domingo, 2 de outubro de 2011

A Velha em cima da cama!


Eu também fui uma criança aterrorizada por essa musiquinha das trevas!
Não, o título não está errado. Só estou fazendo um trocadilho, comparando meu atual estado de saúde com a música “A velha debaixo da cama”. Eu não sei quanto a vocês, mas quando criança tinha verdadeiro pavor só de ouvir essa canção. Devido à forma como as frases eram cantadas, eu acabava entendendo a letra errado. Ou seja, ao invés de compreender que a velha criava bichos sob seu leito, entendia que a era a própria quem morava embaixo da cama. Some-se a isso o fato de ter vivido minha infância nos longínquos e politicamente incorretos ANOS 80, quando um dos ídolos cinematográficos e livres de censura era o terrível Freddy Krueger, e levando ainda em consideração a minha mente exagerada e impressionada, fica fácil entender o porque das minhas noites insones imaginando que uma mão enrugada e caquética surgia por baixo do colchão para me arrastar para as trevas subterrâneas e sombrias, cheias de dor e desespero. Trágico!

Mas felizmente o tempo e a maturidade me fez desmistificar tais simbologias, quando compreendi o real sentido da letra. Mesmo assim fiquei feliz ao descobrir que até no Orkut tem uma comunidade que congrega outros seres indefesos que também foram brutalmente aterrorizados. A comunidade é MEDO DA VELHA DEBAIXO DA CAMA. Com 91 membros, é um prato cheio para os psicólogos de plantão. Turma do Freud, tão perdendo tempo, viu! Vambora agilizar e mandar SPAM oferecendo serviços de análise pra esse povo todo porque afinal de contas, ultimamente o Orkut só tem servido pra isso mesmo. Nem só de cortesias de forró e swingeira vive o finado site de relacionamento.

Bem, continuando, fora o fato de eu estar há mais de um mês sofrendo de dores atrozes na coluna que me obrigam a ficar longe das coisas que adoro (shopping, cerveja, faculdade, trabalho, bullying, fuxico, não necessariamente nessa mesma ordem), hoje me sinto mais depressiva do que o de costume por ser domingo. Na TV, que deveria entreter, só passam coisas que te deixam mais pra baixo. Começa logo pela manhã, com o Lúcio Brasileiro falando daquele jeito tão peculiar, num ritmo repleto de entusiasmo e agitação: dá até vontade de voltar a dormir. Depois, tem o Gugu dando aquelas casas belíssimas pra aquele povo sortudo de uma figa. E pra finalizar, a musiquinha do Fantástico, a trilha sonora da síndrome pré-depressão das segundas-feiras. Como se tudo isso não bastasse, hoje ainda precisei assistir uma reportagem sobre uma velhinha canadense de 92 anos que é uma atleta profissional. Enquanto eu me contorço de dores e preciso de ajuda para percorrer os centímetros que separam o quarto da sala, a vovó simplesmente pratica atletismo, arremesso de peso, de dardos e até musculação! Um monte de coisas que doem em mim só de olhar ela fazer. E a mulher tem mais que o triplo da minha idade! É dose.

Mas deixando de lado a minha inveja, é realmente maravilhoso ver uma pessoa nessa idade demonstrar tanta força e vitalidade. Contribui para uma mudança de pensamento, de paradigmas, nos faz rever conceitos enraizados, “certezas” que a gente tem sobre os idosos. E o mais surpreendente é que a Vovó Olga (como é conhecida) só começou a praticar esporte aos 77 anos. Em outras palavras, ainda resta esperança para mim. Claro que não é uma coisa que você faz de uma hora pra outra. Eu, por exemplo, me empolguei com a reportagem e fui inventar de imitar a Shakira escondida na cozinha. O que ganhei foi um “mau jeito” do lado esquerdo das costas e voltei triste e desconfiada pro quarto, com cara de choro. Meu marido certamente não desconfiou de nada, só ficou com pena por ver a minha expressão de derrota.

Mas voltando à história da velhinha porreta, lembrei também que ontem foi o Dia do Idoso. E decidi aproveitar o ensejo para expressar sincera admiração e respeito a todos os vencedores que alcançaram essa etapa da vida e, sobretudo, a essa nova geração de “velhos” que vem buscando a cada dia um envelhecimento mais digno, saudável e ativo. Vendo senhores e senhoras com seus 60, 70, 80 anos dançando forró, praticando atividades físicas e até namorando, tenho que admitir: eles não tem nada de velhos. Velha sou eu, que nem andar mais direito posso. Velha é essa nossa geração acostumada com todo tipo de comodidade, que prefere passar duas horas procurando o controle remoto do que ter coragem pra levantar e mudar de canal; que por falta de paciência pra esperar até que um miojo fique pronto em três minutos, liga pro disk pizza e se empanturra de calabresa com catupiry; que gasta uma grana com TV a cabo e vídeos games modernos só pra manter os filhos “ocupados” dentro de casa e assim, “evitar a fadiga” de ter que levá-los para extravasar a energia numa caminhada ou passeio no parque. Esse estilo de vida, cheio de parafernálias tecnológicas, é o que tem gerado crianças, jovens e adultos cada vez mais obesos e sedentários. Fracos, doentes, desanimados, vivendo como autômatos programados para trabalhar, estudar, comer, dormir e ter muito, muito sucesso (não sei pra que, do que adianta ter dinheiro e viver doente). Os momentos de diversão geralmente se resumem à baladas onde se comete todo tipo de excesso: desde o tamanho do salto até a quantidade de whisky. E não tô dando lição de moral em ninguém, não. Estou fazendo uma dolorosa constatação observando a minha realidade e a de muita gente ao meu redor. E admitir essa realidade só me fez aumentar a admiração pelos idosos, que vem nos dando verdadeiras lições de vida. Lições de como viver a vida. Justo eles, que pelo menos em tese, dispõem de menos tempo do que nós. Mas, afinal, o que é o tempo? Do que adianta a passagem dos dias, horas, meses e anos sob o ponto de vista de um observador passivo e inerte? TEMPO É O QUE A GENTE FAZ COM ELE! E por isso eu tiro o chapéu pra essa FELIZ IDADE, ativa e disposta, que aproveita bem o seu tempo. Por isso, deixo meus parabéns pelo Dia do Idoso. Temos muito a aprender com eles. Essa noite, vou até puxar um papo com a velha debaixo da cama. Quem sabe ela realmente me arraste pra um lugar bem mais divertido e interessante do que esse leito frio e apático que só cheira à mofo e enfermidade.

Beijão pra todos!

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