Espreguiçadeira do Sul x Preguiçosa do Norte - a nossa é mais barata e ainda promove a paz mundial! |
Como uma exímia e competente futura jornalista desinformada, fiquei sabendo só ontem a noite sobre a polêmica manifestação de xenofobia protagonizada por flamenguistas revoltados porque o vozão eliminou o rubro-negro na Copa do Brasil. É Mayana Petruso fazendo escola!
Como sou uma pessoa adulta, equilibrada e não gosto de baixaria, antes de tecer meus comentários acerca do episódio, quero abrir um espaço para exibir a mais genuína demonstração de maturidade e espírito desportista para comemorar com dignidade e respeito, a vitória do Ceará:
VVVVVVVVVRRRRRRRRÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ na cara de quem não acreditava no poder da carroça!
Bom, comemorações feitas, vamos agora ao ex-post-facto da polêmica partida.
Em primeiro lugar, não entendo patavina de futebol. Mas é óbvio que a arbitragem foi questionável. Porém, sobrou para ambas as partes. E jogo é assim mesmo, envolve sobretudo técnica, mas também outros fatores nem tão técnicos assim, como sorte, condições da partida, estado emocional dos jogadores e blábláblá vamos todos morrer! Beleza.
Segundo, nada justifica uma atitude desse tipo. Até porque nessas horas sempre aparece neguinho tentando justificar. Lembra o episódio envolvendo a Geisy Arruda, hostilizada por alunos da faculdade Uniban. Ainda hoje vejo muita gente comentando que ela mereceu passar por aquela humilhação grotesca, principalmente depois que a moça andou circulando pelos corredores da fama e usando métodos considerados apelativos para manter-se em evidência. Como se não existissem inúmeros atores, socialites, músicos e até “intelectuais” que não lancem mãos dos mesmos recursos para continuar a aparecer no trend toppics do twitter. Mas parece que nessas horas o julgamento não é feito pelo valor da atitude, mas pelo valor da conta bancária de quem age.
Vi o print da postagem de @_amandaregis (cuidado para não confundir com @amandaregis, que é outra internauta que não tem nada a ver com o peixe, coitada) em que ela nos chama de pardos, bugres, índios e feios e que odeia a nossa “raça”.
Para começo de conversa, vamos discutir os pontos pelo nível de importância (pelo menos pra mim). Gata, eu não sou feia, tá! Sou linda, mamãe sempre diz. E minha cabecinha grande e chata é só um charme extra que denota toda a inteligência acumulada em meu ser. E, quem sabe, se você também tivesse sido agraciada com uma cabecinha assim, saberia que “nordestino” não é uma raça, aliás esse termo “raça” foi praticamente abolido, sendo preferível usar “etnia” (o que também não é o caso). Saberia também que Xenofobia é crime dos bons (ou melhor, dos maus) e que existe uma tecla localizada na parte superior direita do teclado, próxima ao F12, ao Insert e ao Delete que se chama “Print Screen”, cuja função é copiar a imagem da janela ativa para ser posteriormente colada em um programa apropriado para esse fim. Então, não adianta querer falar besteira e depois deletar. O melhor mesmo é ouvir o ditado que já existia antes mesmo da invenção da roda, quanto mais do computador: tem que pensar antes de falar (ou teclar). Outra coisa: não faço ideia do que seja “bugre” e tô com preguiça de procurar no Google. Bugre, na minha terra, é aquele carro aberto com que a galera costuma fazer loucuras pelas dunas das praias NORDESTINAS e que às vezes funciona como catapulta, arremessando os passageiros à quilômetros de distância.
Interessante ainda destacar que a maior parte dos jogadores da equipe do Ceará não é composta por nordestinos, mas sim de... sulistas! Veja só, que ironia. E evidentemente que esse detalhe é uma besteira. O Brasil é um só. Ou melhor, o MUNDO é um só. E o ser humano, por mais que queira apegar-se a esses aspectos patrióticos, culturais, nucleares (o que é algo absolutamente normal e que contribui para a constituição das sociedades) é, no fim das contas, igual a todos os outros. Sente do mesmo jeito, sangra, adoece, sorri, chora, canta no banheiro, veste cueca rasgada, assiste o BBB, enfim...
Claro que o lamentável fato, por atingir a minha “raça”, leva-me a agir com certa parcialidade e querer puxar a brasa para banda de cá. Mas tenho de admitir que atitudes assim ocorrem em tudo quanto é canto e da mesma forma ridícula, nociva e irracional.
Será que também não é uma manifestação de Xenofobia quando os profissionais ligados ao mercado do turismo (hoteleiros, taxistas, donos de barracas de praia e pontos de visitação, etc.) cobram valores diferenciados e bem superiores quando percebem que o cliente vem de outra região ou de outro país? Ou quando acirramos a competição, fazendo comentários nada técnicos sobre a aparência dos jogadores e torcedores do time adversário, no intuito exclusivo de provocar? Ou ainda quando apelidamos ou mangamos* do sotaque ou das características físicas e hábitos de pessoas de outros Estados? Eu, por exemplo, confesso que adoro tirar sarro da minha colega de sala paraense que quando fala, chia mais do que rádio fora da sintonia. Mas gata, me perdoa, tá. É só despeita, mesmo. Já até adaptei um pedaço de pneu furado pra colocar no céu da boca e falar com o mesmo “charme”.
Mas falando sério, a gente costuma se revoltar, se indignar e até se perguntar como uma ação dessa proporção pode acontecer. No entanto, propagamos esse tipo de comportamento em pequenas atitudes do dia a dia, considerando-as normais e aceitáveis, quando na verdade são as verdadeiras responsáveis por criar esses extremos. É como a questão da violência. Ficamos horrorizados quando um juiz tira a vida de um vigilante, irritado porque o funcionário não o deixou entrar no estabelecimento que já estava fechado. Mas achamos normal, e até necessário, dar um piti daqueles quando alguém, sem querer, pisa no nosso pé dentro de um ônibus lotado (tu tá cego, filho duma égua?). E quando ensinamos nossos filhos a não mentir, mas quando o galego chega para cobrar a prestação da preguiçosa*, nos escondemos atrás da porta e mandamos o pobre menino dizer para o cobrador que a gente não está? Quer dizer, com os outros pode, mas com a gente não? É dose!
Claro que não estou querendo de forma alguma justificar o que a moça fez. Não tem desculpa. A OAB do Ceará já se manifestou e declarou que vai processar a garota. Está corretíssimo. Não é vingança, é justiça, pois neste caso só mesmo o combate a impunidade é capaz de reforçar a importância dos valores éticos e morais, de respeito à pessoa humana. Mas que o episódio sirva de lição para nortear também as nossas reflexões e ações, pois nesse contexto não somos tão inocentes assim, temos também nossa parcela de responsabilidade.
E aproveitando o ensejo, quero agradecer aos acessos que venho recebendo em meu blog de todos os pontos do Brasil e do mundo. Um abraço especial para os australianos, alemães, portugueses, cingapurianos, norte-americanos, japoneses, indianos, holandeses, sérvios, russos, britânicos, vietnamitas, israelenses, malasianos, afegãos, canadesnes, franceses, italianos, espanhóis, africanos, enfim, todos que independente de sua localização geográfica, prestigiam meu trabalho e me motivam a continuar. Beijão!
Serviço de Utilidade Pública - Dicionário nordestino “cearês”
*mangamos = do verbo “mangar”, que não tem nada a ver com se atracar com uma manga espada, chupando a dita cuja de cócoras no quintal (outro hábito tipicamente nordestino). Mas que significa tirar sarro, fazer piada com algo ou com alguém.
*galego chega para cobrar a prestação da preguiçosa = o “galego” é o sujeito que vende mercadorias de porta em porta. Eles tem a incrível capacidade de transmutar-se nas mais diferentes aparências e de chegar sempre nos momentos mais inconvenientes, batendo palmas na porta da sua casa e gritando “É o galego!”. Todo cearense compra ou já comprou de um galego, mas ninguém quer admitir. E quando eles vendem uma mercadoria pelo triplo do preço em que a mesma é vendida nas Casas Freitas (para que o cliente que resolva pagar, cubra o calote dos outros dois), deixam com você uma caderneta informando as trezentas e cinquenta prestações a pagar e as datas em que as mesmas serão cobradas. Evidentemente que essas datas são apenas simbólicas, pois a pessoa nunca está em casa naquele dia. Por isso, os coitados são obrigados a ficar de tocaia, esperando o momento apropriado para capturar sua presa. E quando finalmente conseguem pegá-la, ainda tem que ouvir “ah, no dia que tava marcado eu tinha o dinheiro, mas como você não veio, tive que gastar porque o botijão de gás acabou na hora que o feijão tava no fogo!”. Existem vários relatos de casamentos desfeitos por causa de galegos, tanto por maridos revoltados porque davam para a mulher o dinheiro para pagar a prestação do espelho e elas gastavam com a manicure, como também por maridos que descobriram que a mulher pagava o galego com a prestação de serviços que deveriam ser exclusivamente seus. Os galegos também são considerados fatores de notável influência sobre o mercado imobiliário e sobre o turismo, pois para não pagar galego tem gente que aluga uma casa diferente a cada mês e, dependendo da gravidade do caso e da persistência do profissional, mudam de cidade, de Estado e até de nome. Um dos itens mais vendidos pelos galegos são as “preguiçosas”, que na verdade é uma adaptação do termo “espreguiçadeira” que não tem absolutamente nada a ver com aquelas cadeiras resistentes e charmosas colocadas a beira da piscina nas casas dos figurões. São umas cadeiras de madeira combinadas com uma tanga de rede (pedaço de tecido usado na confecção de redes) que podem ser montadas em diferentes ângulos de inclinação (conforme o grau da sua preguiça) graças a avançada tecnologia de encaixe semelhante a da tábua de passar. Reza a lenda que é praticamente impossível tirar alguém de uma espreguiçadeira, nem bomba rasga lata consegue essa proeza. Só mesmo quando a tanga da rede rasga e você cai de bunda no chão!