Sei não, mas acho que alguma coisa mudou em mim... |
Você sabe que as suas prioridades de vida mudaram por completo quando age contrariando todas as expectativas referentes aos seus hábitos mais recorrentes e previsíveis. Algo tão inóspito e improvável que você, enfim, só acredita que é mesmo verdade porque estava lá, protagonizando os fatos de forma lúcida e de posse de todas as faculdades mentais. Mas se fosse outra pessoa que contasse que você realmente fez aquilo, ainda diria que era mentira da cunhã!
Pois foi isso que me aconteceu hoje à tarde. Estava eu, linda e loira no Shopping para pagar as faturas dos cartões de crédito, naquele momento depressivo e constrangedor que é a hora de tirar dinheiro do bolso para cobrir os rombos do mês. Sim, porque nos momentos de passar o cartãozinho de crédito a cada compra os olhos brilham, a serotonina entra no modo turbo e você se sente a senhora do destino. Isso até chegarem as correspondências (Greve dos Correios maldita, porque tinhas de acabar?) e começar a orar feito uma louca pedindo a Deus para seu cartão ter sido clonado e não ter sido você a verdadeira responsável pela escavação da própria sepultura.
Saindo do banco, passei em frente a uma vitrine e vi um vestido lindo, com todos os itens que o tornam ainda mais apaixonante e irresistível aos meus suscetíveis olhinhos. Estampa floral? Confere! Estilo romântico? Confere! Tecido estruturado? Confere! E ela, a linda, a maravilhosa, a absoluta Steffany rendinha! Fofo demais! Entrei correndo feito uma desesperada na loja, mantendo os olhos fixos no objeto da minha volúvel adoração para não correr o risco de perdê-lo de vista. Esbarrei na coitada da vendedora que, ante meu entusiasmo, trouxe correndo o vestidinho para que eu o experimentasse. No provador, contemplei a imagem da felicidade fugaz. Perfeito! Ao sair, perguntei o preço e a vendedora respondeu: R$ 140,00. Se fosse há algum tempo atrás, isso não faria a menor diferença pra mim. A única coisa que me interessaria saber era em quantas vezes poderia parcelar o mimo, para saber por mais quantos meses permaneceria nas garras do expoente máximo da indústria capitalista. Mas confesso, nem eu mesma me reconheci. Sabe o que eu fiz? Dei praticamente um grito de indignação que assustou a coitada da vendedora: “Tá louca, mulher? Deus me livre, com 140 reais eu pago umas dez sessões de fisioterapia!”. Sim, eu fiz isso. Imediatamente perguntei a mim mesma (dessa vez em silêncio, porque os seguranças já se aglomeravam na entrada da loja): “Quem é você e o que você fez comigo?”.
Foi um choque admitir que não sou mais a mesma. Sério, gente: dois meses de doença conseguiram fazer o que anos e anos de planejamentos, aconselhamentos, dívidas, sufocos e apertos não fizeram. Por isso que dizem que o ser humano gosta mesmo é de sofrer. É porque só aprende com a dor! Sabe lá Deus porque a gente age assim, mas deve ser a mesma lógica que explica os envolvimentos de mulheres lindas e independentes com cafajestes aproveitadores e insensíveis. Ou que explica o fato de o Collor ter voltado ao poder. Vai saber!
Bom, diante dos fatos, resolvi tomar mais uma resolução. E acreditem, não é mais uma daquelas decisões furadas que são desfeitas diante da primeira intempérie. É pra valer, mano! Não vou mais permitir que a vida bata em mim, pelo menos não quando seja eu a própria algoz! Nem vou esperar ter que passar mais uma semana vestindo fraldão geriátrico pra criar vergonha na cara e mudar o que tá errado. Vou priorizar o QUE e QUEM merece! Arrasei! Mas, por via das dúvidas, quando acabarem as sessões de fisioterapia vou dar uma passadinha na loja pra ver se o vestidinho ainda está lá. E se por acaso não rola um descontinho depois de algumas semanas de exposição, né? Ninguém é de ferro!
Beijo da gorda, uôu!