Huahuahuahua Se LASCOU!!!!! |
Boa noite, pessoas
A escolha do título reflete uma preocupação justificada em tempos onde o politicamente correto atingiu o status de manchete. Porque meu bem, do jeito que a minha situação tá braba, tudo que eu menos preciso neste momento é de um processo. Aliás, curioso associar aquilo que seria considerado de valor ético e moral ao termo “político”, já que o sistema, em sua acepção mais literal, é conhecido por adjetivos nada positivos. Mistérios da nossa língua portuguesa, vai entender!
Acho que todo mundo sabe da polêmica entre o comediante Rafinha Bastos e a cantora Wanessa Camargo, depois daquele desastroso comentário que o apresentador do CQC fez durante o programa ao vivo, referindo-se de forma pejorativa, grosseira e imoral à moça e à criança que está para nascer.
Muita gente, é evidente, se chocou com a declaração ou, no mínimo, considerou-a desnecessária. Mas o assunto só repercutiu mesmo, e de certa forma até tomou outros rumos, quando a cantora divulgou o processo que pede não apenas a indenização pela ofensa, como também a prisão do “humorista”.
Nas mídias sociais e na Internet em geral, pipocaram protestos, acusações de exagero, comparações entre a situação do comediante com a de políticos impunes e interpretações deturpadas sobre o direito à liberdade de expressão. Fofoqueiros profissionais de blogs famosos e afins, com sua língua ferina, não tardaram a alegar os pretensos benefícios que a cantora (que vinha sofrendo um certo ostracismo) colheu com a repercussão em torno do caso. E, enquanto isso, na sala de justiça, Rafinha Bastos fazia piada e com sua atitude irônica e debochada, engrossava o coro de fãs e solidários à sua causa. Tadinho dele, né!
Agora, acabei de ler um comunicado oficial de Wanessa Camargo, onde ela esclarece as razões de seu posicionamento e fala abertamente sobre os sentimentos que a ofensa lhe despertou. Sentimentos de mãe, de mulher e óbvio, de artista e pessoa pública que vive da própria imagem (porque existe quem a compre, simples assim). Achei interessante a forma como ela expôs seus motivos, principalmente quando diz que seu objetivo não era o dinheiro ou ver o rapaz atrás das grades, mas sim, que esperava arrependimento. Coisa que em momento algum Rafinha Bastos sequer sinalizou. Deboche e sarcasmo foram a forma tão peculiar escolhida para lidar com o assunto. Eu acredito, sinceramente, na Wanessa quando diz isso. Não tenho simpatia, nem pela pessoa (que para mim, é neutra) nem pela artista (que não faz meu gênero musical). Mas procurei enxergar seu comentário comparando-a com um ser humano, que afinal de contas, é o que ela é: igual a mim ou a você. E quantos de nós, no decorrer da vida, não teríamos evitado conflitos ou relevado ressentimentos se, diante de uma ofensa, o agressor tivesse pelo menos demonstrado o mínimo de arrependimento? Pode não ser um exemplo de humildade ou abnegação, mas como seres humanos, com defeitos e falhas, esperamos, sim, pelo menos um pedido de desculpas, que muitas vezes é mais eficiente do que qualquer outra demonstração efusiva, porém vazia. Um simples reconhecimento sincero do próprio erro, muitas vezes é o bastante!
Mas Rafinha Bastos não precisa disso. É um “profissional” bem cotado, está sempre na mídia. Sua rescisão antes do prazo de contrato representaria para ele uma multa milionária e, é claro, a oportunidade de aceitar o convite para trabalhar em qualquer emissora que disputasse seu passe. Afinal, platéia ele já tem, porque se tem alguém que saiu ganhando nessa história não foi a cantora, mas sim, o apresentador.
Não vejo graça alguma em certas piadas de humor negro (pronto, falei! Me processem). Claro que existem exageros. Tem uma turminha que adora censurar aquilo que lhe é conveniente. Mas também tem muita gente que, com a desculpa de não estarem agindo com HIPOCRISIA, se acham em pleno direito de denegrir, rebaixar, achinchalar, fazer piada e ainda ganhar dinheiro com o sofrimento e a desgraça alheia. Humor barato, daquele que chama um gordo de... gordo (quanta criatividade) e com isso arranca gargalhadas fáceis da galera. Esqueceram só de perguntar pro gordo se ele, por acaso, achou graça na brincadeira.
Tem gente que justifica esse comportamento dando lição de auto-ajuda e diz que é preciso ser mais bem-humorado, aprender a rir das próprias desventuras. Acontece que essa é uma questão de foro íntimo e só cabe a cada um descobrir e decidir o momento pra fazer isso. O seriado “Todo Mundo Odeia o Chris” reflete essa situação. O narrador da série, o comediante americano Chris Rock, encontrou um jeito bem humorado para relatar suas duras experiências de vida, temperadas de discriminação, dificuldades e injustiças. E ainda ganhou dinheiro com isso. Mas veja bem: hoje, Rock é uma celebridade rica, transformou as dificuldades em motivação, superou todos os obstáculos e venceu. Mas duvido que na época real dos acontecimentos, ele achasse aquela situação cômica.
O nosso problema é que ainda não aprendemos a nos colocar no lugar dos outros. Pensem na situação da PESSOA Wanessa Camargo: uma mulher jovem, esperando o primeiro filho, certamente já envolvida pelos sentimentos da maternidade, emocionalmente suscetível, de repente, assiste na TV ou, o que é pior, é avisada pelos amigos e conhecidos de que um sujeito que mal a conhece, disse ao vivo, para milhões de pessoas, que “comeria ela e o bebê”. E ainda afirma que fez um elogio! Tipo aquele outro comentário que ele fez durante um show de stand up onde afirmou que uma mulher estuprada deveria se sentir feliz, porque as vítimas geralmente são feias e, portanto, deveriam agradecer pela"caridade" que lhes foi feita. Agora pensem no trauma irreparável que sofre uma mulher vítima de abuso sexual, que precisa carregar para sempre a memória dessa violência, ver sua repulsa e sua indignação reavivadas pelo descontrole verbal de um verdadeiro delinqüente, que é o que considero ser esse rapaz. Um sujeito que se diz tão inteligente, deveria pelo menos ter a capacidade de criar meios mais eficientes e menos idiotas de fazer rir.
Claro que ninguém nesse mundo é 100% politicamente correto. A gente sonega imposto, adora ver um barraco na TV, acompanha os mexericos da vizinhança e ri quando um pobre coitado leva um tombo no meio da rua (eu, na hora, até que me agüento bem e ainda corro pra ajudar. Mas depois, rio até não poder mais e ainda conto pra todo mundo). Enfim, ainda estamos BEMMMMM longe de nos considerarmos éticos e honestos. Mas tudo tem limites e certos exageros devem, sim, ser coibidos. Ainda mais quando envolve algo tão precioso quanto o riso. Que seja sim, engraçado. Desde que não seja fruto da humilhação extrema e depreciação alheia. Coloque-se no lugar do depreciado e verá que não tem a menor graça!
Beijos,
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