sexta-feira, 11 de março de 2011

De médico e louco todo mundo tem um pouco!

Se existe amor entre nós dois, não me deixe aqui no chão...

Ontem, durante a aula de Sociologia (professor nota 10), assistimos ao filme “Bicho de Sete Cabeças”, com Rodrigo Santoro.

Até então, mesmo conhecendo a trajetória premiada da produção, ainda me privava de assisti-la, pois confesso que tenho um grau de sensibilidade um tanto apurado que por vezes me joga no mundo como folhas ao vento, sujeita aos ares da alegria e da depressão que sopram em diferentes ambientes.

Justamente por reconhecer essa suscetibilidade, o filme me proporcionou uma visão profunda e empática dos fatos. O protagonista, arbitrariamente internado num decrépito hospital psiquiátrico por ser considerado viciado pelos pais, vive uma ciranda de emoções de solidão, abandono, humilhação, raiva, enfim, tudo que terapeuticamente falando não oferece qualquer benefício e levam, é óbvio, ao agravamento do quadro. Ele não seria, como posso dizer, um “louco de nascença”; é na verdade um desequilibrado pela próprio sistema que depois se dispôs a curá-lo.

Quanto a nós, mulheres, somos mais sujeitas à doenças como depressão do que os homens. Estudos apontam os fatores físicos, como as variações hormonais, que no entanto não excluem outras causas. A perda de apoio social ou a ameaça dessa perda, por exemplo, é apontado como algo que pode aumentar a chance de uma mulher ter depressão. O que não é nenhuma novidade. Sentimos na pele todos os dias o abandono e a privação de direitos só por termos nascido fêmeas. E até o fato de externar nossa angústia é vista como um defeito. Mulher forte, de personalidade, uma “Amélia de verdade” passa fome calada e engole o choro pra não incomodar quem está a sua volta. É a mãe que suporta a hostilidade diária do marido, o descaso dos filhos que a fazem de empregada, os mexericos da vizinhança que dá conta de sua vida; é a profissional que sofre pressão excessiva para conquistar e manter seu espaço no mercado de trabalho, que recebe remuneração inferior ao equivalente masculino, que precisa sacrificar a vida pessoal para conseguir ser levada a sério; é a adolescente que inicia a vida sexual vítima de uma sociedade patriarcal que instiga os rapazes a tirar o máximo de proveito da “oferta” e cede seu corpo já bem formado enquanto a cabeça ainda não está preparada para a experiência, gerando a frustração e comprometimento da autoestima que possivelmente vão acompanhá-la por toda a vida; é a menina que nem percebe a passagem da infância porque está sobrevivendo do produto do consumo da sociedade que a exclui, comendo lixo e vestindo farrapos, isso quando não tem o azar de topar com um monstro que irá macular sua ingenuidade com a exploração sexual; é a mulher desgraçada pela brutalidade do parceiro, agredida física e moralmente, que teme denunciá-lo porque sabe que não receberá a proteção jurídica e social necessária; é a homossexual desrespeitada por sua orientação, duas vezes discriminada (por ser mulher e por gostar de mulher). Diz aí: é ou não é uma realidade “de enlouquecer”?

A linha entre sanidade e loucura pode ser muito menor do que imaginamos. Sinto até que a ultrapassamos todos os dias. O caos em que vivemos, a solidão em meio a um mar de gente, a sensação de vazio num mundo bombardeado por informações, tudo isso vai marcando nossa alma. E o preconceito (sempre ele) com a doença mental ainda é enorme. Um bobagem, porque nos entupimos de remédios por conta de uma simples gripe. Porque então privar-nos do tratamento necessário para a cura dos males psicológicos?

Meu sábio pai que já dizia que aquilo que não vemos torna-se mais perigoso, justamente por estar oculto. Ele comentava que quando se chega a um hospital com uma perna quebrada, sangrando, logo corre um monte de gente para atender. Mas se você chega andando, falando, não recebe a atenção que deveria. E se procura tratamento psiquiátrico, então, nem se fala. Se não demonstra sintomas aparentes (se não baba, se bate, ou diz que é Maria Antonieta), ainda é vítima da especulação alheia e do descrédito dos próprios profissionais de saúde. Acontece que por trás daquele rosto inexpressivo em meio à multidão pode estar uma mente inquieta e perturbada, capaz de tirar a própria vida ou a dos semelhantes em meio a um surto.

Já sofri na pele os males da depressão. Praticamente sozinha, isolada em meus pensamentos obsessivos, por vergonha e por medo de revelar minhas ideias desconexas e deixar preocupados amigos e familiares. Afinal, todos tinham seus problemas e os meus pareciam pequenos diante de uma conta de luz atrasada ou da dificuldade para arrumar um emprego, pois eram frutos da minha imaginação, eu que “os inventava”. Essa certeza quase me levou a fazer besteiras irreversíveis, as quais jamais tive coragem de confessar abertamente, e o inferno que vivi me fez enxergar com muita compaixão as pessoas em quem identifico um olhar perdido por trás de um sorriso automático. Sobretudo mulheres. E para elas eu digo: não se permitam sofrer, não se martirizem carregando a cruz sozinha, pois não somos e não precisamos ser super mulheres. Cristo já dizia que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Ou seja, a medida do amor pelo outro está no amor que temos por nós. A louça suja e o jantar podem esperar. Se sente que não está bem, pare e cuide de você mesma sem culpa. O mundo merece mulheres sinceramente felizes, com um sorriso verdadeiro no rosto. Quem te ama, vai te entender e te ajudar!

Um abraço caloroso da sua amiga de sempre!

2 comentários:

  1. Já assisti a esse filme e realmente é uma viagem. Eu não creio que já tenha entrado em um estado de Depresão, mas quase provoquei isso. Houve um tempo da minha vida em que eu era totalmente anti-social, tudo me revoltava, não me entendia muito bem. Graças a Deus que aparecem pessoas maravilhosas na nossa vida - me refiro aos meus amigos - que poderam me libertar daquele mundinho que eu vivia, construido através dos meus próprios pensamentos pessimistas. Nosso cérebro é uma máquina poderosa e é um desafio para nós estarmos estáveis a cada dia, pois apartir do momento em que uma sequencia de coisas acontecem e maneira inexperada,já viu né? Pra nossa vidinha chegar no fim do poço, não demora muito. Se aceitar como é e se amar, é a melhor coisa que uma pessoa precisaria para viver tranquilamente bem!

    :D

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  2. Jeff, a depressão é o mal do século! Atinge indiscriminadamente: ricos, pobres, jovens, idosos, enfim... É lamentável que mesmo diante de quadro tão desolador, ainda não se adotem políticas públicas que PREVINAM e TRATEM quem sofre do problema. Os depressivos ainda são isolados e censurados, como se essa enfermidade fosse UMA ESCOLHA ou uma FRESCURA (ouvi muito isso). Mas um dia a humanidade vai compreender que as enfermidades psicológicas são realmente graves e devem ser tratadas com respeito e atenção. Beijos, querido, bom restinho de fim de semana pra você!

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