sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pisa naquele que te dá carinho!!!!

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Cartilha da mulher poderosa e realizada: pise no outro com firmeza, mas sem descer do salto!


Bom dia, amados leitores!


Última sexta-feira do ano, tem coisa mais gostosa? Bom, eu já estou aqui, curtindo os derradeiros dias de 2011, um ano que foi marcado por mudanças. Algumas, muito boas. Outras, nem tanto.


Quanto à saúde, posso dizer que estou igualzinho ao Chapolin Colorado: todos os meus movimentos são friamente calculados. Aceitei o fato de que tenho um problema na coluna que não pode ser ignorado. Portanto, atos comuns do dia a dia, como sentar, levantar, deitar, andar e outras “cositas más” (ficam a cargo de vossa imaginação) precisam ser bem planejados antes de serem executados. Isso se eu não quiser passar mais uma semana travada em cima de uma maca dura e fria de um hospital do SUS. Então, paciência: é melhor devagar e sempre do que rápido e letal!


Em relação às expectativas para 2012, posso dizer que não são tão extraordinárias assim. Na verdade a única coisa que preocupa é saber que não poderei mais usar os charmosos chapeuzinhos, já que o novo acordo ortográfico só nos permite escrever do jeito antigo (que por sinal, demoramos séculos para aprender) até o final deste ano. Tudo bem, eu sobrevivo.


Mas a razão pela qual resolvi escrever hoje é outra. Como está todo mundo naquele clima de alegria, felicidade, esperança e falsidade (aposto que você vai abraçar aquele seu vizinho odioso na hora da virada, mas depois vai fazer a egípcia pra ele), eu, que sou má e cruel, decidi fala sobre um assunto mais deprê: as decepções afetivas.




Sim, pode pegar seu Prozac e uma caixinha de lenços, porque vamos entrar no túnel do tempo da dor e do desespero.


Quem nunca se decepcionou? Pode ser com um amigo querido, um familiar preferido, um companheiro idolatrado, um colega de trabalho admirado, enfim... Todo mundo já quebrou a cara. Ah! Você ainda não? Bom, pelo menos já sabe o que o futuro lhe reserva (eu avisei que estava ferina hoje). Mas é sério. Decepções e frustrações unem seres humanos e mulheres em salão de beleza tal qual os pólos negativo e positivo de um imã se atraem. É a lei do oeste!


E depois da decepção, lá se vão os questionamentos obsessivos (Porque ele fez isso? Porque justo comigo?), as noites mal dormidas e as indiretas no facebook. Ou no Orkut, se você ainda está curtindo uma fase demodê. Não é nada fácil superar e por mais que lhe digam que isso é bobagem, que ninguém merece todo esse sofrimento, a verdade é que você vai sofrer. E só o tempo vai curar. Ou não, se a sua “nóia” for caso de internação. Vai saber!


De repente pode estar se perguntando: mas Feminista de Arake, você veio até aqui só para dizer o que já sabíamos? Não tem nem uma formulazinha mágica, receita caseira ou livro de autoajuda para recomendar? Ih! Furou! Não tenho mesmo, fofa. Até porque, se tivesse, não sofreria com as MINHAS decepções, né?


Na verdade o que mais me motivou a escrever foram as mudanças de valores e de características de personalidade que por conta dessas frustrações, aprendemos a valorizar e a almejar para nós mesmos. Durante toda a minha vida, escutei continuamente (especialmente dentro do seio familiar) o quanto eu era tola, boba e besta. Em outras palavras, uma abestada, como diria o Deputado Tiririca. Tudo isso porque sempre me preocupei com pessoas a quem queria bem (independente de serem familiares, amigos ou companheiro) aparentemente num grau maior do que a contrapartida. E claro que isso ocasionou, durante toda a minha vida, situações muito sofridas de decepção. Em parte, foi essa a razão de boa parte das dores físicas que hoje carrego.


Exageros à parte (que devem ser coibidos pelo nosso próprio bem), e avaliando de uma forma geral, o que tenho a dizer em autodefesa é que não me considero, por conta de tudo que já aconteceu, o lado errado da história.  Quer dizer, eu posso até ter errado na forma de “jogar o jogo”, que talvez fosse muito mais complexo e cheio de regras do que fui capaz de perceber. Mas jamais vou admitir que mereço ser condenada pelo meu sofrimento tendo em vista a forma confiante e sincera com a qual me entreguei. Se são, efetivamente, as motivações que fazem toda a diferença (já que atos aparentemente perfeitos podem esconder intenções bem ardilosas), porque aceitaria que agi ERRADO quando meu único combustível era um sentimento sincero de amizade, amor e preocupação com o outro?


Infelizmente, o que ocorre nesses casos é uma inversão absurda de valores.  A sociedade, para efeitos de “bandeira” (que tem uma turma que adora levantar de todo tipo, sem nem direito saber porque), pode até enaltecer e propagar admiração pelos Prêmios Nobel da Paz. Mas na prática, no dia a dia mesmo, inveja e sente vontade de ser aquele que sai atropelando Deus e o mundo e obtêm sucesso sem preocupar-se com os sentimentos alheios. Tudo numa tentativa louca de tentar ser do mesmo jeito, blindados contra o sofrimento e a decepção, já que aparentemente esses super-humanos nem sonham o que é isso.


Mulheres fatais, praticamente fêmeas andrógenas que para todos os efeitos desconhecem noites de amargura e lamento pela perda de um amor. Pelo contrário: dispensam os míseros e condenados homens que tem o azar de por ela apaixonar-se.


Homens poderosos, colecionadores de conquistas e vitórias. Estão sempre seguindo em frente, caminhando sem olhar para trás. Se alguém se atreveu a cruzar seu caminho e alimentar (ou ter alimentado) suas esperanças, azar o do cristão. Ou melhor: culpa do “besta” que deveria ter detectado automaticamente a roubada em que se meteu, não importa o quão frágil estivesse esse cristão, ou o quão sincero fosse seu desejo de fazer o bem àquele exemplar majestoso de poder e sucesso!


No fundo, parece que ninguém mais admite sofrer em hipótese alguma. A tristeza, inerente à condição humana, tornou-se praticamente um erro imperdoável, uma condição inaceitável, quase uma falta de educação. O mundo de hoje é alimentado por todo tipo de ilusões. Queremos assistir seriados para rir, tomar uns tragos para curtir, ouvir uma música animada para se jogar... Não pode sobrar espaço para parar e pensar no vazio que todos carregamos e nas lembranças ruins que todos guardamos. Depressão, ao que parece, nunca esteve tão na moda e, ao mesmo tempo, tão fora de moda. É tão fartamente diagnosticada (Dr. Google que o diga) e, ao mesmo tempo, tão largamente negligenciada. Todo mundo sabe que existe. E muito. Mas ninguém quer se deparar ou encará-la. Seja em si mesmo, ou em alguém que está passando por isso. Não se pode abrir espaço para o sofrimento, pois antes um sorriso falso do que nada, não é? Bom, pelo menos é o que dizem...


Felizmente, alguns estudos tem caminhado no sentido inverso. Novas pesquisas na área da psicologia revelam que a depressão pode, sim, ter seu lado produtivo e positivo. E que, talvez, entupir um depressivo de remédios que equilibrem os níveis de endorfina e lhes garanta a felicidade artificial (pelo menos durante algumas horas) não seja exatamente a solução mais eficaz para o problema. Afinal, se você não confronta o que lhe aflige, se não conversa sobre isso e apenas encalca e maquia a sua dor, como poderá verdadeiramente saná-la por definitivo?


Quanto a mim, me orgulho de “ser uma besta”. Uma besta que ama, que se doa, que sente prazer em fazer coisas que garantam o bem estar daqueles a quem eu quero bem. Se vou quebrar a cara? Certamente. Muitas vezes. Talvez a única coisa que ainda precise aprender é a ME AMAR MAIS. Não para que esse amor próprio me isole num pedestal e me afaste de todas as pessoas (afinal, todos os seres humanos são perigosos e ingratos em potencial) e me prive da delícia que é proporcionar um momento de alegria para os alvos do meu afeto. Mas para que, durante a próxima decepção, possa me valer a certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance. E essa consciência tranquila seja o suficiente para garantir um sorriso sincero no meu rosto, apesar de toda a tristeza.


Feliz 2012!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Lá vem a coroa, lá! Lá lá lá lá lá lá!

Chegou a hora de apagar a "velhinha"!

Finalmente chegou! Hoje completo 31 “primaveras”. Ok! Estão mais para outonos sombrios, mas valeu a tentativa.


Bom, pode parecer meio deprê para uma mulher passar dos 30. A partir dessa idade a força da gravidade é elevada ao cubo. Mas é evidente que a magia dessa fase compensa todas as perdas, pois a experiência e a maturidade são conquistas valiosas que tornam a mulher mais plena e confiante. Por isso jamais trocaria essas preciosas aquisições só para voltar a ter 20 anos. Ah! A quem estou querendo enganar! É claaaarroooo que eu queria voltar aos meus 20 anos, até porque toda essa “maturidade” só serve mesmo pra gente enxergar mais nitidamente o mundo cruel e as pessoas mais cruéis ainda que vivem nele. A miopia romântica da juventude torna tudo mais leve e mais fácil, não dá pra negar.


No entanto, me consola o fato de eu acreditar em reencarnação. Então voltarei a ter 20 anos outras vezes, mesmo que não seja mais sobre esse planetinha azul que provavelmente vai me expulsar depois de seu inevitável processo de regeneração. Tem nada não. Vou viajar por outras galáxias de graça, tá, meu bem. E enquanto estarei vivenciando uma experiência extraterrestre, vocês estarão pagando impostos para sustentar a NASA com bilhões de dólares, só para que ela me procure pelo espaço sideral. Algo digno de uma celebridade intergaláctica arredia e blasé! Meu sonho!

Pois é. Enquanto invento desculpas pra sustentar o orgulho da minha desolação, aproveitei para avaliar mais um ano que se passou, por sinal, muito mais rápido do que eu gostaria. E ainda vem a nariz de tomada da Daniella Albuquerque querer que o ano tenha só 361 dias. Pra ela é fácil, né. Tem a grana do maridão e o Dr. Rey ali pertinho pra deixá-la toda esticada. Bom, mas voltando ao tema da reflexão pós traumática (o trauma é o aniversário, tá, gente), confesso que essa data especial não está sendo das melhores. Mesmo deixando de lado a questão do peso da idade, que no final das contas não é tão relevante assim (mentira de novo), meu nível de melancolia está mais elevado do que o de costume. Também, pudera. Ano passado eu estava linda, serelepe e saltitante, comemorando e festejando com amigos ao som contagiante da Lady Gaga. Enquanto que meus planos para hoje incluem uma insossa sessão de fisioterapia especial que custa os olhos da cara. Tudo pra ver se consigo aplacar um pouco dessa dor pungente e constante. Mas quer saber, analisando sob outro ponto de vista, posso até dizer que estou bem mais irresistível. Porque quando levanto pela manhã, os sons que ecoam dos meus ossinhos parecem estralos que saem daqueles plásticos-bolha que exercem um inexplicável poder de atração sobre qualquer ser humano da face da Terra. Só não inventem de tentar me espremer que eu não tenho mais saúde pra isso.

Mas no geral, posso dizer que estou, se não feliz, pelo menos satisfeita. Porque tive a graça de ter sido capaz de, mesmo em momentos muito críticos, tomar decisões difíceis e dar uma guinada na minha vida. E acredito que Deus premiou minha coragem (temperada por uma dose generosa de inconsequência), porque consegui um encaminhamento mais rápido do que imaginava. Isso restabeleceu a autoconfiança, renovou as esperanças e fez acreditar que eu poderia (e sempre posso) vencer o medo e fazer coisas das quais tantas vezes me julguei incapaz. É, sem dúvida, um alento para uma fase tão delicada. E, principalmente, uma lição para os próximos momentos difíceis que certamente ainda virão.


E quer saber? No final das contas, a vida é assim mesmo. Uma hora por cima, outra por baixo (não sejam maliciosos que não estou podendo pensar nessas coisas). E compreendi que essa crise de saúde e a solidão que agora me assola e maltrata, certamente representam uma parada forçada do próprio corpo para lembrar que preciso olhar mais para dentro de mim. As distrações e alegrias fugazes já não são mais eficientes. Talvez o fossem, nos meus 20 anos. Mas agora já deu o que tinha de dar.

Não sei se nesse processo de exploração interior vou gostar do que verei (imagino que meu fígado e rins não sejam nada bonitos). No entanto, cansei de me maquiar e fingir que me entendo. Mesmo que doa, admito que o autoconhecimento é condição expressa para a autoaceitação. Uma análise nua e crua, sem favorecimentos ou condenações exageradas. Só não me perguntem o que vai sair disso. Não faço ideia de quais caminhos e decisões vou tomar. Mas ao ponto em que eles forem sendo traçados POR MIM, dividirei com vocês algumas impressões e consequências. Na medida do possível, é claro. Afinal, aprendi que é melhor amargar em silêncio as suas dores, do que sofrer com a expectativa do que foi compartilhado. Pelo menos você só espera algo de si mesma. Ponto!


Agora vou indo. Preciso comprar as lembrancinhas e alugar o vestido para debutar na sociedade. É como sempre digo: Maturidade é tudo!


Beijos da coroa enxuta!


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pra que ser você se você pode ser melhor?

Ah! Dezembro! Último mês do ano! Em todo o planeta, milhões de seres eufóricos se descabelam em busca das mais variadas formas de gastar seus suados 13º salários (poupança que é bom ninguém lembra, né?). Minha situação é ainda mais trágica, porque a mudança de rumos profissionais reservou-me famigerados “dois doze avos”. Tudo bem, melhor do que nada. Dá pra comprar alguns pacotes de Salonpas para curtir a virada do ano com um look branco totalmente ousado e inovador. Se Lady Gaga pode aparecer vestida de carne e a Mulher Melão com pulseira de atadura verde, porque eu, uma feminista vanguardista, não posso usar um top de emplastros?


Nesse contexto, ocorre que as indústrias de exploração capitalista desconhecem meu estado de total falência econômica e por isso já começaram a bombardear meu e-mail com ofertas de todo tipo. Emagrecedores, Bronzeadores, Alisadores, Protetores, Mordedores, enfim, tem de tudo. E para piorar, ainda inventaram os tais sites de compras coletivas, que lhe permitem desfrutar da nata dos essenciais serviços supérfluos de classe A. E ainda que o mau atendimento seja garantido ou seu dinheiro de volta, ainda assim vale a pena dar uma pinta naquelas clínicas de estética luxuosíssimas munida do seu cupom de desconto feliz da vida, ignorando o desolhar de desprezo das patricinhas vip’s que adquiriram os mesmos serviços pelo preço TOP, ou seja, com direito a sorrisinho falsos e comentários sobre a absoluta falta de necessidade de submeterem seus sarados e perfeitos corpinhos às sessões de drenagem e pavimentação. Perdão, esse parte final do comentário é reflexo da minha nova rotina.

Em meio a esse arsenal de ofertas, recebi um e-mail com a seguinte chamada:

REJUVENESCIMENTO – NUNCA MAIS APARENTE A SUA IDADE!

Como assim? Estão vendendo serviços de criogenia ou embalsamento em 12 vezes sem juros e com frete grátis? Bom, seja lá como for é realmente tentador, especialmente se você está “coincidentemente” no mês de seu aniversário. Uma data que até a casa dos “vinte e poucos anos” era sinônimo de alegria e comemoração. Mas que depois dos 30 perdeu uma boa parte do seu charme.

Sendo assim, logo pensei em garantir a minha cota de participação desse produto milagroso.  Mas se fosse para corrigir e disfarçar imperfeições, só mesmo se tivesse guardado todos os 13º salários que torrei durante tantos anos de trabalho. Porque se o objetivo é não aparentar quem sou, no mínimo vou precisar de:







Bom, meus lindos, como podem ver o que não faltam são recursos para que não precisemos mais sofrer pelo fato de sermos imperfeitos. E lembre-se: época natalina é época de presentar, de amar ao próximo incondicionalmente. Aproveitem e corrijam também as imperfeições de seus espíritos mesquinhos e avarentos treinando um pouco do desapego material. Uma boa sugestão é doar uma parte do seu 13º àqueles que foram privados do valor integral. E pra quem não entendeu a indireta, estou aceitando cupons de compras coletivas com o maior prazer.

Dezembro, aqui vou eu!

P.S.: Esse post não foi patrocinado por absolutamente ninguém. Mas bem que poderia ter sido!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Maktub

Nem vem tentar me convencer que isso é arte abstrata porque comigo não cola!

A leitura sempre representou muito mais do que uma mera distração ou incômoda obrigação: ela é o caminho que encontrei para saciar uma inesgotável curiosidade (lembra daquele menino pentelho do Castelo Ra-Tim-Bum?). E quanto mais eu exploro, mais o conhecimento se aprofunda, denunciando as limitações do meu minúsculo espírito prepotente.


Agora que reduzi minha autoestima às proporções nanométricas, preciso assumir que embora seja apaixonada pela leitura, torço o nariz para alguns gêneros. A poesia, por exemplo. De repente essa personalidade ansiosa e inquieta de querer conceber e abarcar tudo-junto-e-misturado-de-uma-vez-só, naturalmente conduziu minhas preferências às crônicas, contos e romances. E embora tenha feito tentativas no sentido de coibir esse pensamento preconceituoso, é bem verdade que muitas experiências resultaram em frustração.

Sei lá, por vezes me parece figurativo demais, tipo a fábula da “Roupa Nova do Rei”, quando ninguém queria admitir que fosse burro por não conseguir enxergar aquele exemplar majestoso de vestimenta, visível apenas para os inteligentes. Ou como certas manifestações de “arte-abstrata”. Você se dispõe a perder duas horas da vida olhando para uma tela branca com um círculo vermelho pincelado no centro, torcendo para que seja agraciado com um Insight que o permita captar toda a genialidade contida naquela obra e, enfim, traduzir a mensagem subliminar codificada pelo pintor. Esquece. Não tem nada mesmo pra ver. É só um círculo vermelho no meio de uma tela branca. A explicação mais provável para ele estar ali é que algo foi insuficiente: a tinta, a disposição ou mesmo o talento do artista. Revestir as coisas numa aura de incompreensão e mistério é fórmula batida para transformar um embrulho vazio num pacote dourado e atraente, acessível apenas aos poucos “eleitos” a quem foi concedido o poder do entendimento. Ora bolas, se fosse por isso a Gaga de Ilhéus seria uma sumidade superdotada, porque não entendo absolutamente nada do que ela diz.

Porém, algumas simples manifestações do acaso premiaram meu gênio indomável com “aquela” sensação. Foi o caso do Poema Invictus, um texto curtinho, escrito em 1875 pelo inglês William Ernest Henley. Antes de falar mais sobre o texto e as emoções que despertou em mim, compartilho com vocês essa obra prima:

Invictus

“Noite à fora que me cobre
Negra como um breu de ponta a ponta,
Eu agradeço, a quem forem os deuses
Por minha alma incansável.

Nas cruéis garras da circunstância
Eu não fiz cara feia ou sequer gritei.
Sob as pauladas da sorte
Minha cabeça está sangrenta, mas não rebaixada.

Além deste lugar de raiva e lágrimas
É iminente o horror da escuridão,
E ainda o avançar dos anos
Encontra, e me encontrará, sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
O quão carregado com castigos esteja o caminho,
Eu sou o mestre de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.”

Fiz questão de destacar os últimos versos porque considerei os de maior impacto. E coincidentemente abordam um tema que há dias vinha pensando em escrever e não sabia como: o destino.

Embora não me agrade a ideia de usar este espaço para tatear pelo terreno minado que é a religião (em respeito aos leitores e suas convicções divergentes), preciso dizer que tenho uma convicção religiosa (e porque não dizer, filosófica) de que tudo de bom ou ruim que acontece na vida tem uma explicação, presidida pela Lei de Causa e Efeito. E dessa certeza parte meu entendimento sobre tudo: Deus, o Universo, as pessoas e os acontecimentos.

Porém, não é raro que quem pense assim tenha uma tendência em atribuir todos os fatos da vida a um destino inexorável, superior ao nosso controle. Se algo terrível e inesperado lhe aconteceu, é em decorrência desse destino que você mesmo plantou tempos atrás. Portanto, cabe apenas aceitar a justiça dos fatos.

Comigo não foi diferente. Talvez pela inclinação negativista eu tenha deturpado essa convicção. E ao invés de enxergar e consequentemente compreender todas as mínimas nuances, avaliando a crença num contexto mais amplo, preferi me apegar ao determinismo e rezar para que nada de ruim me ocorresse, considerando que nada poderia fazer para modificar essa realidade. Mas algumas reflexões me ajudaram a evoluir nesse aspecto. E o poema de Ernest foi a cereja do bolo!

O texto foi escrito numa cama de hospital, num dos muitos momentos de atribulação que marcaram sua vida. Vítima de uma tuberculosa óssea, teve a perna amputada ainda na adolescência, ficou órfão de pai muito jovem, perdeu a única filha vítima de meningite e, mesmo tendo convivido com a enfermidade que o assombrava e a deficiência física durante quase toda a vida, conseguiu chegar aos 53 anos de forma lúcida e ativa, justamente numa época em que a expectativa de vida não era lá essas coisas. Era um homem de personalidade forte e de profundas convicções, que fazia questão de defender com ardor, o que tornou célebre algumas inimizades como com o escritor Oscar Wilde, contra quem escreveu uma crítica desfavorável.

A impressão que Invictus me passou é que, independente dos preceitos religiosos vigentes naquele período e que envolviam os destinos dos homens e as características da entidade superior que os controlava, William não subestimou os poderes de SUA força de vontade e de seu livre arbítrio. Independente dos desígnios “dos deuses” (sejam eles quais forem, considerando a forma como diferentes religiões os pintavam) e das circunstâncias da vida que tão duramente e continuamente o golpeava, ele não se permitiu abalar ou desistir. Ou acreditar-se fadado a um caminho inevitável, cuja mudança estaria fora de seu alcance. E Ernest não teme chocar ou ferir o melindre religioso: afirma que independente das consequências do caminho que tenha escolhido e dos castigos que disso tenham advindo (ou ainda venham a ocorrer), ele assume todos os riscos, declarando-se CAPITÃO DA SUA ALMA. Veja bem: ele não diz que é o “dono”, mas sim o “condutor”.

William, na minha concepção, captou a distinção exata entre resignação e conformismo, cuja diferença é, ao mesmo tempo, sutil e gritante. Uma representa a reação do otimista. A outra, a do pessimista.

A resignação é o sentimento do trabalhador que é surpreendido pelo desemprego, e embora abalado pelo triste acontecimento, aceita que nada mais pode fazer EM RELAÇÃO ÀQUELA VAGA PERDIDA. Mas nada o impede de encher-se de coragem e confiança e assim, no da seguinte, lançar-se no mundo em busca de uma nova colocação. O conformista, por sua vez, recolhe-se ao estado de agitação e desespero, procurando culpados e vestindo-se do papel de vítima. E ao invés de concentrar suas energias no sentido de seguir em frente, prende-se ao passado, remoendo sua dura sina.

Resignado é o homem que, por uma fatalidade, perde uma perna e aceita o fato de que outra perna não irá nascer no lugar. Sua deficiência é incontestável, mas ele contesta, sim, o nível de limitação à que estaria “condenado”. Corajoso, rejeita uma vida de dependência e ócio e lança mão de todos os recursos disponíveis aliado à sua força de vontade, que o permitem superar e mudar os contornos de seu “destino”. Ao passo que o conformista carrega a deficiência imediatamente para sua forma de pensar, de agir, de lidar consigo e com o mundo. Torna o sofrimento tão superlativo que em alguns momentos a gente até imagina que o sujeito gosta mesmo de sofrer e se num passe de mágica fosse-lhe ofertada a oportunidade de reverter a situação, ele recusaria, porque daí não teria mais do que se queixar.

Em resumo, de certa forma, acredito, sim, que alguns fatos da vida estão fora do nosso controle e simplesmente ocorram, independente de desejarmos ou esperarmos o contrário. Talvez seja essa a parcela que o "destino" nos reserva. Porém, o que faremos DEPOIS desses fatos é que faz toda a diferença. A dor de quem sofre é sempre a mesma, o peso do golpe é igualmente forte, o choro pela perda não é menos amargo. Mas os INVICTUS não se permitem transformar o pranto em dilúvio nem fazer da tristeza o seu estado habitual. Eles lutam e vencem ao final de tudo, porque assumem as rédeas de sua vida. São os CAPITÃES DE SUAS ALMAS.

Talvez seja esse o meu maior objetivo de vida: ser mais forte. Não aquele conceito de “força” místico e exagerado que mais parece um estado de dormência, já que pretensamente blinda o sujeito contra tudo de ruim. O mundo pode tá se acabando e ele ali, fazendo cara de Chuck Norris. Esquece. Isso só existe nos filmes. Na prática, enquanto o atorzão faz caras e bocas, tem um dublê lá, se matando no lugar dele. O que quero conquistar a cada dia é a VERDADEIRA força, no sentido da superação, da volta por cima, da BRAVURA pra enfrentar as dificuldades que toparem pelo meu caminho. Afinal, ninguém está imune ao sofrimento. Mas certamente podemos nos tornar imunes à ideia de que as pancadas da vida tornam a existência irreversivelmente insuportável. No final das contas, vale sempre a certeza de que tudo vai passar!

Um grande beijo para todos!