segunda-feira, 23 de abril de 2012

Eu tenho a FORÇA!

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E aí, majestade, tá achando que é fácil? Então raspa a tua juba agora!



Falar mal da programação da TV aberta é praticamente um pleonasmo! E um pleonasmo BEEEEEM vicioso, pois ainda que a gente critique e reclame, continua a assistir, como se não houvesse nada de mais útil pra fazer. Afinal, como você acha que eu cheguei ao tema do post de hoje? Lendo Dostoievski é que não foi, né, meu bem!

Mas entendam as minhas razões. Confinada aos limites sufocantes do quarto e dividida entre um netbook chinfrim que trava à cada meia-hora, uns gibis da Mônica dispostos na cabeceira e o controle remoto do lado, não me resta muita opção. E por mais que eu fique completamente chocada com a forma tosca e sem noção com que o Sílvio Santos tem conduzido o seu programa, não há como não se apaixonar pelos efeitos hilários que os sinais da senilidade tem provocado do Homem do Baú. Gente, é sério: dá muita pena dos convidados! Mas como todo ser humano que se preze, a minha humanidade passa é longe e eu morro de rir das declarações surreais que o Sílvio protagoniza. Quem dera ele fosse eterno!

Bom, mas a razão da revolta feminista da vez foi a careca da Panicat Babi Rossi. Para quem não sabe, a bela loira perdeu suas madeixas ao vivo, num daqueles quadros estúpidos e sem criatividade que o desespero pela audiência é capaz de criar. E que funcionam, porque mesmo odiando cada minuto da condução do espetáculo pastelão, fiquei ligada até o fim. Simplesmente não podia acreditar que a moça teria coragem de perder o símbolo-mor da vaidade feminina. Mas raspou no zero, coitada!
Claro que as especulações em torno do que teria sido real ou armado, são muitas. Mas ainda que a jovem tenha concordado previamente com o absurdo, pra mim, não deixa de ser um assédio moral e uma coação. E ainda que a “profissão” da garota não seja considerada das mais nobres pela sociedade, não creio que justifique tamanha violação. Até porque, se ela tá lá rebolando as ancas, certamente é porque tem quem assista! E por mais fútil e desnecessária que tenha sido sua exposição (mesmo que com sua anuência), não deixa de refletir uma das facetas mais sádicas do machismo, especialmente no meio profissional.

É claro que existem várias exceções. Mas não é incomum que a mulher precise se submeter à situações degradantes para conquistar e manter seu espaço no mercado de trabalho, seja lá qual a profissão que ela escolheu. De doméstica à executiva de multinacional, talvez o que mude seja apenas o índice de refinamento do preconceito e da coação. Possivelmente, nesses meios mais “civilizados”, a pressão, as cobranças e a desigualdade sejam expressas em palavras cuidadosamente elaboradas por hábeis consultores de RH. Mas que no final das contas, tem o mesmo significado da grosseria dita por um dono de boteco. Você é mulher! E sua condição naturalmente desfavorável implica na necessidade extra de esforço somados à magnânima complacência do chefe que compreende sua TPM mensal. E você seja eternamente grata por isso, que fique bem claro!

Evidente que a ânsia em agradar e ser aceita pelos nossos algozes contribui, em muito, com essa condição. É a baixa auto-estima agindo em nosso desfavor. Eu mesma sempre tive uma preferência descarada pelo meu pai (que era um excelente pai, mas com uma boa dose de machismo), de quem tentava roubar toda a atenção dedicada à minha mãe. E não pensem que a maturidade da minha genitora era capaz de aplacar o clima de rivalidade infantil. Ela entrava na disputa pelo poder tal qual uma pré-adolescente insegura da 6ªsérie. Hoje sou capaz de rir daquelas cenas, que agora me parecem tão tolas e pueris... Mas a verdade é que, na minha cabecinha e na minha vida, o filme continua, com repetecos que de tão sutis, se tornam ainda mais perigosos!

Enfim, garotas, meu post de hoje tem mais um tom de desabafo. A consciência de uma nova realidade pelo menos me fez enxergar essas armadilhas nas quais caímos com tanta facilidade. Mas não pensem que deixei de cair nelas. Temos sorte de ter vencido barreiras e de usufruir de direitos que nos foram concedidos, mas não podemos esquecer que a maioria dessas "concessões" só ocorreu por conveniência ou por necessidade masculina. O secretariado, por exemplo, só tornou-se uma atividade eminentemente feminina durante a 2ª Guerra Mundial, quando faltaram homens para exercer tipicamente a função. E graças ao espaço forçado, provamos nossa capacidade superior também nesse ramo profissional.

Mas somos muito e queremos muito! Não há erro algum em servir, pois até quem está no topo, precisa servir a pessoas e propósitos. Agora, dividir a fatia do poder e exigir igualdade de cargos e funções, com dignidade e respeito, não é um favor que os bondosos machos-alfas tem a nos conceder quando lhes der na telha ou quando não tiverem outra saída: é um direito, uma luta e um dever de toda mulher, independente de seu nível de instrução e de sua condição social. E sem ter que se desculpar, se explicar, se sujeitar e, principalmente, sem precisar se DESCABELAR!

Beijos, meninas, e lembrem-se: FORÇA NA PERUCA!