamãe, revoltada, só vivia prometendo surras (e de vez em quando, até cumpria a ameaça). Quando me via a tarde inteira com a cara enfiada nos livros, gritava da cozinha que eu ainda iria morrer de estudar (dramática!), e que deveria achar uma coisa mais útil pra fazer, como aprender a lavar roupa ou pregar um botão (!!!????). Acreditem, é a mais pura verdade. Enquanto tantos pais dariam um rim para ver seus filhos dedicando-se aos estudos, minha mãe mandava-me procurar algo “de futuro” pra fazer. O que costumava salvar minha pele era o fato de eu compartilhar os dividendos das atividades empreendedoras com a família.

Mas a situação era tão difícil naquela época que hoje compreendo a inversão de valores da nossa matriarca. Durante toda a vida ela só conheceu a dificuldade e a pobreza. Órfã de mãe e abandonada pelo pai, sua existência foi nula em termos de oportunidades e perspectivas. Estudo, ela nunca conheceu. Apenas a força dos próprios braços, no qual empenhava aquilo que sabia fazer: costurar e realizar atividades domésticas. Foi com isso que ela conseguiu escapar da fome e do abandono!

Hoje, felizmente, nós mulheres temos milhões de oportunidades. Podemos estudar, trabalhar, construir uma carreira, adiar e planejar a maternidade... E se dar ao luxo de escolher seguir uma rotina antes permitida apenas aos homens. Infelizmente, o que me entristece, é ver que tantas mulheres tem usado MAL esses privilégios. Confundiram a questão dos “direitos iguais” e procuram imitar os maus hábitos masculinos: tudo aquilo que sempre condenamos. Acham-se no direito de beber em excesso, agir de forma promíscua e irresponsável, porque os machões assim o fazem, portanto podem se permitir as mesmas prerrogativas. Muitas dessas mulheres talvez acreditem que serão jovens e belas para sempre. E não aproveitam seu tempo no sentido de unir, de forma equilibrada e saudável, a diversão, a satisfação pessoal e o crescimento intelectual e profissional. Benefícios justos para os quais tantas feministas deram até mesmo a própria vida para conquistar.

Mas eu acredito no futuro e, principalmente, nas queridas cunhãs. Acho que como uma criança que ganha uma bicicleta e leva vários tombos até aprender a andar, nós ainda estamos meio que na fase de aprender a usar da melhor forma as nossas conquistas. Portanto, umas besteirinhas aqui e ali, até que são perdoáveis. Faz parte! Só não vale repetir a burrada e tornar essas mancadas um hábito frequente e nocivo para a própria vida. Não duvide: quem mais vai sofrer, é você!

Bom final de semana procês!

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