segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma Sorte de Zica!


A minha rebeldia nata tem explicação. Numa família de quatro irmãos, eu tinha uma irmã mais velha e dois irmãos mais novos. Péssima localização! Os mimos dos caçulas não me eram destinados e a supremacia da maturidade não ocorria primeiro pra mim. Quando as pessoas viam meus irmãos pequenos, diziam: “Que fofinhos!” Quando viam minha irmã mais velha: “Que mulherão!”. E eu lá, com cara de pêssego, mendigando migalhas de atenção. Além de sofrer horrores com a pentelhice dos pestinhas e a opressão da autoritária bruxa má.

Quando finalmente a girafa saiu de casa, eu pude vislumbrar um horizonte de possibilidades. Agora EU era a mais velha, estava na pré-adolescência e logo iria brilhar mandando e desmandado nos fedelhos (a serem imediatamente convertidos em escravos), e atrair os olhares de admiração pelos novos contornos físicos que começavam a se delinear com a puberdade.

Quando tudo parecia conspirar para a minha felicidade eterna, eis que surge uma penetra fora de hora pra estragar tudo. Minha mãe engravida na casa dos 40 e já naquela fase do casamento em que não se sabe ao certo se é “Namoro ou Amizade”. Mais improvável, impossível. Mas aconteceu! E eu ingenuamente achei que isso iria contribuir para solidificar os meus planos malignos de dominação, pois além de beldade nortista mantenedora de escravos, teria ainda a credencial de “mãe-acessória” digna de respeito e consideração.

Balela! Mais uma vez a minha localização outrora tão almejada, manifestou-se a meu desfavor. Ela veio da maternidade fofinha, rosadinha e rechonchuda... Uma visão enternecedora até dar o primeiro berro! E já na primeira noite me roubou horas de sono e infligiu torturas físicas inimagináveis. Eu, que achava que iria reinar naquele lar, de repente me vi na posição de pajem, abanando a noite inteira aquela coisinha gasguita e sua (nossa) mãe exaurida pelo doloroso parto. E pensa que ficou só nisso? Foram acalentos, banhos, doenças infantis, quedas, preocupações constantes e – Oh! Terror! – fraldas pra lavar. Não é a toa que a alcunha que a mini-vilã recebeu ainda bebê foi ZICA, para atestar o meu azar! Ô, ironia!

As atenções que eu almejava se voltaram todas para a usurpadora de afeto, que além de fofinha, era precoce e inteligente. Ciúme era o tempero ácido, azedo, picante e carregado da minha vida infeliz. Meu pai, que antes sensível a minha condição me elegeu sua preferida, de repente me esqueceu e voltou todas as atenções para a nova garotinha do papai.

Motivos não me faltavam para detestá-la. E eu, que de boba não tinha nada, tratei de botar minha viola no saco e buscar atenção noutra freguesia. Lutei, trabalhei, batalhei até conquistar meus objetivos. Li, estudei, pesquisei, viajei e reuni bagagem intelectual. Como mulher, atingi a plenitude, desabrochando a beleza e o encanto da maturidade. E depois de finalmente resolver as pendengas particulares, voltei meu olhar para aquela criança e encontrei, vejam só, uma linda mulher!

Dialogando descobri outras maravilhas: ela já não berrava. Pelo contrário, falava baixo. E pouco. Minha curiosidade fez extrair sua personalidade a conta-gotas, num exercício de paciência e tolerância incomum pra minha personalidade. Pensei: talvez seja amor! E quanto mais eu me envolvia em sua vida, mais queria saber sobre seus projetos, me interessava pelo seu futuro.

Em ocasiões de conflito, me vi defendendo seus interesses, protegendo-a de situações difíceis da vida que embora eu tivesse vivido sem ninguém pra me proteger, não queria que ela sofresse o mesmo. E então percebi que até o ciúme tinha ido embora.

Na hora de um deslize, nada do discurso arrogante e da empáfia típica de quem sabe mais. Mas sim, o desespero humilhante para tentar convencê-la a fazer o melhor. E, pasmem, me descobri sendo, de fato, a irmã mais velha. Não a figura opressiva, ditatorial e tirana criada por uma mente infantil e maquiavélica. Pelo contrário, a própria encarnação do exemplar maternalista, protetor e totalmente desequilibrado pela emoção de amar incondicionalmente essa parte de mim, sangue do meu sangue, minha irmãzinha caçula e encantadora que só precisou ser ela mesma pra se fazer amar. Plano melhor do que esse, impossível realizar. Arquitetei triunfos e me dobrei pelo afeto. E sou feliz por isso!

Irmã, hoje você faz aniversário. E agradeço a Deus por fazer parte da minha vida. Não lhe peço perdão pelo meu comportamento passado por dois motivos: primeiro, porque não tinha maturidade suficiente pra lidar com isso; segundo, porque sou orgulhosa pra caramba! Mas aceite que hoje essa sua irmã mais velha está aqui para o que der o vier, e por ti daria até a vida, se necessário (pelo amor de Deus, não invente de testar). Agradeço a Deus que em sua infinita sabedoria mandou para nossa família o presente cujo brilho só enxerguei anos depois. E que este Deus bondoso abençoe sua jornada e te dê tudo de maravilhoso que eu gostaria de te dar. Feliz Aniversário!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

“Antes ser idiota para as pessoas que infeliz para si mesmo!”


 
Há poucos dias vi um “protesto” de um desses alienígenas intelectuais revoltados pela malfadada sina de terem sido expulsos de seu Éden Cultural e nascido em meio a um reduto de seres inferiores que torturam sua mente privilegiada com comentários idiotas e hábitos desprezíveis.

Acreditava ser esse comportamento apenas uma exclusividade de artistas de emissoras badaladas com egos inflados pela aclamação midiática ou de gênios consagrados que perderam a paciência com as mesquinharias exaustivamente expostas através dos meios de comunicação. Afinal, de um jeito ou de outro, em ambos os casos, os “reclamantes” adquiriram tal direito, seja pela ilusão de poder criada a partir da idolatria praticada ao seu redor (no caso dos “artistas globais”), seja pela vasta contribuição que de fato deram à cultura (caso, mais justo por sinal, dos gênios consagrados).

Embora o bom senso e a empatia nos permita compreender alguns acessos de rebeldia (considerando o arsenal de futilidade bombardeado pelos quatro cantos do mundo), não raramente nos deparamos com verdadeiros exemplares de arrogância e prepotência autointitulando-se a elite da cultura, o suprasumo da intelectualidade, mártires do “Movimento Inquisidor em prol da ignorância”.

Aquela atriz magricela Thaila Ayala protagonizou um desses espetáculos de empáfia, numa entrevista à Revista Gloss (edição 47, Agosto 2011), quando comentou que o momento de transição em que o planeta está passando irá favorecer a sua “espécie” superior, expurgando da face da Terra toda essa plebe ignorante e deixando no planetinha azul apenas os “evoluidíssimos”, grupo do qual ela se julga inserida. E que mal pode esperar por esse momento, ainda que as previsões sagradas preconizem desgraças, cataclismas e morte. Fazer o que, a moça é “evoluída”, né? Tem passaporte garantido para a primeira classe no evento apocalíptico da hecatombe mundial.

Se o piti da “pseudo-atriz-modelo-namoradadopaulinhovilhena” já é digno de pena (pra dizer o mínimo), o que dirá desses que nem sequer se sabe de que canto saíram. De onde veio, para onde vai. Esses que lêem uma crônica como “A Revolução dos Idiotas” de Nelson Rodrigues e não apenas se identificam como ainda se equiparam ao autor, chegando a derramar lágrimas de emoção por finalmente encontrarem alguém que tenha tido o privilégio de acompanhar seu brilhante raciocínio incompreendido, compartilhando da dor de ter renunciado de seu lugar no Olimpo para vir a Terra cumprir a dolorosa missão de fazer avançar os Chimpanzés que a povoam.

Concordo plenamente que presenciamos a vulgarização e a banalização da informação. Que existem milhões de aspirantes à fama cometendo exageros em todas as esferas e em todos os níveis imagináveis. Exageros esses justificados por termos da moda, como o exerício do “Marketing Pessoal”, da consolidação de um “Networking” e até do receio de serem vítimas do “anafalbetismo digital” e excluídos dessa nova era de modernidade que requer a exarcebação da exposição. Porém, entendo mais ainda que absolutamente ninguém seja obrigado a se colocar como vítima indefesa dessa realidade, nem que precise necessariamente ser avesso a todo e qualquer tipo de ferrramenta de comunicação a fim de evitar ser "contaminado" pela sujeira das massas.

Praticamente todas as redes sociais possuem recursos de controle e personalização do conteúdo. Isso, é claro, se você quiser cadastrar-se em uma. Não preciso comentar sobre novo líder do BBB, saber do último bafão da briga da Galisteu ou conhecer de cor a letra do hit “Esse Cara sou Eu” pra me sentir inserida nesse mundo. Sofrer preconceito por não saber o que aconteceu com a Morena do Salve Jorge? Porque todo mundo sabe e eu não? Sentir-me excluído, oprimido, defasado? Meu bem, você só sente isso SE VOCÊ QUISER. Se não estar por dentro de nada disso REALMENTE SIGNIFICAR ALGUMA COISA PRA VOCÊ. Ora, bolas, como posso me sentir excluído de um grupo do qual nunca julguei fazer parte? Dane-se. Agora se isso de fato é um incômodo, acho que precisa rever não o fato de considerar-se A VÍTIMA dessa sociedade vulgar, mas sim, se realmente as suas convicções e sua “superioridade intelectual” são tão suas assim. Se seu discurso de supremacia ariana não é, na verdade, DESPEITA por não estar sob os holofotes da mesma fama que tanto critica.

Que cada um faça o seu caminho. Que cada um expresse suas idéias. Que cada um exerça o direito de expor sua preferência ou rejeição por A ou B. Mas que, sobretudo, antes de fazer isso, possamos ser sinceros e autênticos com aquilo que sentimos, aquilo que fazemos e aquilo que dizemos. Deve ser nesse sentido o nosso maior esforço: autoconhecimento. Porque quando essa harmonia ocorrer já haverá maturidade suficiente para trilhar o próprio caminho sem a necessidade de ridicularizar e humilhar pessoas só para mascarar a debilidade da autoestima, ainda carente e desejosa do veneno que rejeita.

* O título dessa postagem é uma frase de Arnaldo Jabor!