domingo, 30 de janeiro de 2011

Estado Civil: Divorciada da Moralidade

Retrato da Monalisa pós-divórcio!

O novo Código Civil brasileiro dispõe que homem e mulher assumem mutuamente a condição de companheiros responsáveis pelos encargos da família, extirpando o grotesco tratamento jurídico diferenciado que era estabelecido no código anterior, que colocava a mulher em condição submissa, uma vez que sua incumbência restringia-se a velar o lar.

O princípio igualitário na união civil foi conquistado à duras penas, com a mudança do conceito de família. Milhares de lares são chefiados por mulheres, situação que ocorre, em sua grande maioria, pelo abandono e descaso de companheiros que acharam mais conveniente concluir que a emancipação feminina os isentava de seus deveres perante os filhos que prazerosamente geraram.
A Lei do Divórcio também foi outra conquista, diminuindo consideravelmente a dor e transtornos gerados por uma odisséia burocrática que prejudicava ambas as partes.
Mas esse tratamento justo conferido pela lei não se refletiu, como deveria, no tratamento conferido pela sociedade perante a mulher que opta pela separação.
Na prática, o que ocorre, especialmente se esta mulher for minimamente jovem e atraente, tiver certa independência financeira e adotar uma postura de tranqüilidade diante dessa etapa tão comum na vida de milhões de casais, é que ela seja veladamente hostilizada. E por mulheres.
De repente, aquela que até ontem esteve amparada pelo estado civil que por si só protegia as demais mulheres de uma ameaça potencial, torna-se uma figura monstruosa cujo conceito de caráter cai drasticamente pela falta do acessório “marido”.
A guerra fria se instala entre amigas, vizinhas, conhecidas, colegas de trabalho e até parentes, que magicamente passam a demonstrar um interesse redobrado pela vida particular e social da nova solteira do pedaço, que também será alvo de comentários maldosos e interpretações deturpadas de toda e qualquer atitude que venha a tomar a partir daí. Vestiu uma saia curta? Tá atrás de homem! Penteou o cabelo pro outro lado? Tá de olho no meu marido! Amanheceu chovendo? É uma devassa!
E quanto aos parceiros das mexeriqueiras, viram pobres caças sem a menor chance de defesa, sujeitos a sedução venenosa da fulana. Como se os homens fossem criaturas totalmente desprovidas de inteligência e vontade própria (pensando bem, até que faz sentido). São apenas machos, coitados. Seres ingênuos sujeitos aos instintos animais que regem todas as suas escolhas.
É verdade que no Talibã a pena para as divorciadas é morte. Mas não se admite que, em pleno século XXI, num país aparentemente caloroso e despojado de certos conceitos arcaicos, que a idéia de que o caráter de uma mulher é algo diretamente relacionado ao seu estado civil ainda seja amplamente considerada.
Reclamamos do machismo que tanto nos prejudica, mas o propagamos em pequenas atitudes, como esta. E não pensamos que existe o risco considerável de sermos as próximas vítimas dessa injustiça, ou quem sabe, nossas filhas e irmãs.
Casamentos começam e acabam todos os dias. E sabemos que mesmo não sendo o fim do mundo, ainda dói. Portanto poderíamos poupar as mulheres de um desgosto desnecessário provocado pela rejeição e antipatia estúpida cuja causa não tem nada a ver com o caráter da separada, mas sim, com nossa própria insegurança.
Tenham uma ótima semana!

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