terça-feira, 25 de outubro de 2011

Luciana Transgênica!

Sei não, mas acho que alguma coisa mudou em mim...

Você sabe que as suas prioridades de vida mudaram por completo quando age contrariando todas as expectativas referentes aos seus hábitos mais recorrentes e previsíveis. Algo tão inóspito e improvável que você, enfim, só acredita que é mesmo verdade porque estava lá, protagonizando os fatos de forma lúcida e de posse de todas as faculdades mentais. Mas se fosse outra pessoa que contasse que você realmente fez aquilo, ainda diria que era mentira da cunhã!

Pois foi isso que me aconteceu hoje à tarde. Estava eu, linda e loira no Shopping para pagar as faturas dos cartões de crédito, naquele momento depressivo e constrangedor que é a hora de tirar dinheiro do bolso para cobrir os rombos do mês. Sim, porque nos momentos de passar o cartãozinho de crédito a cada compra os olhos brilham, a serotonina entra no modo turbo e você se sente a senhora do destino. Isso até chegarem as correspondências (Greve dos Correios maldita, porque tinhas de acabar?) e começar a orar feito uma louca pedindo a Deus para seu cartão ter sido clonado e não ter sido você a verdadeira responsável pela escavação da própria sepultura.

Saindo do banco, passei em frente a uma vitrine e vi um vestido lindo, com todos os itens que o tornam ainda mais apaixonante e irresistível aos meus suscetíveis olhinhos. Estampa floral? Confere! Estilo romântico? Confere! Tecido estruturado? Confere! E ela, a linda, a maravilhosa, a absoluta Steffany rendinha! Fofo demais! Entrei correndo feito uma desesperada na loja, mantendo os olhos fixos no objeto da minha volúvel adoração para não correr o risco de perdê-lo de vista. Esbarrei na coitada da vendedora que, ante meu entusiasmo, trouxe correndo o vestidinho para que eu o experimentasse. No provador, contemplei a imagem da felicidade fugaz. Perfeito! Ao sair, perguntei o preço e a vendedora respondeu: R$ 140,00. Se fosse há algum tempo atrás, isso não faria a menor diferença pra mim. A única coisa que me interessaria saber era em quantas vezes poderia parcelar o mimo, para saber por mais quantos meses permaneceria nas garras do expoente máximo da indústria capitalista. Mas confesso, nem eu mesma me reconheci. Sabe o que eu fiz? Dei praticamente um grito de indignação que assustou a coitada da vendedora: “Tá louca, mulher? Deus me livre, com 140 reais eu pago umas dez sessões de fisioterapia!”. Sim, eu fiz isso. Imediatamente perguntei a mim mesma (dessa vez em silêncio, porque os seguranças já se aglomeravam na entrada da loja): “Quem é você e o que você fez comigo?”.

Foi um choque admitir que não sou mais a mesma. Sério, gente: dois meses de doença conseguiram fazer o que anos e anos de planejamentos, aconselhamentos, dívidas, sufocos e apertos não fizeram. Por isso que dizem que o ser humano gosta mesmo é de sofrer. É porque só aprende com a dor! Sabe lá Deus porque a gente age assim, mas deve ser a mesma lógica que explica os envolvimentos de mulheres lindas e independentes com cafajestes aproveitadores e insensíveis. Ou que explica o fato de o Collor ter voltado ao poder. Vai saber!

Bom, diante dos fatos, resolvi tomar mais uma resolução. E acreditem, não é mais uma daquelas decisões furadas que são desfeitas diante da primeira intempérie. É pra valer, mano! Não vou mais permitir que a vida bata em mim, pelo menos não quando seja eu a própria algoz! Nem vou esperar ter que passar mais uma semana vestindo fraldão geriátrico pra criar vergonha na cara e mudar o que tá errado. Vou priorizar o QUE e QUEM merece! Arrasei! Mas, por via das dúvidas, quando acabarem as sessões de fisioterapia vou dar uma passadinha na loja pra ver se o vestidinho ainda está lá. E se por acaso não rola um descontinho depois de algumas semanas de exposição, né? Ninguém é de ferro!

Beijo da gorda, uôu!

domingo, 23 de outubro de 2011

Retalhos tão pequenos de nós dois...

Meu auto-retrato. À venda na feira livre mais perto de você!
Oi, gente, tudo bom com vocês?

Domingo especial, dia de prova de redação do ENEM. Milhões de jovens, nesse instante, martelam suas cabecinhas e quanto a mim, estou aqui, sobre a minha cama ortopédica, refletindo sobre a morte da bezerra. Para diminuir o tédio, abri o guarda-roupa e fui dar uma arrumada nas seiscentos e oitenta e quatro peças de roupa entupidas nos estreitos espaços do sofrido móvel. Acho até que algumas já se fundiram e geraram outras peças novas, derivadas da síntese de estampas e tecidos. É a natureza achando um jeito de se adaptar às leis da física.

Pecinha vai, pecinha vem, encontrei uma saia feita pela minha mãe há pouco tempo e que eu nunca usei. Minha mãe é uma exímia costureira. Mas os tempos modernos aposentaram seu talento. Hoje ninguém mais manda fazer roupa, coisa que era super comum há alguns anos atrás. Quando eu era criança vivia desfilando looks novos na escola, numa época em que para se definir um visual só bastava que a roupa fosse bonita. Hoje, a roupa é medida pela marca. A pessoa se sente o máximo vestindo uma camiseta de algodão com strech (o vulgo “cotton”) que marca os pneuzinhos que existem até no períspirito e que na frente traz estampado um outdoor enorme com uma palavra que, para mim, parece ser o nome de um selo ou de uma empresa de entrega de correspondência. E detalhe: tem que trazer do avesso uma etiqueta reluzente do tamanho de uma folha de caderno, para que o feliz proprietário possa mostrar aos amigos que aquela camiseta é a original que custa 100 reais, e não uma réplica idêntica (e igualmente feia) vendida no camelódromo por 15 reais a baciada.

Mas gosto é gosto e é melhor eu calar a boca senão corro o risco de ser espancada por adolescentes enfurecidas. E voltando a história da saia da mamãe, ela me despertou profundos sentimentos de culpa. Sim, porque se tem uma coisa que mãe sabe fazer como ninguém é fazer um cristão se sentir culpado. Você pode estar super alto astral, feliz e saltitante até que cai na besteira de dar uma passadinha na casa dela pra matar a saudade. Cinco minutos depois ela aparece com um prato cheio de comida, desses que você só sabe que existe mesmo um prato quando coloca a mão embaixo para segurar. Então, você ingenuamente e despretensiosamente responde: “Não, mãe, quero não, eu já jantei!”. *PAUSA – SUSPENSE - FUNDO MUSICAL DRAMÁTICO*. Proferidas essas palavras apocalípticas, ela te devolverá um olhar de dó, resultado de anos de treinamento em manipulação de seres humanos, e responderá quase num gemido: “Tudo bem, só achei que você estava com fome!”. Aí, mermão, não tem mais jeito. Perdeu, playboy! Se não quer ser torturado pela culpa pelo resto dos seus dias, pegue imediatamente esse prato (na verdade, nunca deveria ter recusado) e coma tudo com uma expressão de felicidade no rosto e sem perder a paciência durante as 50 vezes em que ela vai perguntar se está gostoso.

Mas desculpe o meu devaneio, vocês já devem estar acostumados... Era só para vocês terem uma noção do que senti quando vi a tal saia. Eu explico. Como minha mãe ainda não superou o fato de ter sido preterida à indústria têxtil multinacional, ela continua costurando quase todos os dias, numa máquina bem simples, e vive presenteando filhos, irmãos, netos e vizinhos com suas produções. Como a atividade não gera lucro, a matéria prima é feita de tecidos baratinhos, retalhos em sua maioria, que ela compra no quilo. Minhas sobrinhas, ainda envolvidas pelo véu mágico da ignorância infantil (tempos felizes), adoram os vestidinhos que parecem empanadas de circo. Quanto a nós, filhos já adultos, é um pouco mais complicado... E a minha mãe quando encontra uma estampa de que ela goste, compra toneladas desse retalho e faz milhares e milhares de peças que só se diferenciam pela posição dos pedados da estampa. Da última vez que isso aconteceu ela fez 3 saias pra minha tia, 2 vestidos para minha prima, 4 shorts para meus irmãos, 3 camisetas para o meu cunhado, 2 para meu marido e, é claro, a tal saia pra mim. Eu brinco, dizendo que é a “maldição da estampa” que se espalha pelo mundo. Lógico que não digo isso na frente dela, mas já virou piada interna dentro da família. Sorte minha que mamãe não acessa a Internet.

Mas quando vi os pedacinhos que formavam a minha saia, fiquei pensando em como ela se assemelha a mim (com uma diferença: eu sou bonita!). Sim, porque eu me vejo como uma colcha de retalhos. Acabo de sair de uma experiência profissional inteiramente nova, exercendo uma função que nunca na vida pensei em fazer. E que, modéstia à parte, cumpri muito bem, mesmo tendo enfrentando extrema insegurança no início, pois acreditava que não daria conta. E rememorando minha trajetória profissional, percebi que ela foi toda marcada por essa peculiaridade. Já fiz tanta coisa que às vezes parece difícil acreditar que só tenho 30 anos. Claro que foi algo bom, que prova a minha capacidade de aprendizado, adaptação e coragem para enfrentar desafios. Mas por outro lado, denuncia a minha falta de foco! Muitas vezes me sinto como se eu fosse tudo isso e, ao mesmo tempo, não fosse nada. E talvez seja essa a razão da minha angústia e insegurança.

O fato de eu dividir isso com vocês é porque o ser humano, em sua extrema solidão, costuma acreditar que é o único no mundo a passar por tal situação. E talvez não seja! Vai ver que você aí, do outro lado, se sente do mesmo jeito. Ou, quem sabe, já se sentiu. E de um jeito ou de outro superou. Ou simplesmente se adaptou. Sabe lá!

Da minha parte, decidi aproveitar essa entresafra pra refletir e me descobrir. Claro que essa experiência seria bem mais charmosa e agradável se eu fizesse igual a Julia Roberts e viajasse pelo mundo inteiro. Mas paciência, vou ter que me conformar em fazer isso percorrendo o caminho entre a sala e o quarto mesmo. No final das contas, a resposta está sempre dentro da gente.

Bom, vou começar a descosturar esses retalhos pra ver o que eu descubro. Mas não da saia, é claro. Quanto a ela, prefiro aproveitar pra ganhar alguns pontos com a mamãe e vesti-la para visitá-la mais tarde. E claro, vou ficar sem comer a partir de agora, senão eu até evito o peso da culpa, mas em compensação, ganho uns quilos a mais na balança.

Beijos, bom domingo!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Humor Afrodescendente!

Huahuahuahua Se LASCOU!!!!!
Boa noite, pessoas

A escolha do título reflete uma preocupação justificada em tempos onde o politicamente correto atingiu o status de manchete. Porque meu bem, do jeito que a minha situação tá braba, tudo que eu menos preciso neste momento é de um processo. Aliás, curioso associar aquilo que seria considerado de valor ético e moral ao termo “político”, já que o sistema, em sua acepção mais literal, é conhecido por adjetivos nada positivos. Mistérios da nossa língua portuguesa, vai entender!

Acho que todo mundo sabe da polêmica entre o comediante Rafinha Bastos e a cantora Wanessa Camargo, depois daquele desastroso comentário que o apresentador do CQC fez durante o programa ao vivo, referindo-se de forma pejorativa, grosseira e imoral à moça e à criança que está para nascer.
Muita gente, é evidente, se chocou com a declaração ou, no mínimo, considerou-a desnecessária. Mas o assunto só repercutiu mesmo, e de certa forma até tomou outros rumos, quando a cantora divulgou o processo que pede não apenas a indenização pela ofensa, como também a prisão do “humorista”.

Nas mídias sociais e na Internet em geral, pipocaram protestos, acusações de exagero, comparações entre a situação do comediante com a de políticos impunes e interpretações deturpadas sobre o direito à liberdade de expressão. Fofoqueiros profissionais de blogs famosos e afins, com sua língua ferina, não tardaram a alegar os pretensos benefícios que a cantora (que vinha sofrendo um certo ostracismo) colheu com a repercussão em torno do caso. E, enquanto isso, na sala de justiça, Rafinha Bastos fazia piada e com sua atitude irônica e debochada, engrossava o coro de fãs e solidários à sua causa. Tadinho dele, né!

Agora, acabei de ler um comunicado oficial de Wanessa Camargo, onde ela esclarece as razões de seu posicionamento e fala abertamente sobre os sentimentos que a ofensa lhe despertou. Sentimentos de mãe, de mulher e óbvio, de artista e pessoa pública que vive da própria imagem (porque existe quem a compre, simples assim). Achei interessante a forma como ela expôs seus motivos, principalmente quando diz que seu objetivo não era o dinheiro ou ver o rapaz atrás das grades, mas sim, que esperava arrependimento. Coisa que em momento algum Rafinha Bastos sequer sinalizou. Deboche e sarcasmo foram a forma tão peculiar escolhida para lidar com o assunto. Eu acredito, sinceramente, na Wanessa quando diz isso. Não tenho simpatia, nem pela pessoa (que para mim, é neutra) nem pela artista (que não faz meu gênero musical). Mas procurei enxergar seu comentário comparando-a com um ser humano, que afinal de contas, é o que ela é: igual a mim ou a você. E quantos de nós, no decorrer da vida, não teríamos evitado conflitos ou relevado ressentimentos se, diante de uma ofensa, o agressor tivesse pelo menos demonstrado o mínimo de arrependimento? Pode não ser um exemplo de humildade ou abnegação, mas como seres humanos, com defeitos e falhas, esperamos, sim, pelo menos um pedido de desculpas, que muitas vezes é mais eficiente do que qualquer outra demonstração efusiva, porém vazia. Um simples reconhecimento sincero do próprio erro, muitas vezes é o bastante!

Mas Rafinha Bastos não precisa disso. É um “profissional” bem cotado, está sempre na mídia. Sua rescisão antes do prazo de contrato representaria para ele uma multa milionária e, é claro, a oportunidade de aceitar o convite para trabalhar em qualquer emissora que disputasse seu passe. Afinal, platéia ele já tem, porque se tem alguém que saiu ganhando nessa história não foi a cantora, mas sim, o apresentador.

Não vejo graça alguma em certas piadas de humor negro (pronto, falei! Me processem). Claro que existem exageros. Tem uma turminha que adora censurar aquilo que lhe é conveniente. Mas também tem muita gente que, com a desculpa de não estarem agindo com HIPOCRISIA, se acham em pleno direito de denegrir, rebaixar, achinchalar, fazer piada e ainda ganhar dinheiro com o sofrimento e a desgraça alheia. Humor barato, daquele que chama um gordo de... gordo (quanta criatividade) e com isso arranca gargalhadas fáceis da galera. Esqueceram só de perguntar pro gordo se ele, por acaso, achou graça na brincadeira.

Tem gente que justifica esse comportamento dando lição de auto-ajuda e diz que é preciso ser mais bem-humorado, aprender a rir das próprias desventuras. Acontece que essa é uma questão de foro íntimo e só cabe a cada um descobrir e decidir o momento pra fazer isso. O seriado “Todo Mundo Odeia o Chris” reflete essa situação. O narrador da série, o comediante americano Chris Rock, encontrou um jeito bem humorado para relatar suas duras experiências de vida, temperadas de discriminação, dificuldades e injustiças. E ainda ganhou dinheiro com isso. Mas veja bem: hoje, Rock é uma celebridade rica, transformou as dificuldades em motivação, superou todos os obstáculos e venceu. Mas duvido que na época real dos acontecimentos, ele achasse aquela situação cômica.

O nosso problema é que ainda não aprendemos a nos colocar no lugar dos outros. Pensem na situação da PESSOA Wanessa Camargo: uma mulher jovem, esperando o primeiro filho, certamente já envolvida pelos sentimentos da maternidade, emocionalmente suscetível, de repente, assiste na TV ou, o que é pior, é avisada pelos amigos e conhecidos de que um sujeito que mal a conhece, disse ao vivo, para milhões de pessoas, que “comeria ela e o bebê”. E ainda afirma que fez um elogio! Tipo aquele outro comentário que ele fez durante um show de stand up onde afirmou que uma mulher estuprada deveria se sentir feliz, porque as vítimas geralmente são feias e, portanto, deveriam agradecer pela"caridade" que lhes foi feita. Agora pensem no trauma irreparável que sofre uma mulher vítima de abuso sexual, que precisa carregar para sempre a memória dessa violência, ver sua repulsa e sua indignação reavivadas pelo descontrole verbal de um verdadeiro delinqüente, que é o que considero ser esse rapaz. Um sujeito que se diz tão inteligente, deveria pelo menos ter a capacidade de criar meios mais eficientes e menos idiotas de fazer rir.

Claro que ninguém nesse mundo é 100% politicamente correto. A gente sonega imposto, adora ver um barraco na TV, acompanha os mexericos da vizinhança e ri quando um pobre coitado leva um tombo no meio da rua (eu, na hora, até que me agüento bem e ainda corro pra ajudar. Mas depois, rio até não poder mais e ainda conto pra todo mundo). Enfim, ainda estamos BEMMMMM longe de nos considerarmos éticos e honestos. Mas tudo tem limites e certos exageros devem, sim, ser coibidos. Ainda mais quando envolve algo tão precioso quanto o riso. Que seja sim, engraçado. Desde que não seja fruto da humilhação extrema e depreciação alheia. Coloque-se no lugar do depreciado e verá que não tem a menor graça!

Beijos,

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mas tinha de ser o Chaves mesmo!


Ninguém tem paciência comigo...
Tem gente que não entende a razão da minha obsessão pelo Homem do Baú. Ultimamente o pobrezinho tem sido vítima de comentários maldosos, sempre citado pela mídia como velhinho sem-vergonha e safadinho. Tudo por causa de episódios como o da “Caneta Especial”, protagonizado recentemente ao lado da Mulher Melão. Bobagem! Para mim, Sílvio Santos está acima do bem e do mal. Transita entre a nata artística e a banda podre das sub-celebridades com uma naturalidade desconcertante, capaz de deixar sem jeito até gente do naipe escrachado da Dercy Gonçalves.

Mas meu respeito vem, acima de tudo, pela inteligência e visão empreendedora do apresentador. Quando Senor Abravanel bater as botas, não vai sobrar nada do SBT, porque só ele mesmo pra segurar aquela zona. Ontem mesmo eu estava assistindo ao Chaves e fiquei pensando sobre o assunto. Sim, porque é impressionante o poder magnético que aquele seriado exerce sobre nós, seres humanos. Você já pode ter visto o episódio trezentas mil vezes, saber de cor e salteado as falas, e mesmo assim, ainda ri das piadas tão previsíveis e infantis. E Chaves conseguiu se estabelecer no mesmo patamar do Sílvio: acima de tudo e de todos. Porque o humor, embora dotado de uma simplória ingenuidade, não tem absolutamente nada do “politicamente correto” tão exigido nos dias de hoje. Dizem que nunca o cargo de assessor de imprensa foi tão valorizado no meio artístico, porque com a marcação cerrada da “patrulha da moral”, cada palavra, cada frase, cada ato tem de ser muito bem calculado e analisado para não dar margem a interpretações radicais, que beiram às acusações heréticas. Na vila do Chavinho rola sopapos em crianças e a mentira come solta. Algo que poderia ser facilmente classificado como “péssimo exemplo” para a criançada. Mas que apesar de tudo, ainda não foi alvo de tais cobranças. E o mais interessante é que dizem que na ocasião do pré-lançamento da série, no ano de 1500, o Seu Sílvio reuniu toda a alta cúpula de diretores e executivos da emissora para assistir a um episódio e darem a sua nota. Todo mundo deu zero, com exceção de uma alma generosa que deu 1. Mesmo assim, o visionário bateu o pé e manteve a decisão de lançar. Bingo! Passados tantos anos, Chaves continua dando surra de audiência até no comportado Jornal Nacional.

Mas a minha visão adulta hoje me permite enxergar certas coisas no programa que antes eu não via. Por exemplo, aquilo lá é muito mais confuso do que a gente imagina. Tem um malandro preguiçoso frustrado, que volta e meia desconta sua ira contida no cocoruto do protagonista; uma menina mentirosa, cruel e ardilosa, que vive colocando os outros em encrenca; um garoto mimado e egoísta, incapaz de sentir empatia por ninguém; uma mulher briguenta e mal amada, eternamente à espera de um professor megalomaníaco e indeciso; e no meio desse bolo todo, tem o saco de pancadas do Chaves, que mesmo levando a culpa por tudo de ruim que acontece, permanece humilde e impassível em sua jornada em busca do lendário sanduíche de presunto.

Comparando com a vida da gente, não é difícil fazer algumas associações. Os personagens podem ser caricaturas de nós mesmos e de pessoas com quem convivemos. E a mania que eles tem de atribuir seus fracassos e dissabores ao sujeito mais fraco da estória, também revela um lado assombrosamente humano. Afinal, é muito mais fácil jogar a culpa em quem não tem nem QUEM e nem COMO se defender, do que assumir sua parcela de responsabilidade e o compromisso de corrigi-las.

Um clichê familiar é aquela velha história de que PAPAI e MAMÃE são os culpados pelas nossas fraquezas. Na lista de queixas, discursos do tipo “Nunca fui amado, papai nunca ligou pra mim”, disputam lado a lado com “Fui amado demais, mamãe permitiu que eu fizesse tudo”. E haja lamentação e transferência de encargos. O que talvez pouca gente pare para analisar são histórias reais de pessoas que fizeram o caminho inverso e adotaram uma atitude contrária ante um destino que parecia inevitável. Não falo apenas daqueles casos emocionantes de superação, de gente que enfrentou extremas dificuldades e ainda assim saiu vitorioso, como o do morador de rua que conseguiu passar num concurso público. Refiro-me ainda a outras situações, digamos, menores e menos óbvias. Como da mãe amorosa e dedicada, que embora tenha tido a desventura de nascer do ventre de uma genitora desnaturada e displicente, decidiu não imputar aos seus filhos o mesmo sofrimento e curou sua mágoa aplicando o exemplo prático do amor. Ou daquele homem íntegro e correto que durante a infância, mesmo compartilhando com a mãe e os irmãos a convivência com um homem alcoólatra e violento, desde cedo decidiu que não seria uma réplica do pai e hoje construiu um lar equilibrado, onde provê a família com trabalho e afeto, respeitando e honrando a esposa, a quem só trata com muito carinho. O que essas pessoas tem de diferente? Porque elas, apesar dos pesares, não repetem esse discurso previsível que justifica as falhas no comportamento alheio? É simples: elas tomaram uma decisão positiva. A tal da pro-atividade, tão comentada nos dias atuais. Ao invés de focar nas causas, nas razões, elas miraram seus esforços nos efeitos e nas consequências. Não perderam tempo imaginando o porque de serem vítimas de tamanha desventura. Direcionaram seus objetivos de vida no sentido de não agirem da mesma forma e assim, se libertarem definitivamente do martírio. Porque se efetivamente somos o que pensamos, é fácil deduzir que quanto mais rememoramos as tristezas e buscamos culpados, mais nos mantemos presos àquela situação que tanto nos maltrata. Além disso, a coisa mais fácil que existe no mundo é jogar a batata quente nas mãos alheias. Difícil é tentar descascá-la. Quantas das situações das quais nos enxergamos como vítimas, se fossem friamente analisadas, não enxergaríamos a NOSSA parcela de culpa? Seja por inconseqüência, seja por inatividade, seja por falta de coragem de mudar. Seja até mesmo pela tentativa inútil de tentar construir um relacionamento saudável com quem simplesmente não quer a nossa presença e não está nem um pouco interessado em retribuir nossas mais sinceras demonstrações de amizade. Não seria melhor admitir que o outro não quer isso (o que não deixa de ser um direito dele) e parar de desperdiçar tempo e energia enxugando gelo?

O Chaves não é tão coitadinho assim. Pois não obstante as demonstrações de grosseria e inimizade, ele continua ali, disponível, embora ninguém até agora tenha sequer lhe dado esperanças de presenteá-lo com um sanduíche de presunto. O bobo continua acreditando nas mentiras e mostrando-se prestativo àqueles que lhe fazem mal. Uma visão distorcida poderia chamar isso de humildade, quando na verdade, está mais para burrice e servilismo tolo.

Para perdoar, é preciso seguir em frente. E para seguir em frente, É PRECISO VIRAR A PÁGINA. Chega de desperdiçar energia procurando justificativas e se lamuriando pela maldade alheia. “O que foi que eu fiz pra merecer isso”, “Onde eu errei”, “Mas porque ninguém tem paciência comigo?”... É melhor admitir como as coisas são, ver até onde VOCÊ foi responsável pelos abusos que sofreu e escrever outro caminho, outra história. Ao final da jornada você certamente se sentirá mais livre e quando menos perceber, nem lembrará mais daquele que um dia foi o centro das suas lamentações. "Sem querer querendo", surpreenderá a si mesma e a todos, pois afinal de contas, “não contavam com a sua astúcia!”

Beijos da Lulu!

domingo, 2 de outubro de 2011

A Velha em cima da cama!


Eu também fui uma criança aterrorizada por essa musiquinha das trevas!
Não, o título não está errado. Só estou fazendo um trocadilho, comparando meu atual estado de saúde com a música “A velha debaixo da cama”. Eu não sei quanto a vocês, mas quando criança tinha verdadeiro pavor só de ouvir essa canção. Devido à forma como as frases eram cantadas, eu acabava entendendo a letra errado. Ou seja, ao invés de compreender que a velha criava bichos sob seu leito, entendia que a era a própria quem morava embaixo da cama. Some-se a isso o fato de ter vivido minha infância nos longínquos e politicamente incorretos ANOS 80, quando um dos ídolos cinematográficos e livres de censura era o terrível Freddy Krueger, e levando ainda em consideração a minha mente exagerada e impressionada, fica fácil entender o porque das minhas noites insones imaginando que uma mão enrugada e caquética surgia por baixo do colchão para me arrastar para as trevas subterrâneas e sombrias, cheias de dor e desespero. Trágico!

Mas felizmente o tempo e a maturidade me fez desmistificar tais simbologias, quando compreendi o real sentido da letra. Mesmo assim fiquei feliz ao descobrir que até no Orkut tem uma comunidade que congrega outros seres indefesos que também foram brutalmente aterrorizados. A comunidade é MEDO DA VELHA DEBAIXO DA CAMA. Com 91 membros, é um prato cheio para os psicólogos de plantão. Turma do Freud, tão perdendo tempo, viu! Vambora agilizar e mandar SPAM oferecendo serviços de análise pra esse povo todo porque afinal de contas, ultimamente o Orkut só tem servido pra isso mesmo. Nem só de cortesias de forró e swingeira vive o finado site de relacionamento.

Bem, continuando, fora o fato de eu estar há mais de um mês sofrendo de dores atrozes na coluna que me obrigam a ficar longe das coisas que adoro (shopping, cerveja, faculdade, trabalho, bullying, fuxico, não necessariamente nessa mesma ordem), hoje me sinto mais depressiva do que o de costume por ser domingo. Na TV, que deveria entreter, só passam coisas que te deixam mais pra baixo. Começa logo pela manhã, com o Lúcio Brasileiro falando daquele jeito tão peculiar, num ritmo repleto de entusiasmo e agitação: dá até vontade de voltar a dormir. Depois, tem o Gugu dando aquelas casas belíssimas pra aquele povo sortudo de uma figa. E pra finalizar, a musiquinha do Fantástico, a trilha sonora da síndrome pré-depressão das segundas-feiras. Como se tudo isso não bastasse, hoje ainda precisei assistir uma reportagem sobre uma velhinha canadense de 92 anos que é uma atleta profissional. Enquanto eu me contorço de dores e preciso de ajuda para percorrer os centímetros que separam o quarto da sala, a vovó simplesmente pratica atletismo, arremesso de peso, de dardos e até musculação! Um monte de coisas que doem em mim só de olhar ela fazer. E a mulher tem mais que o triplo da minha idade! É dose.

Mas deixando de lado a minha inveja, é realmente maravilhoso ver uma pessoa nessa idade demonstrar tanta força e vitalidade. Contribui para uma mudança de pensamento, de paradigmas, nos faz rever conceitos enraizados, “certezas” que a gente tem sobre os idosos. E o mais surpreendente é que a Vovó Olga (como é conhecida) só começou a praticar esporte aos 77 anos. Em outras palavras, ainda resta esperança para mim. Claro que não é uma coisa que você faz de uma hora pra outra. Eu, por exemplo, me empolguei com a reportagem e fui inventar de imitar a Shakira escondida na cozinha. O que ganhei foi um “mau jeito” do lado esquerdo das costas e voltei triste e desconfiada pro quarto, com cara de choro. Meu marido certamente não desconfiou de nada, só ficou com pena por ver a minha expressão de derrota.

Mas voltando à história da velhinha porreta, lembrei também que ontem foi o Dia do Idoso. E decidi aproveitar o ensejo para expressar sincera admiração e respeito a todos os vencedores que alcançaram essa etapa da vida e, sobretudo, a essa nova geração de “velhos” que vem buscando a cada dia um envelhecimento mais digno, saudável e ativo. Vendo senhores e senhoras com seus 60, 70, 80 anos dançando forró, praticando atividades físicas e até namorando, tenho que admitir: eles não tem nada de velhos. Velha sou eu, que nem andar mais direito posso. Velha é essa nossa geração acostumada com todo tipo de comodidade, que prefere passar duas horas procurando o controle remoto do que ter coragem pra levantar e mudar de canal; que por falta de paciência pra esperar até que um miojo fique pronto em três minutos, liga pro disk pizza e se empanturra de calabresa com catupiry; que gasta uma grana com TV a cabo e vídeos games modernos só pra manter os filhos “ocupados” dentro de casa e assim, “evitar a fadiga” de ter que levá-los para extravasar a energia numa caminhada ou passeio no parque. Esse estilo de vida, cheio de parafernálias tecnológicas, é o que tem gerado crianças, jovens e adultos cada vez mais obesos e sedentários. Fracos, doentes, desanimados, vivendo como autômatos programados para trabalhar, estudar, comer, dormir e ter muito, muito sucesso (não sei pra que, do que adianta ter dinheiro e viver doente). Os momentos de diversão geralmente se resumem à baladas onde se comete todo tipo de excesso: desde o tamanho do salto até a quantidade de whisky. E não tô dando lição de moral em ninguém, não. Estou fazendo uma dolorosa constatação observando a minha realidade e a de muita gente ao meu redor. E admitir essa realidade só me fez aumentar a admiração pelos idosos, que vem nos dando verdadeiras lições de vida. Lições de como viver a vida. Justo eles, que pelo menos em tese, dispõem de menos tempo do que nós. Mas, afinal, o que é o tempo? Do que adianta a passagem dos dias, horas, meses e anos sob o ponto de vista de um observador passivo e inerte? TEMPO É O QUE A GENTE FAZ COM ELE! E por isso eu tiro o chapéu pra essa FELIZ IDADE, ativa e disposta, que aproveita bem o seu tempo. Por isso, deixo meus parabéns pelo Dia do Idoso. Temos muito a aprender com eles. Essa noite, vou até puxar um papo com a velha debaixo da cama. Quem sabe ela realmente me arraste pra um lugar bem mais divertido e interessante do que esse leito frio e apático que só cheira à mofo e enfermidade.

Beijão pra todos!