sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Como nossos pais!

Os pais são seres humanos imperfeitos, assim como você!
No post que falei sobre o valor da amizade há uma passagem que provocou a justificada ira de mães ávidas em me dar uma lição de moral.

O trecho em questão contém uma boa dose de humor negro e ironia, que para quem ainda não percebeu são típicos da maioria dos textos desse blog e, portanto, dispensa maiores explicações aos politicamente corretos.

Porém, neste caso, vou abrir um parêntese para o tema até porque confesso que ele expressa algo que realmente acredito. E para colocar mais lenha na fogueira vou reavivar a memória dos leitores sem dar-lhes ao trabalho de usar a barra de rolagem, transcrevendo o trecho gerador da discórdia:

Não tem quem suporte uma pessoa grudenta, controladora, passional e melindrada. Se você é assim, fique logo sabendo que sua mãe não te ama igual aos outros filhos, não. Ela só diz isso porque se sente culpada por ter vontade de te entregar no setor de achados e perdidos”.

As mães (e, diga-se de passagem, filhas) revoltadas questionaram como eu, uma figueira seca, sem filhos nem marido, poderia ter a audácia de colocar a prova um sentimento tão genuíno.

OK! Nunca tive dúvidas quanto a isso e creio piamente que o amor maternal é o mais próximo que existe do amor divino. Mas o pingo de maturidade que adquiri com certas experiências familiares me fizeram compreender que mãe também é ser humano, e como todo ser humano, sujeito a afinidades e antipatias.

Sou a 2ª filha dos 5 bacorinhos da minha mãe, uma mulher batalhadora e com a qual sempre alimentei sensações dúbias de desconforto e admiração. E tenho plena convicção que ela prefere os outros filhos a mim. No passado isso foi doloroso, motivo de rebeldia e falta de aceitação, mas hoje encaro numa boa.

Afinal, como eu poderia esperar que ela amasse mais a mim, que deixei de gostar de azul quando descobri que era sua cor favorita, ao invés da irmã que diz amém a tudo que ela expressa? Se há momentos que nem eu mesma me agüento, porque deveria acreditar que mamãe é o espírito santo encarnado e que seu sentimento é imune a todas as irritantes contradições de pensamentos tão conflitantes?

Veja bem, não estou dizendo que ela não me ame. Estou apenas dizendo que o seu amor, um sentimento alimentado ou ferido diariamente pela convivência, é mais forte pelos filhos com os quais tem uma natural identificação e um relacionamento melhor. E nem por isso eu preciso morrer ou fazer uma tatuagem na cara para ir ao “Casos de Família” expor meu drama para a equilibradíssima Cristina Rocha.

Um dos maiores problemas da visão machista é enxergar a mãe como “madona mia”, um ser angelical, livre de defeitos, uma santa capaz de suportar tudo em nome da felicidade dos filhos, sem os quais ela seria incapaz de existir e sua vida teria sido totalmente sem propósito.

É por causa dessa visão radical que existem mães se martirizando pelas escolhas erradas dos filhos, mesmo tendo feito tudo que estava ao seu alcance. E filho é bicho safado mesmo, vamos combinar. É só assistir a um programa policial e ver o repórter entrevistando os “santinhos do dia”. O cara que teve tudo nas mãos justifica sua queda dizendo que a culpa é da coitada da mãe que nunca impôs os limites que deveria, ao passo que o danado da cela ao lado também joga a responsabilidade nas costas da genitora que era muito controladora e motivou sua rebeldia.

Como diria Renato Russo: “você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você”. São crianças mesmo. E o que é pior, com a tarefa de educar outras crianças, de ensinar-lhes o melhor caminho quando a maioria nem sequer teve tempo de encontrar o seu.

Sei que um dia serei mãe e de preferência, terei só um filho para transformá-lo num menino chato, mimado e cheio de vontades. Mas se vier mais de um, é bem possível que mesmo amando-os do fundo do coração, terei uma “ligeira inclinação” por aquele que parecer mais comigo. Apenas, é claro, nunca admitirei isso sob qualquer circunstância.

Beijo da mamys!

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