segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mulheres de coração, mas com o canudo na mão!

Lavar roupa todo dia, que agonia...
Uma publicação oficial do Vaticano noticiou, durante “generosa” homenagem ao Dia Internacional da Mulher realizada ano passado, que a máquina de lavar roupas é o verdadeiro símbolo da emancipação feminina no século XX.
Óbvio que a declaração provocou a fúria de mulheres em todo o mundo, Afinal, depois de se matarem para conquistar o direito ao voto, à inserção no mercado de trabalho, às prerrogativas civis no casamento e, ainda mais nobre, o direito de criarem uma nova espécie feminina na escala evolutiva – a das mulheres frutas, transgenicamente modificadas em laboratório pela generosa manipulação de todas as variáveis do silicone – ouvir uma declaração dessas chega a ser um sacrilégio.
Exercendo meu pensamento crítico, naturalmente tendencioso e egoísta, confesso que me inclinei a concordar com o jornal. Bastou recordar os ensolarados e convidativos domingos que passei me divertindo com uma pilha de roupas e uma barra de sabão pavão, tudo após uma exaustiva semana de trabalho.
Mas mesmo sendo uma feminista meio fajuta, não posso me eximir das responsabilidades perante minhas companheiras. Afinal, concordar com isso seria destruir qualquer sonho de liberdade daquelas que ainda não fizeram seu crediário na Insinuante dentro das incríveis condições oferecidas pelos financiamentos brasileiros, do tipo, compre 1 e pague 3.
Portanto, dentro da minha modesta experiência nesses 30 anos de vida, tenho o direito de ensaiar alguns pitacos. E acatando a sugestão de um amigo, que embora homem e com fator agravante de ser militar, mas que tem lá sua razão, resolvi fazer algumas reflexões sobre a contribuição do ensino universitário nesse processo emancipatório.
Como os leitores bem sabem, estou curtindo a gloriosa experiência de voltar a estudar. Isso depois de vagar por 14 anos num limbo intelectual que, se bem aproveitados, teriam me rendido até diploma de PHD. Mas tudo bem, mesmo tardio é gratificante, embora tenha de enfrentar diariamente a leitura da freqüência que delata o apêndice de CHICA junto ao meu nome, idéia de um pai ex-seminarista que calculou que homenagear um santo lhe daria uma filha mais pudica e recatada (foi mal, pai). E quanto ao temor de sentir-me uma vovó em meio a juventude transviada, Deus me presenteou com um colega de classe bem mais velho, cujos cabelos grisalhos distraem a turma da minha condição etária (foi mal, poeta).
Mesmo pelo pouco tempo, já pude sentir a expansão do meu outrora limitado universo e a ansiedade faz sonhar com especializações, doutorados e afins, mal tendo começado o 1º semestre.

Diante de tamanha empolgação, bateu aquela depressão típica de quem carrega a culpa como item de série. Fiquei me recriminando por ter adiado tanto tempo esse sonho, pois agora tenho que administrar dilemas que poderiam ter sido evitados, como o impasse entre a maternidade e a carreira que se desenha.
Muitas mulheres justificam que não realizaram suas metas pela recusa de seus companheiros, ou pelo bem estar familiar. Mas pelo menos da minha parte, garanto que esse altruísmo tem sua faceta egoísta. O autoboicote é motivado pela sensação de achar que não merece, mas também por acreditar que outros setores da vida não sobreviveriam sem você.
Conheço mulheres amarguradas que depois de suprimir seus desejos em nome de um casamento, foram sumariamente abandonadas pelos companheiros que não tiveram qualquer dúvida em desfazer a união, quando esta não mais lhe convia. E as cunhas, revoltadas, mais uma vez param suas vidas dedicando tempo e energia na tarefa de perseguir e acusar o sujeito pelo seu fracasso.
Querida, sinto informar-lhe, mas o culpado está em outro lugar. Dá uma passadinha no banheiro e olha o espelho sobre a pia que tá lá o seu algoz. Pode estribuchar, mas seu marido não deixou uma arma apontada para sua cabeça durante todos esses anos. Por mais machista e dominador que fosse, no final, a decisão foi sua.
A evolução intelectual e cultural da mulher é fundamental para sua emancipação, pois é nessa base que se constrói uma nova leitura sobre você e sobre o mundo. A convivência com outros tipos de pessoas, o confronto e a harmonia de pensamento, a aquisição de novas idéias, tudo isso num nível bem além de ficar sabendo dos mexericos envolvendo a vizinha ou debater sobre o final da novela.
Claro que o Brasil ainda é pobre em oportunidades de acesso à educação, e as mulheres sofrem mais com isso. Mas se existe a mínima possibilidade de tentar, mesmo que com certos sacrifícios, então colega, faça! Porque além do benefício próprio você amplia o diâmetro de um círculo que aos poucos vai incorporando mais mulheres de sua própria convivência, o que numa análise holística confirma sua participação ativa no sucesso global do movimento feminino.
Imitamos comportamentos humanos principalmente dentro do seio familiar, portanto se quer mesmo deixar um bom legado, invista no amadurecimento intelectual que o seu exemplo será, de longe, a melhor herança. Sem esquecer, é claro, da satisfação pessoal. Esse deleite é todo seu e ninguém tasca!

8 comentários:

  1. Mais um brilhante texto Luciana, parabéns! Esse, em especial, me faz lembrar minha avó materna que sempre me disse que nada era mais valioso na vida do que o conhecimento. Dona Maria das Neves nasceu em 1927, mas tinha a alma de uma mulher do século XXI, de tão inteligente e independente foi nomeada professora pelo estado do Pará, mesmo tendo cursado apenas até a 5ª série primária. Um exemplo! Mulheres pensem assim: "meu diploma nunca vai me trocar por outra" :D

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  2. Aninha, teria prazer em saber mais sobre sua avó, até porque gosto de ter sempre a mão exemplos reais de mulheres que dão amostras práticas de sua força e competência. Aliás, acho que como jornalista você poderia fazer jus a sua memória escrevendo uma biografia sobre ela. Que tal a sugestão? Obrigada mais uma vez pelo seu carinho e assiduidade neste humilde espaço que é feito para mulheres como você! Beijão, amiga!

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  3. Adorei o blog, os textos, a blogueira. Tudo, principalmente a imagem de fundo onde uma mulher decepa a cabeça de um homem com a faca (risos). Muito bom, Parabéns!

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  4. Jeff, com certeza essa é a melhor parte! Seja bem vindo, fofo!

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  5. Gostei muito do seu texto,ainda mais,pelo bom humor,o que traz mais ainda vontade de lê-lo por inteiro.Com certeza a escolha está em nossas mãos,eu sou um exemplo disto,pois meu marido era totalmente contra eu fazer faculdade,ainda mais,tendo um filho de um ano e quatro meses e outro de 4 meses de idade.Mas eu não desisti,tanto que agora curso minha segunda faculdade,e feliz da vida por ter conseguido alcançar o que tanto almejava!!

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    1. Carlinha, você é um exemplo de mulher que evoluiu muito. Nos conhecemos e compartilhamos nossas primeiras experiências profissionais. Depois de algum tempo, a reencontrei numa fase de coleção de conquistas acadêmicas e de carreira. E quando presenciamos o sucesso de uma pessoa, muitas vezes só visualizamos o resultado final, a conquista. E nem imaginamos as dificuldades que essa pessoa teve de vencer para chegar lá. Seu depoimento é a prova de que não existe sucesso sem esforço! Todas nós temos de manter isso em mente para não perdermos o foco no meio do caminho. Parabéns! Você é uma grande mulher!

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  6. Parabéns Lulu.

    Texto instigante e divertido.

    Adorei o blog e tbém lhe add no face. :*

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    1. Desculpa, lindinha, só agora vi seu comentário! Obrigada pelo carinho e incentivo! É um prazer contar com vc neste espaço!

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