sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cortem-lhe as cabeças!

Para quem um dia teve o mundo nas mãos, terminou sem a cabeça!
Bom dia, meu povo!

Depois de alguns dias afastada, eis meu retorno triunfal. Estive ocupada, mas reservei um ínfimo espaço dentro da tumultuada zona de turbulência para dar um alô básico aos que anseiam por minhas sábias palavras. Vocês sabem o quanto sou filantropa, não é mesmo?

Estou terminando de reler o livro MARIA ANTONIETA, de Antonia Fraser.

A releitura fortaleceu duas convicções. A primeira é que, o tempo passa, o tempo voa, e na política tudo continua igual. Monarquia, Imperialismo, Presidencialismo e, mais recentemente, o Tiririquismo, não interessa. Mudam-se os cenários e protagonistas, mas a novela é a mesma. A segunda, e mais cruel de engolir, é que mulher nasceu mesmo foi para sofrer.

Desculpe, cunhãs. Sei que estou sendo trágica e cruel. Mas por mais que eu tente enxergar as coisas sobre outro prisma, não adianta. A realidade nua e crua é pior ainda vista com a lente de aumento dos fatos.

A protagonista do livro caiu de pára-quedas na França, mal saída da infância, para consumar um casamento engendrado pela mãe, uma manipuladora que pregava para as filhas uma radical submissão aos maridos enquanto ela mesma dava pitacos, a torto e a direito, na condução dos assuntos da Áustria, governada pelo seu marido.

Eis que, aos tenros 13 anos, Antonieta se acha em terras estrangeiras diante de um noivo nada atraente e pouco viril. Indeciso, despreparado e ainda por cima, um marido que não cumpria seus deveres conjugais, enquanto ela era pressionada por meio mundo a dar-lhe um filho macho (se fosse hoje, era só apelar para produção independente). Embora não fosse propriamente ruim, o rei, em sua total desqualificação para conduzir um país como a França numa época de revoluções e mudanças radicais, levou a uma crise financeira (já iniciada em reinados anteriores) sem precedentes na história da nação, culminando na Revolução Francesa.

Mas nessa história toda, foi a Antonieta quem pagou o pato. Acusada de promiscuidade, deslealdade e todo tipo de insinuação infundada, a Rainha da França virou o bode expiatório de uma crise anunciada. A célebre frase atribuída a ela, diante do suposto fato de que, quando questionada sobre a situação do povo miserável que não tinha pão, teria respondido: “pois que comam brioches”, na verdade era uma frase apócrifa atribuída a outras rainhas que reinaram não apenas a França, bem como outros países muito antes dela nascer. Mas que reflete a necessidade social de jogar a culpa na primeira cunhã que aparece pela frente.

E lá se foram os 2 para a guilhotina, tendo a reputação de Luís XVI, seu marido, sido restabelecida muito antes da restauração da monarquia. No entanto, a dela, até hoje envolve lendas de atitudes cruéis, desdenhosas e malvadas, quando na verdade os contemporâneos mais próximos eram unânimes em ressaltar sua extrema bondade, tolerância e impulsos caridosos.

Porém, sua história tão difícil e comovente é, de certa forma, um alento. A gente continua pagando o pato por muita coisa e sendo alvo de calúnias e preconceitos, mas pelo menos minha linda cabecinha ainda está sobre o meu belo corpinho. Sim, porque se fosse eu na época acho que não teria durado nem metade do que a Antonieta agüentou.

A maior parte das hostilidades do dia-a-dia tende a ser psicológica e moral. Sem, no entanto, esquecermos as terríveis estatísticas de violência contra a mulher, que ainda são alarmantes. Mas se hoje conseguimos obter um pouco mais de liberdade e respeito, não tenham dúvida de que foi por causa do sacrifício de muitas mulheres célebres e também anônimas.

Portanto, cunhãs, sejamos otimistas. Se o barco continuar a tocar nesse ritmo, quem sabe, no ano de 3015 desfrutaremos dos ideais de liberdade e igualdade que são concedidas aos nossos pares do sexo masculino. Ainda bem que acredito em reencarnação!

Petit Beijos para vocês!

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