Escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore... será que ainda é suficiente??? |
Olá, meus amados leitores!
Eu sei que esta saudação efusiva pode
contrastar com a aparente indiferença demonstrada pela ausência de postagens.
Mas acreditem, tal ausência
foi sentida principalmente por eu mesma, que tenho por este espaço um
carinho especial.
O que ocorre é que as inúmeras obrigações
cotidianas impendiam novas atualizações e bloqueavam as inspirações. Era o
trabalho que consome além da conta, a pia cheia de louça que parecia dar cria
ao final de cada lavagem (sim, eu lavo louça, pelo menos de vez em
quando), a família que carecia de atenção, a saúde que reclamava
cuidados, as atividades religiosas necessárias ao bem-estar e, sob o pano de
fundo de tantas urgências, a lembrança
de um blog abandonado martelando na minha consciência já sobrecarregada por tantos fardos
mal administrados.
E, para vocês verem como são as coisas,
foi justamente durante a resolução de uma dessas cobranças (a louça suja),
que o pensamento inspirador surgiu concatenado à angústia que me oprimia por
não poder fazer tudo o que gostaria e tão bem quando achava que deveria.
Enquanto lavava a louça, agradecia aos
deuses pela chance de distrair meus pensamentos da lembrança de uma bandeja de Chambinho, o queijinho do coração,
que estava guardada na geladeira. Sim, meu bem, porque na minha infância (época
de extrema pindaíba em que não havia Bolsa Escola para prover os caprichos de
uma criança chantagista), um dos meus sonhos de consumo era comer um Chambinho sozinha. A carência dessa iguaria
era tão sentida pelo meu pobre ser pequenino que quando era abençoada por tal
dádiva, eu degustava o
minúsculo potinho com um garfo, para demorar mais para acabar. E escondida,
é claro. Não que fosse egoísta, muito pelo contrário: como irmã mais velha era
duro engolir alguma gostosura furtiva com a lembrança de dois irmãos menores
chatos e implicantes a cobrar-me as obrigações fraternas. Mas com o Chambinho a
coisa era diferente, tamanho o valor que tinha para mim.
O que ocorre é que hoje - vejam só a
ironia - tenho de me controlar para não
atacar a bandeja inteira, já que a menina
magricela deu lugar a uma mulher madura e bem fornida, que sofre horrores
para perder peso. E a culpa por não querer dividir o Chambinho com as outras
criancinhas deu lugar à culpa pelo esforço
de resistir à tentação enquanto no mundo inteiro, tanta gente passa fome.
Ou seja, o motivo mudou, mas a culpa ainda está lá, a comprimir a minha lombar
(até rimou!).
Bom, agora que eu já protagonizei meu momento de divagação e delírio,
vou entrar de vez no tema que é a ansiedade
do mundo moderno.
Há alguns anos, a sabedoria popular
afirmava que qualquer fulano seria feliz se completasse sua missão na Terra,
sintetizada pela máxima: “Plantar uma árvore, escrever
um livro e ter um filho.”. Pois é. Mas hoje, diante de um mundo tão competitivo,
abarrotado de ofertas, tentações, informações e cobranças acho que se eu ESCREVESSE UM FILHO, PLANTASSE UM
LIVRO E PARISSE UMA ÁRVORE, ainda assim não seria suficiente. Parece que
não basta mais ser BOM,
você tem que ser O MELHOR!
Tarefa quase impossível diante de uma humanidade
que alcançou as estatísticas dos bilhões em
que quase todos também querem
ser “O MELHOR”.
E aí? Quem é o Juiz? Quem decide essa
parada? Quem fiscaliza o páreo? Fica difícil saber. Estamos todos nadando perdidos num oceano de
variedades e diversidades, como náufragos que precisam se manter desesperadamente na
superfície, bem visíveis, ainda que demos braçadas
sem rumo e sem destino, sem
saber onde está a terra firme. E a profundidade
submersa nos parece por demais assustadora, já que nos
vemos praticamente obrigados a estar onde todos estão: de preferência até acima dos demais, nem que
seja preciso brotar asas no
lugar onde a natureza nos deu braços.
Para nós mulheres, premiadas por uma dose extra de ansiedade hormonal,
essa angústia pode ser ainda mais devastadora. Porque saímos do casulo da mesmice e dos limites
sufocantes do passado. Dos destinos
previsíveis de mães, esposas e donas-de-casa, encontramos um universo de possibilidades:
novos espaços, novas metas, novos caminhos a percorrer. Mas ainda nos encontramos presas às cobranças
culturais e ficamos
profundamente divididas diante
das novidades a usufruir e
descobrir no mercado de trabalho, na política, nas artes, nos esportes, enquanto os deveres “tradicionais” permanecem na nossa lista de prioridades.
Nesse ínterim, muitas mulheres são massacradas pela ideia de serem excelentes
profissionais, vencendo o machismo através de resultados espetaculares e
comportamentos irrepreensíveis, enquanto sofrem
com a dúvida diante da maternidade tardia ou mal exercida. E de quebra,
ainda precisam manter-se sempre lindas, jovens e atraentes, prontas para o príncipe encantado que caiu do
cavalo branco bem em cima de uma Ferrari vermelha.
Não que essas novas conquistas sejam uma
coisa ruim. Muito pelo contrário. São
justas e necessárias. Mas o mundo moderno, tão corrido e inquieto, ao invés de nos proporcionar a
liberdade de escolha parece nos aprisionar num arsenal de novas obrigações.
E na urgência de fazer tudo,
de provar tudo, de experimentar tudo da forma mais profunda e satisfatória
possível, fica difícil dizer o que verdadeiramente
ESCOLHEMOS ou o que ESCOLHERAM PRA NÓS! No final das contas pode ser que
estejamos apenas cumprindo
metas diferentes do passado, mas ainda assim, cumprindo metas e padrões estabelecidos pelos
outros e não por nós mesmas.
O que vale aqui é uma mensagem sincera de reflexão, ao qual me comprometo (de boa,
sem pressão) a compartilhar. Antes de nos jogarmos diante de meta, de um
objetivo aparentemente essencial à felicidade e que represente a idealização de
uma vida plena e satisfatória, paremos um instante para pensar se realmente QUEREMOS aquilo ou se apenas projetamos mais uma peça desse
quebra-cabeça sem fim. Pode ser que o que tanto almejemos como satisfação seja justamente a causa da insatisfação. Nada que não
surja do nosso oceano de profundidade pode
ser realmente completo. O que está na superfície é apenas uma minúscula parcela
da complexidade humana. E jamais conheceremos essa profundidade enquanto
continuarmos a procurá-la ACIMA
DA SUPERFÍCIE. Concentremos, então, nossos esforços em mergulhar e conhecer nossos desejos
mais profundos e sinceros, para depois comprarmos o ingresso do parque de
diversões e gozar da vida aquilo que verdadeiramente nos fará felizes,
mesmo que o brinquedo escolhido seja
o batido carrosel ou um brinquedo novo e nada convencional. O que deve
estar em jogo é a SUA ESCOLHA!
Beijos,
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fala aí, cunhã!