terça-feira, 22 de novembro de 2011

Hoje vai ser uma festa...

Se alguém vier com essa moda anos 80 de me jogar ovo cabeça, saiba que será eternamente amaldiçoado pela minha chapinha!
Bom-Di-AAAAA!!!!!

Meus amados leitores, vocês por acaso sabem que dia é hoje? Não. Hoje não é dia de rock, bebê. Mas é algo tão importante quanto.

Hoje, dia 22 de novembro de 2011, é o aniversário do 1º ano de vida do FEMINISTA DE ARAKE. Sim, o tempo passa, o tempo voa! E para vocês que achavam que eu estava na “peor”, afirmo com orgulho que nos últimos 365 dias muitas novidades aconteceram: novos pés de galinha andam ciscando na minha face, novas estrias abrem caminho pela minha pele (já está quase uma transamazônica), novas células adiposas estrearam no meu corpinho ao passo que as antigas já não respondem mais aos meus jejuns e privações gastronômicas. Em resumo: não sei por que cargas d’água deveria comemorar alguma coisa, mas, enfim, festeira do jeito que sou, sempre arranjo um bom motivo.

E o motivo é que, embora algumas pessoas acreditem que expor meus pensamentos tortos e emoções anormais numa página virtual (tão fria e impessoal) seja algo inútil, abjeto e desprezível, para mim, o blog adquiriu uma conotação muito significativa. Pode parecer meio clichê dizer que nesse tempo, eu mudei. Mas para dar um tom mais poético a esse “lugar comum”, vou recorrer à dialética de Heráclito, quando afirmou que “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, posto que nem ele nem o rio são mais os mesmos.

Pois é! Nem eu, nem o blog, somos os mesmos. Comparando algumas postagens, especialmente as que ficam nas extremidades (as primeiras e as últimas), fica claro que o tom, a estética e, claro, as inspirações, mudaram bastante. Às vezes me pego num estado de surpresa ao ler aquilo que eu mesma escrevi há meses atrás. E só vou entender o porquê de ter escrito assim ou assado quando rememoro os episódios que motivaram o texto. Muitos desses episódios e seus protagonistas, vocês desconhecem. Mas basta ler uma linha para que as emoções relacionadas aflorem e me deixem com a sensação de que a nossa vida é realmente uma montanha russa. De picos de alegria a poços profundos de depressão, só uma coisa foi previsível e constante: a mudança!

Em algumas de minhas releituras, pensei o quanto fui precipitada, estouvada... Outras, até firmaram alguns propósitos. Algumas, inclusive, expressam um assombroso tom profético, antecipando impressões que se tornaram fatos. Só não vou me sentir a Mãe Diná porque ao invés de acreditar que o Cosmos foi responsável por tais “presságios”, é mais fácil (e racional) presumir que minhas próprias opiniões e sentimentos inevitavelmente conduziram meus passos à determinadas situações. Nosso destino se constrói mediantes nossas atitudes. E nossas atitudes, são apenas conseqüências daquilo que pensamos! Essa máxima só não vale para estados de plena ilusão e delírio quando você se imagina agarrando o Johnny Deep. Esquece, ele nunca vai ser seu!

Mas de todos os efeitos (bons ou ruins) resultantes da decisão de criar este espaço, para mim, hoje, nada se compara ao encanto de produzir sobre as pessoas (especialmente as que me conhecem pessoalmente) as impressões e idéias mais contraditórias possíveis. Quem eu realmente sou, o que quero, se há fundo de verdade por trás de alguma ironia ou se é apenas veneno destilado na intenção de confundir. É uma imprevisibilidade que surgiu da geração espontânea, sem maiores pretensões, e nisso reside o charme da minha obra. Pelo menos pra mim, é claro!

Bom, quanto a isso, recorro mais uma vez à poesia, desta vez do cantor que gosta muito de te ver, leãozinho: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...”. É o Dom de Iludir, que todos cultivamos para nossa própria sobrevivência. A Luciana do dia a dia é uma, mas a que aqui escreve, é outra. Simples assim!

E para reforçar a simbologia deste novo ciclo, nada melhor do que, paralelamente, também estar no início de uma nova fase de vida. Alguns percalços e frutos dessa e de outras experiências certamente serão divididas com vocês. E assim, topando aqui, levantando ali, iremos nos reencontrar daqui a mais um ano. Quem sabe o próximo aniversário seja menos chinfrim e role pelo menos Kissuki de uva com Maria Maluca. Por hora, perdoem meus maus modos. Vocês sabem, a coisa tá preta (por enquanto).

Feliz Aniversário, Feminista de Arake!

sábado, 19 de novembro de 2011

Atenção! Mulher Trabalhando!

É hora de botar a mão na massa, sem amarrotar o vestido nem borrar a maquiagem!
Bom dia, gente amiga do meu Brasil!

Hoje é sábado! E que belo sábado! E para mim esse sétimo dia tem um sabor todo especial (além do gosto de arroz com brócolis que acabei de queimar por culpa de vocês).  É o primeiro descanso remunerado depois do meu retorno triunfal ao concorrido, louco e caótico mercado de trabalho.

Sim, voltei ao batente. E, pra variar, caí de pára-quedas numa função inteiramente nova, dessa vez no escritório de uma construtora. Numa postagem anterior (Retalhos tão pequenos de nós dois), já havia comentado sobre esse traço tão peculiar da minha personalidade, sobretudo no campo profissional. Pois é, agora mais uma peça acaba de ser acrescentada a esse mosaico que compõe a trajetória da Feminista fajuta.

Eu, que um dia fui tão glamourosa, agora estou em meio a sacos de cimento, cerâmicas, tintas e afins. Além de papéis, muitos papéis! E tudo isso envolvida por um embriagante aroma de cânfora e mentol. Sim, porque para voltar a trabalhar precisei destinar uma parte do meu salário a incontáveis pacotes de emplastros Salonpas, diariamente aderidos a uma coluna castigada por anos de afinco, dedicação e paranóia perfeccionista. É sério! Por baixo dos meus vestidinhos fashion (que mesmo cobertos de cimento, não deixei de usar), eu pareço uma múmia! Só espero que a Hisamitsu leve em conta a propaganda inteiramente gratuita que estou fazendo neste blog internacionalmente conhecido e me presenteie com embalagens gratuitas dos curativos salvadores. Fica a dica!

Mas quando parei para pensar nessa novidade, percebi que ela não era tão inédita assim! Na verdade, ela representa um retorno às origens. Porque minha primeira experiência profissional (informal, mas tá valendo) foi justamente relacionada com material de construção. Meu velho, querido e saudoso papai era um visionário empreendedor, embora não tenha obtido o sucesso que pretendia. Mesmo trabalhando durante anos como empregado, alimentava o sonho de ser o próprio patrão. Fez várias tentativas de abrir um pequeno negócio e reunia bastante competência e habilidades com vendas, negociações e controle financeiro. Pena que não herdei este último talento, porque vivo à beira da falência. Mas quanto ao resto, tenho mesmo a quem puxar!

Uma das suas empreitadas foram depósitos de construção. Quando eu tinha 7 anos de idade, ele deu início ao primeiro, em sociedade com um parente. E meu pai fez questão de me colocar a par desde o princípio. Ele sempre dizia que eu era muito inteligente e aprenderia rápido. Então, numa época em que computadores eram máquinas infinitamente distantes da nossa realidade, ele me levou àquele pequeno e promissor negócio, sentou solenemente numa mesa, me apresentou uma caixa com várias fichas individuais de controle (referentes a cada um das centenas de produtos à venda) e explicou o que cada um significava (desde pregos, tijolos, tubos, conexões e tudo mais), onde estavam expostos e estocados, como medi-los, quantificá-los, vendê-los e, principalmente, o controle diário de entrada e saída, com precificação e cálculo de percentuais e lucros. Não sei como isso foi possível, mas sobrevivi! Absorvi a lição, embora ainda hoje tenha uma enorme preferência por letras, ao invés de números (deve ter sido trauma decorrente da experiência). Mas, não obstante a capacidade e a dedicação do meu pai, o empreendimento não deu certo. Bom, pelo menos não pra ele. O tal sócio passou a perna no coitado e apropriou-se indevidamente do comércio. Algo dífícil de engolir!

No entanto, duas lições importantes restaram da experiência. A primeira: não confie em ninguém! Bom, quanto a essa nem ele e muito menos eu aprendemos patavina nenhuma. Nesse ponto, sempre fomos idênticos. Dois bocós que acreditavam na conversa fiada de qualquer Zé Mané. Prova disso é que depois dessa, papai foi enganado muitas outras vezes. E eu também já tive meus prejuízos por confiar demais. Alguns deles, até bem recentes e que me causam dor de cabeça só de lembrar. Mesmo assim, ainda creio que todo ser humano é digno da minha confiança, pelo menos até que me prove o contrário. Há um ditado que diz que o desconfiado excessivo erra tanto quanto aquele que confia em demasia. Afinal, sua suspeita quanto a tudo e a todos é tamanha que espera sempre o pior das pessoas, agindo de forma hostil, continuamente armado para o ataque iminente do inimigo que, na sua cabeça, está em todo lugar. Com isso, acaba encontrando seu malfadado destino justamente no caminho que tomou para evitá-lo. Pensamento é energia e não tem como não atrair àquilo para o qual empenhamos, tão obsessivamente, os nossos pensamentos. Até porque, ainda que não ocorra a punhalada que o desconfiado tanto espera, fica difícil pra qualquer um conviver com quem nunca baixa a guarda e vive repelindo e interpretando da forma mais deturpada e agressiva possível, qualquer tentativa inútil de afeto ou aproximação. E cedo ou tarde, o mais bem intencionado dos amigos decide se afastar, por não suportar mais dar murro em ponta de faca.

Mas isso é outra história. Quanto à segunda lição a que me referi, é a que de tudo tiramos um proveito. Toda experiência, todo aprendizado, toda tentativa é válida, mesmo que os frutos, a princípio, sejam duros e amargos. Paciência. Vai chegar uma época em que a árvore vai vingar. E produzir, ao seu tempo, bons resultados.

Pois é. Chegou o período da minha colheita. Lá vou eu desenterrar da memória os conhecimentos latentes sobre o assunto, para aplicar nessa nova fase. Quem sabe isso sirva ainda para superar a lembrança negativa inevitavelmente associada ao fato. Porque coragem e disposição para aprender, eu tenho de sobra. Só preciso que a coluna dê uma trégua e me ajude a vivenciar mais essa peripécia profissional com a saúde e o bem estar de que tanto necessito. Torçam por mim!

Beijos,

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Faz parte do meu show!

Aviso: É melhor não tentar me entender. Eu tentei fazer isso uma vez e fiquei doida!
Bom dia, meus leitores fofos de todo o mundo!

Gente, que felicidade contar com a audiência de tantos países. O lado ruim é que não posso fazer piada de Português, mas tudo bem, eu sobrevivo. Quando contei para minha mãe que ultimamente as estatísticas de acesso de nações como a Rússia tem aumentando bastante, a pobrezinha ficou toda orgulhosa comentando nas calçadas que a filha era tão inteligente que sabia até “botar as coisas no computador em estrangeiro”. Claro que não destruí seus sonhos de “mãe de miss”. Afinal, desde criança a vi tecendo mil planos de fama, sucesso e poder para mim. Planos esses nada modestos: era de Fátima Bernardes pra lá! Hoje ela precisa se conformar com uma estudante de jornalismo tardia e tomada por dores lombares que a impedem até mesmo de correr atrás de marginal em gravação de programa policial de quinta categoria. E isso é porque ela nem sonha que certos “amigos” me comparam à personalidades do naipe da “Marilena Limão”, do Programa Garras da Patrulha. Aquela, que tem pena de todo mundo e vive repetindo o bordão: “Olha aí, gente, o bichinho...”. A pior parte nessa história é ter de admitir que parece mesmo.

Mas vamos deixar que mamãe permaneça na ignorância. Sinceridade demais não serve pra nada, essa foi uma lição que aprendi a duras penas. O assunto que me traz a esse espaço anormal foi a ressurreição do meu Orkut. Sim, porque eu (assim como você e como todo o resto do mundo) troquei o pobre site de relacionamentos pelo Facebook. Tipo o que a “Oi” fez com as outras operadoras de telefonia celular, quando entrou no mercado distribuindo a torto e a direito chips com ligações gratuitas durante os fins de semana. E eu, de burra, não comprei meu A40 da Xuxa e agora sou corroída pelo arrependimento eterno. O que me consola é saber que não sou a única arrependida nessa história, porque a própria operadora foi pega de calças curtas, já que venderam muito mais do que esperavam. O resultado é que os proprietários desses “chips dourados” vivem entre o inferno e o paraíso. Embora possuam nas mãos um produto que vale ouro, para eles a expressão “final de semana” tem uma conotação totalmente oposta ao que representa para nós, reles mortais: basta entrar na zero hora do sábado para pipocarem ligações de gente pedindo pra fazer conferências.

Lógico que a popularidade da empresa levou fatalmente a uma adesão em massa, afinal, quem não tem um “Oi” sofre bullying, desprezo e solidão (#foreveralone). Com o minuto custando os olhos da cara, o único jeito é apelar para os infindáveis bônus, que só servem de “Oi pra Oi”. Aliás, ultimamente nem pra isso servem, porque de tão sobrecarregada a operadora nem funciona mais. Bem feito pra nós!

Bom, depois de avacalhar com a “Oi” e instigar um processo, vou sair da zona de devaneio e voltar ao tema. Essa semana, nem sei dizer porque razão, acessei o abandonado Orkut e vi um depoimento fofo de um amigo, elogiando meu blog. Mas no recadinho um detalhe me chamou especialmente a atenção. Ele comentou que, embora gostasse muito dos textos, não conseguia associá-los à minha pessoa. Depois fiquei tentando imaginar que pessoa eu sou pra ele, mas horas de meditação só serviram pra dar um nó na minha cabecinha (que já não é tão normal assim). Então decidi apenas responder agradecendo a sua mensagem tão carinhosa e procurei esclarecer, em poucas palavras, que o blog é meu cantinho, onde TENTO escrever sem as amarras e as máscaras que a gente usa para sobreviver no dia a dia. Lógico que me conformei com a ideia de que talvez ele, assim como as outras pessoas que me conhecem, jamais compreendam isso plenamente. É o preço que se paga por estabelecer-se numa zona nada confortável, situada entre o anonimato e a exposição pública. Porque a galera que não me conhece pode ler à vontade e fazer as associações e idealizações que bem entenderem (espero que me imaginem alta, loira, magra e jovem). Mas para a turma que sabe quem eu sou, realmente devem soar meio estranhas algumas das minhas declarações. E isso já criou vários problemas dentre o círculo mais íntimo. A confusão só não foi maior porque, como já havia comentado antes, mamãe não usa Internet (Deus a conserve assim!). Mas é o preço que se paga por qualquer escolha que se faz na vida, estou conformada.

Passar por problemas de “interpretação” (sejam boas ou más) faz parte do meu show, meu amor. Principalmente quando se tem uma mente tão fervilhante, borbulhante, confusa e complexa que sua boca não consegue acompanhar o ritmo desse samba. O resultado é que, por vezes, preferi escrever longas e minuciosas cartas no intuito de esclarecer mal entendidos gerados durante uma conversa infrutífera e desastrosa, em que não consegui me expressar como pretendia. Lógico que essas cartas foram escritas para pessoas muito especiais, as quais me importava o fato de que compreendessem bem o que eu queria dizer. Mas o mais engraçado (e trágico) disso tudo é que, mesmo usando de todo o cuidado em explanar os meus sentimentos e intenções da forma mais clara e sincera possível, não raramente o que consegui foi aumentar ainda mais a confusão. De um texto de 4 páginas, a pessoa se apegava a um 1/3 de uma linha e, a partir dela, resumia de forma deturpada e incompleta toda a “sua” interpretação sobre minhas emoções visceralmente expostas num pedaço de papel.

Essas experiências me levaram a uma inevitável constatação: se for para narrar alguma coisa, que sejam “fatos”, que podem ser medidos, delineados, catalogados e friamente descritos numa página de jornal. E olhe lá, porque ainda assim existem margens para diferentes interpretações. Tentar explicar-se, entender-se já é tarefa árdua para si mesmo, imagine para terceiros. A gente mal se conhece, mal sabe o que quer, mal sabe porque age ou pensa de determinadas formas e ainda quer que os outros compreendam claramente o que queremos e o que fazemos.

Chegar a essa conclusão me fez crer que havia realmente desistido dessa mania de explicar tudo, especialmente no que diz respeito a mim. Senti-me segura e firme na resolução, julgando realmente estar liberta de tal necessidade. Mas ao escrever o último parágrafo desse texto, redigido em prosa, sem pausa para pegar fôlego, eis que percebo que estou JUSTAMENTE ME EXPLICANDO! Huahuahuahuahuahua! Tenho jeito não, né. Bom, caro amigo do Orkut, o jeito é se conformar. Uma blogueira confusa e paradoxal é o que temos pra hoje! Mas vamos combinar que um ar de “mistério” numa mulher até que pode ser bem charmoso... Fica aí martelando a cabecinha e tentando entender alguma coisa. E se descobrir, me conta, tá!

Beijos e bom feriado!

domingo, 13 de novembro de 2011

Poder de Escolha

"Mamãe disse que eu escolhesse esse, mas como sou compulsiva vou escolher todos esses aqui!"
Bom dia, meus lindos e amados leitores!

Hoje a postagem é bem especial. Pela primeira vez vou publicar um texto de uma leitora do nosso blog. Ela me mandou a missiva através de e-mail, depois de ler uma postagem. E fiquei encantada não apenas com a sinceridade, mas principalmente, com a forma interessante e peculiar com que ela abordou o tema do Poder de Escolha que nós mulheres fomos adquirindo ao longo da história. Tudo isso de uma forma leve e despretensiosa. Um estilo que admiro muito e procuro adotar nas postagens.

Bom, chega de lengalenga. Segue abaixo o texto da minha querida amiga ALINE SOUSA. E por favor, não fiquem com ciúmes. Esse espaço está aberto para a co-participação de todos, viu. Aliás, dia 22 de novembro é o aniversário de 1 ano do Feminista de Arake. Colaborações e sugestões serão muito bem vindas. Por enquanto, deliciem-se vocês também com o texto da Aline:

Olá querida Feminista de Arake!

Gostaria só de compartilhar com você minha imensa alegria em simplesmente poder escolher. Afinal, esse tem sido o pivô das grandes batalhas das mulheres ao longo dos anos: luta pelos seus direitos e luta principalmente pela possibilidade de decisão e escolha. Usar o nosso livre-arbítrio, coisa que a sociedade às vezes parece nos privar dessa possibilidade.

Confesso, fazia tempo que não lia o seu blog. Minha vida de Feminista de Arake também tá me custando tempo. Quem mandou a gente não querer mais viver mais à custa dos homens e ir buscar nossa independência! Muito trabalho e cada vez mais cansativo. Mas, hoje amanheci com aquela vontade de fazer as coisas diferentes, fazer coisas que me dão prazer, esquecer um pouco da rotina e ter minha possibilidade de escolha.

Hoje era dia de fazer faxina em casa, passei quase uma hora pra começar, fazendo sabe o que? Escolhendo uma boa música para a manhã de faxina. Olhei minhas dezenas de cd’s de Zezé di Camargo e Luciano (é, você conhece esse meu passado negro) e fiquei me perguntando como não tinha vontade nenhuma mais de escolher aquele repertório. Passei por Roupa Nova (música para fazer faxina em casa?) e lembrei d’O Teatro Mágico... mas não achei, acho que emprestei.  Chico Buarque, Quarteto em Cy...  Tá! O resultado é que não achei música nenhuma que combinasse com a ocasião, mas sim com o que eu realmente gosto de ouvir. Por um instante pensei que tinha perdido um tempo imenso em que poderia já ter deixado a casa limpinha, pronta para chegar o primeiro e estragar tudo, mas meu gosto musical ninguém ia estragar, adoro meus cds, minhas músicas e fiquei um tempão ali pensando em toda minha história musical, desde a infância com os discos de vinil coloridos com histórias infantis, a deliciosa década de 80 com Balão Mágico, Trem da Alegria, Xuxa - não necessariamente só para baixinhos - até a adolescência ("aaaa turma do circuito") e os dias atuais.

Tantas músicas passam por nosso gosto e desgosto. Tantas nos marcam. Muitas até nos arrependemos de ouvir, outras queremos para o resto da vida. Nosso gosto musical também reflete um pouco da nossa maturação. Mas, meu juízo não aguenta quando vou para o trabalho, pego o ônibus e vem aquela criatura que devo respeitar por ter um gosto musical diferente do meu. Mas com uma diferença: ele escuta música estrondante, num celular que distorce e estronda mais ainda a música, desconhecendo a pouco conhecida invenção humana chamada: fone de ouvido! Então me veio aquela célebre questão: gosto se discute? Bom, naquele momento eu não estava interessada em discutir e sim em ser autoritária com o meu gosto e mandar ele ir para as cucuias com aquela música dele - ou pelo menos usar o recurso auditivo individual. Mas, o que é bom mesmo é ter a possibilidade de escolha, como eu me dei durante a manhã, ao passar uma hora escolhendo minhas músicas e me senti incomodada em não poder escolher no lugar daquela criatura dentro do ônibus, a música a ser ouvida.

Tudo bem, ao chegar ao batente, liguei meu computador e fui eu mesma escolher minhas músicas de trabalho, nem que para isso custasse mais uma hora do meu precioso dia, mas era a minha escolha! E quão não foi a minha dor ao perceber que meu computador estava sem áudio: “CHAMA O TÉCNICO, PELO AMOR DE DEUS!”, implorei ao telefone. Enquanto isso, posso pelo menos procurar uma boa leitura no computador? Preciso escolher algo pra fazer, preciso de opção para mim mesma, antes de iniciar as atividades impositivas da rotina de trabalho. Mas, lá se vão minhas possibilidades mais uma vez reduzidas, pois no ambiente de trabalho a internet é limitada. No entanto, pedi ao técnico quase chorando: “LIBERA UNS ACESSOS PRA MIM, POR FAVOR!” E aqui entre nós, ele instalou um programinha que libera os acessos aos sites restritos e fui cair de primeira no FEMINISTA DE ARAKE! Ah como é bom poder escolher!!!

Valeu Lú, o blog tá melhor a cada texto!

Beijos!”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Já fui mulher, eu sei...


Eu adoraria fazer alguns machões "se sentirem mulher" de vez quando...
Bom-di-aaaaaaaa!!!!!!

Queridos amigos, pela milésima vez, desculpem minha ausência. Sei muito bem que blog que não é atualizado tende a entrar na lista dos sites engolidos pelo buraco negro da Internet desconhecida. A mesma região para onde foram parar os e-mails do BOL, que um dia foram tão populares. Afinal, não há nada que suba tanto que mais cedo ou mais tarde não venha cair de cara no chão.

No entanto, convém esclarecer que o meu blog não é pastelaria. Tipo, você chega no balcão e grita: “Ô, Feminista de Arake, me vê aí, rapidinho, um post quentinho pra viagem e no capricho. Bora agilizar, aê. To com pressa!”. Dá não! Não sei trabalhar sobre pressão. E sinceramente, não me agrada a idéia de transformar este espaço numa página que se limite a reproduzir materiais dos outros, só para garantir frequencia de atualização. Tipo a Sônia Abrão, que passa o programa inteiro lendo reportagens e fofocas publicadas em revistas de R$ 1,49. Confesso, sou orgulhosa. Prefiro escrever uma porcaria (ruim, mas MINHA) do que transcrever a Teoria da Relatividade e posar de “gênia” à custa dos outros. De araque nessa história já basta o meu feminismo.

Maaaaaasss, finalmente me veio a tão sonhada inspiração. E ela chegou pela madrugada, durante minhas vigílias torturantes, pensando sobre o que fazer da vida. Não sei de onde me surgiu esse tema, mas pensei nessa história de “se sentir mulher”.

Geralmente, esse tal “sentir-se mulher” é retratado de uma forma idílica e sonhadora. E em 99,99% dos casos, tem conotação romântica e lasciva. A cunhã, em seus momentos de nostalgia, recorda um (ou vários) episódio (s) em que um moreno alto, bonito e sensual a levou ao paraíso. E ela, agradecida, brinda o ego do machão com a frase clichê: “Você me faz sentir mulher!”. Acho que momentos assim só devem ocorrer com a mesma freqüência nos consultórios de cirurgia de mudança de sexo espalhados pelo mundo.

Bom, não vou discutir a validade dessa constatação. A cada dia a vida me ensina que “é cada qual com seu cada qual”. Não convém questionar. Porém, nada me impede de relatar a minha epopéia em descobrir-se mulher. E nada de se animar achando que vou escrever um conto erótico ou coisa parecida. A minha visão sobre o assunto é bem menos empolgante e nem um pouco apimentada. Está mais para o tempero amargo da realidade. Trágico!

A primeira vez que recordo ter “me sentido mulher” foi por volta dos 6 ou 7 anos de idade. Eu sou de uma geração desprovida de tecnologia, cujas brincadeiras eram do tipo pega-pega, esconde-esconde, garrafão, em suas acepções mais ingênuas e infantis. Mesma época em que “controle de natalidade” era uma prática nada popular. Resultado: uma penca de meninos na rua, nenhum Play Station nas casas e muita disposição pra brincar.

Certo dia, os garotos da rua organizaram um joguinho de futebol em frente a minha casa. Eu normalmente era quieta. Gostava de ler e conversar com adultos, hábito que me conferia uma atmosfera precoce. Mas nesse dia, me senti atraída pela correria, pelas risadas, pela competição, por aquela confusão de gente atrás de uma bola, sem qualquer regra chata de impedimento, falta ou coisa parecida. Então, como um bebê atraído pela chama, sem ter qualquer noção do mal que havia nisso, eu “entrei em campo” e saí chutando a bola pra qualquer lado, sem saber nem à qual time pertencia (se é que havia times definidos). Acho que foi um dos momentos mais alegres da minha vida. Eu ria sem parar. Para mim, não existiam meninos e uma menina. Só enxergava uma brincadeira muito divertida. E os brutinhos não me pouparam de jeito nenhum. Levei tanta canelada que ainda hoje carrego cicatrizes. Mas a maior cicatriz ainda estava por vir...

A farra não durou 15 minutos. Era noite e meu pai estava prestes a chegar do trabalho. Sempre que ele apontava na esquina, eu saía correndo feito uma maluca, só para abraçá-lo. Mas nesse dia, de tão entretida com a diversão, não o vi chegar. Só sei que percebi, de relance, seu vulto entrando em casa rapidamente, como que tomado por algum descontentamento. Nem de longe achei que a causa desse mau humor fosse sua filhinha querida do coração. Segundos depois, ouvi aquela voz inconfundível, de timbre grave e potente, gritar na porta de casa: “Ô Luciana, venha cá, agora!”.

Gente, sabe quando a Dona Florinda chama o Kiko de Frederico? Pois é, pra mim foi mais ou menos assim. Meu pai só me chamava de Ciana, Cianinha ou Fofoletti (que fofo!). Ser chamada de LUCIANA perante a rua inteira foi pior do que um xingamento. Fiquei imaginando o que poderia ter feito, mas os olhares dos vizinhos estrategicamente distribuídos nas “calçadas dos fuxicos” me deram a impressão de que eles conheciam o motivo da queixa. Entrei pelo portão e vi a figura imponente do papai, impostado na área, com uma expressão dura e fria. Minhas pernas amoleceram. Fui em sua direção parecendo que ia subir no cadafalso.

Bom, se querem saber, ele não encostou um dedo sequer em mim, embora tenha segurado o cinto durante toda a nossa “conversa” (que ficou mais para um monólogo). Mas disse coisas que dilaceraram meu coraçãozinho inocente. Falou que se sentia decepcionado com aquele comportamento, que não se conformava em ver que uma filha que lhe tirou tantas noites de sono por problemas de saúde lhe causasse tamanho desgosto e vergonha. Aquelas acusações, para mim, não faziam o menor sentido. Eu simplesmente não entendia o que havia feito de errado. Mas, de uma forma estranha e incompreensível, me impus um rótulo de culpa e inadequação que carrego até hoje. E quando, no auge da fúria, papai gritou que “uma menina não tinha nada que estar brincando no meio de um monte de machos”, posso dizer que, pela primeira vez na vida EU ME SENTI MULHER!

Desde então, passei a policiar mais as minhas atitudes, especialmente se estivesse perto da hora dele chegar. E passei a enxergar coisas que antes não via, como se uma lente de contato de segregação e preconceito tivesse sido implantada nos meus olhinhos pueris de outrora. Eu vi a maldade que me ensinaram a ver. E que, um dia, também ensinaram ao meu pai. Porque a verdade é que, quando crianças (tanto eu, quanto ele), não tínhamos essa visão maldosa das coisas. Por isso, não o culpo pelo que aconteceu (pai, não venha puxar meu pé no meio da noite).

Claro que esse não foi o único momento em que ME SENTI MULHER. Me senti mulher muitas vezes quando passei noites solitárias depois de uma discussão conjugal, quando meu marido, de posse de seus “plenos direitos de macho” saía durante a madrugada para tomar umas e esfriar a cabeça, enquanto eu era obrigada pelas convenções sociais a permanecer encerrada na claustrofobia do lar vazio; me senti mulher quando no trabalho perdi uma promoção que por competência e merecimento seriam minhas, para um homem que, embora menos qualificado, supostamente teria mais tempo disponível para se dedicar aos objetivos da empresa; me senti mulher inúmeras vezes quando recebi tratamento diferenciado em casa, em relação aos meus irmãos, vendo meus pais serem bem mais condescendentes com suas “falhas e defeitos” porque eles eram homens, enquanto eu era bem mais exigida e cobrada em tudo; e, principalmente, me senti mulher quando esta semana, coloquei minha sobrinha (de 6 ou 7 anos de idade) para dentro de casa quando a vi sorridente, correndo na rua em meio a um monte de meninos e senti aquela incômoda sensação de “dejavú”. Sensação essa que me fez compreender que reproduzo as mesmas incoerências com as quais sofri e continuo a sofrer. E olha que eu sou atrevida, pois em comparação com outras mulheres, costumo contestar, renegar e romper muitas barreiras com as quais tentam limitar meus direitos de liberdade e igualdade. Mas confesso que isso já me custou muito: tanto do ponto de vista material quanto emocional.

No entanto, não vou desistir. Prefiro ser assim, inquieta e questionadora, do que aceitar passivamente as coisas como elas são. Não sei se isso me faz mais feliz, só sei que me faz mais EU! Vou continuar tentando identificar e vencer meu próprio preconceito para depois, poder exigir isso dos outros. Afinal, meu pai já partiu dessa para uma melhor, então, não corre o risco de ele aparecer na esquina com uma cara emburrada e um chinelo pesado na mão.

Um beijo para todos e até a próxima,