terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mas tinha de ser o Chaves mesmo!


Ninguém tem paciência comigo...
Tem gente que não entende a razão da minha obsessão pelo Homem do Baú. Ultimamente o pobrezinho tem sido vítima de comentários maldosos, sempre citado pela mídia como velhinho sem-vergonha e safadinho. Tudo por causa de episódios como o da “Caneta Especial”, protagonizado recentemente ao lado da Mulher Melão. Bobagem! Para mim, Sílvio Santos está acima do bem e do mal. Transita entre a nata artística e a banda podre das sub-celebridades com uma naturalidade desconcertante, capaz de deixar sem jeito até gente do naipe escrachado da Dercy Gonçalves.

Mas meu respeito vem, acima de tudo, pela inteligência e visão empreendedora do apresentador. Quando Senor Abravanel bater as botas, não vai sobrar nada do SBT, porque só ele mesmo pra segurar aquela zona. Ontem mesmo eu estava assistindo ao Chaves e fiquei pensando sobre o assunto. Sim, porque é impressionante o poder magnético que aquele seriado exerce sobre nós, seres humanos. Você já pode ter visto o episódio trezentas mil vezes, saber de cor e salteado as falas, e mesmo assim, ainda ri das piadas tão previsíveis e infantis. E Chaves conseguiu se estabelecer no mesmo patamar do Sílvio: acima de tudo e de todos. Porque o humor, embora dotado de uma simplória ingenuidade, não tem absolutamente nada do “politicamente correto” tão exigido nos dias de hoje. Dizem que nunca o cargo de assessor de imprensa foi tão valorizado no meio artístico, porque com a marcação cerrada da “patrulha da moral”, cada palavra, cada frase, cada ato tem de ser muito bem calculado e analisado para não dar margem a interpretações radicais, que beiram às acusações heréticas. Na vila do Chavinho rola sopapos em crianças e a mentira come solta. Algo que poderia ser facilmente classificado como “péssimo exemplo” para a criançada. Mas que apesar de tudo, ainda não foi alvo de tais cobranças. E o mais interessante é que dizem que na ocasião do pré-lançamento da série, no ano de 1500, o Seu Sílvio reuniu toda a alta cúpula de diretores e executivos da emissora para assistir a um episódio e darem a sua nota. Todo mundo deu zero, com exceção de uma alma generosa que deu 1. Mesmo assim, o visionário bateu o pé e manteve a decisão de lançar. Bingo! Passados tantos anos, Chaves continua dando surra de audiência até no comportado Jornal Nacional.

Mas a minha visão adulta hoje me permite enxergar certas coisas no programa que antes eu não via. Por exemplo, aquilo lá é muito mais confuso do que a gente imagina. Tem um malandro preguiçoso frustrado, que volta e meia desconta sua ira contida no cocoruto do protagonista; uma menina mentirosa, cruel e ardilosa, que vive colocando os outros em encrenca; um garoto mimado e egoísta, incapaz de sentir empatia por ninguém; uma mulher briguenta e mal amada, eternamente à espera de um professor megalomaníaco e indeciso; e no meio desse bolo todo, tem o saco de pancadas do Chaves, que mesmo levando a culpa por tudo de ruim que acontece, permanece humilde e impassível em sua jornada em busca do lendário sanduíche de presunto.

Comparando com a vida da gente, não é difícil fazer algumas associações. Os personagens podem ser caricaturas de nós mesmos e de pessoas com quem convivemos. E a mania que eles tem de atribuir seus fracassos e dissabores ao sujeito mais fraco da estória, também revela um lado assombrosamente humano. Afinal, é muito mais fácil jogar a culpa em quem não tem nem QUEM e nem COMO se defender, do que assumir sua parcela de responsabilidade e o compromisso de corrigi-las.

Um clichê familiar é aquela velha história de que PAPAI e MAMÃE são os culpados pelas nossas fraquezas. Na lista de queixas, discursos do tipo “Nunca fui amado, papai nunca ligou pra mim”, disputam lado a lado com “Fui amado demais, mamãe permitiu que eu fizesse tudo”. E haja lamentação e transferência de encargos. O que talvez pouca gente pare para analisar são histórias reais de pessoas que fizeram o caminho inverso e adotaram uma atitude contrária ante um destino que parecia inevitável. Não falo apenas daqueles casos emocionantes de superação, de gente que enfrentou extremas dificuldades e ainda assim saiu vitorioso, como o do morador de rua que conseguiu passar num concurso público. Refiro-me ainda a outras situações, digamos, menores e menos óbvias. Como da mãe amorosa e dedicada, que embora tenha tido a desventura de nascer do ventre de uma genitora desnaturada e displicente, decidiu não imputar aos seus filhos o mesmo sofrimento e curou sua mágoa aplicando o exemplo prático do amor. Ou daquele homem íntegro e correto que durante a infância, mesmo compartilhando com a mãe e os irmãos a convivência com um homem alcoólatra e violento, desde cedo decidiu que não seria uma réplica do pai e hoje construiu um lar equilibrado, onde provê a família com trabalho e afeto, respeitando e honrando a esposa, a quem só trata com muito carinho. O que essas pessoas tem de diferente? Porque elas, apesar dos pesares, não repetem esse discurso previsível que justifica as falhas no comportamento alheio? É simples: elas tomaram uma decisão positiva. A tal da pro-atividade, tão comentada nos dias atuais. Ao invés de focar nas causas, nas razões, elas miraram seus esforços nos efeitos e nas consequências. Não perderam tempo imaginando o porque de serem vítimas de tamanha desventura. Direcionaram seus objetivos de vida no sentido de não agirem da mesma forma e assim, se libertarem definitivamente do martírio. Porque se efetivamente somos o que pensamos, é fácil deduzir que quanto mais rememoramos as tristezas e buscamos culpados, mais nos mantemos presos àquela situação que tanto nos maltrata. Além disso, a coisa mais fácil que existe no mundo é jogar a batata quente nas mãos alheias. Difícil é tentar descascá-la. Quantas das situações das quais nos enxergamos como vítimas, se fossem friamente analisadas, não enxergaríamos a NOSSA parcela de culpa? Seja por inconseqüência, seja por inatividade, seja por falta de coragem de mudar. Seja até mesmo pela tentativa inútil de tentar construir um relacionamento saudável com quem simplesmente não quer a nossa presença e não está nem um pouco interessado em retribuir nossas mais sinceras demonstrações de amizade. Não seria melhor admitir que o outro não quer isso (o que não deixa de ser um direito dele) e parar de desperdiçar tempo e energia enxugando gelo?

O Chaves não é tão coitadinho assim. Pois não obstante as demonstrações de grosseria e inimizade, ele continua ali, disponível, embora ninguém até agora tenha sequer lhe dado esperanças de presenteá-lo com um sanduíche de presunto. O bobo continua acreditando nas mentiras e mostrando-se prestativo àqueles que lhe fazem mal. Uma visão distorcida poderia chamar isso de humildade, quando na verdade, está mais para burrice e servilismo tolo.

Para perdoar, é preciso seguir em frente. E para seguir em frente, É PRECISO VIRAR A PÁGINA. Chega de desperdiçar energia procurando justificativas e se lamuriando pela maldade alheia. “O que foi que eu fiz pra merecer isso”, “Onde eu errei”, “Mas porque ninguém tem paciência comigo?”... É melhor admitir como as coisas são, ver até onde VOCÊ foi responsável pelos abusos que sofreu e escrever outro caminho, outra história. Ao final da jornada você certamente se sentirá mais livre e quando menos perceber, nem lembrará mais daquele que um dia foi o centro das suas lamentações. "Sem querer querendo", surpreenderá a si mesma e a todos, pois afinal de contas, “não contavam com a sua astúcia!”

Beijos da Lulu!

2 comentários:

  1. Estava aqui a naveguar pela net em plena madrugada e férias, eis que achei seu blog e não pude deixar de comentar o que vc escreveu sobre o Silvio santos e Chaves, vc, simplesmente, conseguiu transmitir em palavras o q sempre pensei sobre o silvio,este q considero um visionário e maior gênio das comunicações no Brasil, que, para mim, será o futuro chaves da tv brasileira, pois seus programas são atemporais e lá esta ele seja no domingo ou dia de semana, p/ sozinho, salvar a audiencia do SBT, quem for vivo verá. Quanto ao Chaves sim, vc foi genial, é exatamente isso, o sucesso desse seriado se deve ao fato de ele retratar nada mais ou menos , a sociedade como um todo, com seus mocinhos e vilões. Adorei seu blog e espero poder segui-la no twitter, Meu twitter é luluka28

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  2. Querida "Luluka" (vou chamá-la assim, tá bom?), somos realmente fãs incondicionais do "Seu Sílvio". Meus domingos só tem graça por causa da língua ácida e do bom humor dele. É um grande prazer ter você como minha leitora. Um grande prazer mesmo! Adoro ter como público mulheres inteligentes e perspicazes como você! Já estou te seguindo no Twitter! O meu é @feministadearak, mas infelizmente não estou atualizando-o tanto quanto gostaria. A correria na vidade uma Feminista de Arake é um loucura! Tenho certeza que sabe bem como é isso. Beijos, fofa!

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