sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Minha boca é um túmulo...

... cheinha de coisa podre por dentro!


Uma piadinha popular conta que duas mulheres ficaram presas durante 20 anos. Ambas enclausuradas na mesma cela, tendo por companhia somente uma a outra. No dia da audiência de libertação, a dupla ouviu atentamente a sentença que as anistiou e, terminada a sessão, uma olhou pra outra e disse: “Mulher, amanhã a gente continua aquele assunto!”.

Ha-Ha! Morri de rir e não achei graça... E pior do que ouvir piadinha machista é ter de engolir estudos científicos corroborando com essa audácia. Uma pesquisa da psiquiatra americana Louann Brizendine (traidora!), divulgou que a mulherada fala cerca de 20 mil palavras por dia, enquanto os homens (preguiçosos e conformistas), falam apenas 7 mil. Mas é claro! Precisamos falar por nós e por eles! Experimenta descontar nessa contagem as infindáveis vezes em que as mulheres, de uma forma altruísta e generosa, pedem as valiosas informações imprescindíveis às tarefas cotidianas que os machões orgulhosos se recusam a perguntar? Pensem na economia de combustível e, consequentemente, na redução dos impactos ambientais que nossa postura humilde, de aceitação da própria ignorância, proporciona? Se dependesse deles, rodariam durante dias só para não dar o braço a torcer. Ora bolas, assim fica fácil, né!

Bom, implicâncias à parte, estive refletindo sobre essa coisa de falar demais. Ou melhor: falar além daquilo que se pode provar (ou que tem alguma utilidade).

Os leitores mais antenados de outras regiões devem saber do pandemônio que se instalou no estado do Ceará há alguns dias, especialmente em Fortaleza e região metropolitana. Sério! Foi um terror! A greve dos militares e a truculência e negligência do governador Cid Gomes transformaram nossa cidade em um caos. Arrastões, assaltos, tiroteios, população apavorada, trabalhadores aterrorizados... um cenário triste! Parecia profecia do Fim do Mundo que ouvia desde criança: marginal na rua e a gente trancado pra sobreviver.

Muitos foram os relatos de violência. Eu mesma tive casos de pessoas bem próximas a mim. Fatos inegáveis. Porém, como sempre, aparece um gaiato para aumentar.

Além dos boatos e dos exageros repetidos pelo povão (em parte, até compreensíveis), o que realmente se destacou nessa história foi a "generosa contribuição" que boa parte da imprensa deu sobre o caso, em “parceria” com internautas.

Claro que na grande rede tudo ocorre muito rápido, instantaneamente. E isso permitiu ao cidadão comum participar e servir como fonte para as notícias, o que coíbe o hábito cara-de-pau dos governantes de minimizarem e até negarem os acontecimentos. Ótimo! Até aí tudo bem, não fosse o fato de que esse desespero para ser o primeiro (e de preferência, o mais sensacionalista e atraente possível) derrubou por terra um hábito constantemente repetido nas faculdades e no meio jornalístico em geral: informação só é informação depois de ter sido processada! Processo esse que inclui a confirmação de aspectos como a cronologia, os protagonistas e a credibilidade das fontes.

O problema é que o tal “processo” de boa parte da imprensa seguiu uma “linha de montagem” bem diferente, baseado na MANIPULAÇÃO dos mesmos aspectos citados anteriormente: a cronologia (foram divulgados como atuais vídeos de violência e arrastões de mais de 5 anos atrás); os protagonistas (anônimos rotulados como criminosos e militares anarquistas conforme sua aparência ou de acordo com visão do editor); e a credibilidade das fontes. O ápice da bagunça ocorreu quando um Trolleiro engraçadinho escreveu no twitter que a Mesbla (é o novo!) e o Romcy (é o novo ao cubo!), ambos fechados há séculos, haviam baixado as portas devido ao arrastão e, pasmem, sites de notícia publicaram a bobagem!

Esse disse-me-disse gerou um círculo vicioso de informações criadas em processo de geração espontânea e, pelo poder de propagação da mídia, acabavam se confirmando. É aquela história: uma mentida contada várias vezes, termina por se tornar verdade. Daí que uma ação pontual ou isolada, tornava-se magicamente uma ação em massa, que por sua vez, eram repetidas como ameaças aos pontos ainda não “atacados”, criando o pânico generalizado na população. E os marginais, claro, adoraram esse clima de oba-oba e fizeram a festa, pegando carona na onda de crimes que parecia não ter limites nem empecilhos. Até eu fiquei com vontade de afanar qualquer coisa, nem que fosse uma caneta BIC, já que o clima de faroeste estava “oficialmente” instalado!

Bom, mas o que nós, pessoas simples, comuns, humildes, pobres porém limpinhas, temos a ver com isso? Só tudo, meu bem! Nós simplesmente A-DO-RA-MOS uma fofoca (e a imprensa sabe e explora isso). Um boato qualquer, um comentário aparentemente inocente (e escancaradamente improcedente), mas que rende um bom assunto durante a pausa para o cafezinho e garante popularidade imediata ao seu portador. Afinal, que mal pode haver comentar com uma colega de trabalho sobre a carona que a “auxiliar-junior-do-assessor-sênior-do-departamento-de-assistência-à-gerência-geral-da-administração” pegou com o chefe depois do trabalho? Nada demais, desde que a coisa acabasse por aí. O problema é que tanto o informante-original, quanto os ouvintes e futuros informantes em potencial podem achar interessante a ideia de ser o centro das atenções. E de repente, se desenterra uma observação sobre o tamanho da saia que ela usou no mês retrasado ou a constatação de que durante o almoço de confraternização de 3 anos atrás, os dois sentaram lado a lado. “Eu lembro bem!” “Eu tenho certeza!” “É verdade, como nunca tinha reparado antes?” “Ah, aqueles dois safados nunca me enganaram!” Bingo! Temos agora uma reputação aos frangalhos e, quiçá, até mesmo um casamento destruído! Duvida? Pois eu APOSTO que você conhece alguma estória sobre um casal que se separou por causa de uma “conversinha” qualquer... Fontes quentíssimas me garantem isso! Ops! Passei dos limites também, né? Quem sou eu para afirmar qualquer coisa. Bom, mas você entendeu o que eu quis dizer...

Só paramos para observar o efeito nocivo das coisas quando eles se tornam generalizados e catastróficos. Mas não paramos para pensar nessas pequenas-grandes “ruínas” que plantamos na vida alheia e até mesmo nas nossas, por causa de uma palavra mal dita (catou agora a origem do termo?). E agora que temos uma pesquisa científica (não é boato) defendendo aquilo que já sabíamos de cor, que tal instalar uma válvula de regulagem na língua antes de falar qualquer coisa com potencial para prejudicar quem quer se seja? Ainda mais se for algo do qual não se tem prova para sustentar, apenas a boa e velha especulação. Falo em especial para as mulheres não porque acredite que os homens não gostem de uma fofoquinha (eles apenas se protegem mais). Mas veja bem: despejar 20.000 palavras por dia (desconfio que falo até mais) torna qualquer mulher partidária de fofocas, uma verdadeira arma de destruição em massa!

Evidentemente que quando escrevo isso, assino minha própria condenação. Pois se fiz essa reflexão e confirmei sua lógica, é claro que imputo a mim uma maior responsabilidade. Pequenos hábitos precedem as grandes ações. E reverter o processo exige esforço e exercício de vigilância constante. Quem disse que seria fácil? Mas cada vez que parecer difícil (e até irresistível) embarcar na onda de uma fofoca, tentemos recordarmos a ocasião em que NÓS, ou alguém que amamos, foi vítima dela. É impressionante o quanto o nosso sofrimento nos aproxima de quem sofre. E essa sensação de dor, impotência e revolta ante uma injustiça certamente se constituirá num freio bem poderoso!

Já falei demais, vou nessa. Depois a gente termina o assunto! Beijos!

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