sexta-feira, 24 de junho de 2011

95% Hétero!

Um novo degrau na escala "evolutiva"!

Aff! Ninguém merece! Depois de um feriado na mais profunda e intensa morgação, estou em plena sexta-feira no batente. Sem querer dar uma de fresca (mas já dando), pergunto: do que adianta trabalhar numa repartição pública quando esta se recusa a dar aquela “imprensadinha” básica? Tudo bem, nada de pânico. Deus ajuda quem cedo madruga, é o que sempre digo!

Chiliques à parte e ainda permanecendo nos meandros da esfera pública, resolvi escrever porque essa semana vi no trend toppics do Twitter a tag “Orgulho Hétero”, em referência ao projeto de lei do vereador Carlos Apolinário que visa instituir o Dia do Orgulho Heterossexual no município de São Paulo. A iniciativa, por sinal, motivou réplicas em outras Câmaras e Assembléias Legislativas do país, com parlamentares anunciando propostas semelhantes para suas regiões.

Acompanhando os comentários sobre a surpreendente tag, percebi manifestações a favor, contrárias ou simplesmente reações do tipo “como assim?”, que foi mais ou menos como me senti quando soube da empreitada do político. Pode ser que eu esteja errada (duras palavras de serem pronunciadas pela minha boca), mas diante de tantas pautas e necessidades importantes, o cara se dar ao trabalho de entrar com uma propositura dessa natureza às vésperas da realização da Parada Gay paulista, me parece, no mínimo, falta do que fazer ou mera provocação.

Para não agir guiada por inclinações particulares, decidi pesquisar um pouco mais sobre o assunto para ver se não estava sendo radicalmente incompreensiva. Afinal, se o sujeito quer defender a posição de “macho alfa dominante”, deixa o cara ser feliz. Um projeto assim, pensei, no final das contas pode nem feder nem cheirar.

Acontece que as notícias envolvendo o fato comprovaram minha tese inicial de birra infundada e inútil. Porque o nobre vereador, em retaliação pelo fato da maioria dos edis optar pelo adiamento da votação do projeto, simplesmente resolveu barrar a pauta de quase 30 outros projetos (certamente, bem mais importantes do que esse). A justificativa dos parlamentares que decidiram adiar a votação do Dia do Orgulho Hétero foi plausível: não havia porque colocar em regime de urgência um projeto envolvendo uma data a ser comemorada apenas em dezembro, justamente na semana que antecede a Parada Gay do município. O cheiro de provocação no ar ficou evidente para todo mundo, até para os mais desatentos.

Curiosa ainda são as manifestações de apoio à ação. Gente defendendo o “propósito de Deus” e declarando-se orgulhoso por ser “100% Hétero” pipocaram no microblog. O que eu não sabia era que o Todo Poderoso andava contratando assessor de imprensa ou advogado para defender “Sua Causa”. Muito menos que havia um teste para medir o índice de heterossexualidade nos seres humanos. Antenada como sou, claro que fiquei louca para saber mais sobre a existência dessa fenomenal máquina. Hoje, por exemplo, acho que o detector acusaria pelo menos uns 5% de homossexualidade, porque acordei mais fresca do que de costume e estou usando uma penca de acessórios cor de rosa. Essa tecnologia linda, sempre nos surpreendendo!

O episódio me fez recordar ainda um romance, cujo nome não recordo, em que o enredo se passava no início da colonização portuguesa no Brasil. Numa certa altura, um padre que compunha o quadro de missionários jesuítas incumbidos de catequizar os “indígenas selvagens”, incutindo-lhes a fé católica genuinamente comprometida com o “propósito de Deus”, simplesmente pirou! O clérigo, jovem e idealista, era realmente um sacerdote comprometido com sua crença, mas dotado de uma lucidez que o permitia enxergar além das aparências. Ingenuamente crítico, enchia seus superiores de questionamentos pontuais sobre os “meios” que estavam sendo usados para o cumprimento de tal propósito. O que incluía, é claro, empurrar os preceitos da Igreja goela abaixo e condenar à Inquisição os encapetados que se recusassem a aceitá-la. Afinal, eram os advogados, os representantes da vontade de Deus na Terra. E o que não lhes faltavam eram “subsídios fabricados sagrados” para justificar veementemente tal prerrogativa.

Como o padreco era oriundo de família abastada, os bispos e afins foram fazendo ouvido de mercador e tolerando a contragosto seus questionamentos, que mais pareciam advindos de uma criança curiosa do que necessariamente de um anarquista esclarecido e, consequentemente, perigoso. Mas depois de se enrabichar por uma bela “bruxinha”, praticamente condenada à morte, o cristão “enlouqueceu” e teceu um emocionante e eloquente discurso em público sobre essa questão do propósito divino, resultante da pressão dos inúmeros questionamentos que nunca lhes foram esclarecidos (até porque não havia uma explicação que fosse capaz de convencê-lo sem comprometer a “moral” da Igreja).

Não posso transcrever trechos do desabafo porque minha memória ainda é de um 486 (é o novo!). Mas lembro bem que, em síntese, ele questionava escancaradamente como Deus, Onipotente, Onisciente, Criador de tudo e de todos, acima do céu e da Terra, poderia preocupar-se tão profundamente com o fato de alguém não crer em sua figura a ponto de autorizar a perseguição e até a morte desses hereges. Ele não compreendia como um Ser tão bondoso, misericordioso, justo e perfeito poderia agir de forma tão humanamente pequena para desejar e buscar a vingança eliminando suas próprias criações por apresentarem falhas, tal qual um dono de uma fábrica que extermina robôs defeituosos durante uma inspeção de Controle de Qualidade. Bom, o resultado da estória vocês podem imaginar: churrasco de carne benta! O padre foi pra fogueira com a sua heregezinha!

Pois é. Graças a Deus a Inquisição faz parte do passado (vergonhoso, diga-se de passagem). Mas ainda tem muita gente que, se pudesse, condenaria à morte quem vivesse em discordância do “propósito divino” que tão pretensiosamente acham-se no direito de defender. Aliás, condenariam não, condenam! Porque muitos crimes bárbaros, incluindo os de natureza homofóbica, encontram em certas mentes doentias uma justificativa de conotação religiosa. E justamente devido a essa realidade desigual de preconceito, discriminação e intolerância, que aqueles segmentos reprimidos travaram lutas históricas para garantir a instituição de seus direitos. Foi assim com mulheres, com os negros, com os homossexuais... Ou seja, não se tratava de uma batalha meramente simbólica, mas surgida de uma necessidade REALISTA de opressão. Não PRECISAVA ser assim, mas TEVE de ser assim, porque moralmente falando tais direitos deveriam ter sido conferidos naturalmente a todos os homens, sem distinção, desde o início das civilizações.

Em relação à instituição de datas comemorativas, o princípio é parecido. Do ponto de vista pragmático, podem parecer inúteis e desnecessárias: dia disso, dia daquilo. Mas quando inseridas em um contexto e associadas às suas origens, adquirem uma configuração, no mínimo, relevante. O Dia Internacional da Mulher, por exemplo, tecnicamente falando pode não dizer muita coisa. Mas todo estudante de 5ª série sabe o porquê de a data ter sido criada: em alusão ao massacre de 130 operárias em Nova Iorque que protestavam por melhorias nas condições sub-humanas de trabalho. Embora o preconceito ainda persista, não se pode negar que lembrar que algo assim aconteceu de verdade, hoje nos deixa extremamente chocados. Então, pode-se concluir que apesar dos pesares, a coisa evoluiu. E só foi assim por causa da resistência dos grupos reprimidos e a custa da morte e da mutilação de muitos deles.

É mais ou menos assim que eu vejo a questão de datas como o Dia de Combate a Homofobia, Dia do Orgulho Gay ou eventos como a Parada. Elas não DEVERIAM ser necessárias, mas existem por conta de um debate constante ao qual a sociedade precisa ser submetida até compreender e enxergar o quão estúpida é a discriminação. Como disse várias vezes, pra mim não faz o menor sentido humilhar, maltratar e MATAR uma pessoa só porque ela gosta de alguém do mesmo sexo. Que diferença isso faz na minha vida, pelo amor de Deus? Mas infelizmente, ainda tem muita gente que acha que essa “raça” precisa ser coibida e até exterminada do convívio social, em respeito aos valores e propósitos divinos que os colocam na posição de defensores da moral e dos bons costumes.

Em resumo, o que espero é que essa atitude não represente o início de um conflito público envolvendo a defesa de valores morais. Conflitos estes que certamente contribuirão muito mais para a segregação do que para a harmonia social. Porque afinal de contas quem luta pelos seus direitos certamente não espera amor, admiração ou simpatia de quem discorda. Espera simplesmente RESPEITO e igualdade de direitos que lamentavelmente ainda lhe são negados. Nada mais justo, é claro. Mas desde que faça sentido, né, bem? Afinal, ninguém briga pelo que já tem!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Hipocrisia, eu quero uma pra viver!


Aquilo que é tachado de "defeito", na prática pode ser um mal mais do que necessário!
Bom dia, meu povo! Saudades de mim? É, eu sei que sim.

Vocês já devem ter percebido que vários títulos das minhas postagens referem-se a trechos originais ou levemente adaptados de várias canções. É uma tendência de adicionar trilha sonora à acontecimentos importantes ou triviais da minha vida. Como diria meu amigo Thy: "acho digno".

Muita gente me pergunta: “Mas porque esse nome 'Feminista de Arake'?”. Bom, já dei algumas pistas no “quem sou eu” e também através de algumas postagens. Porém, como a ocasião pede algo mais explícito, vou abrir o jogo e revelar esse segredo do universo em atenção à sua audiência e paciência.

Em primeiro lugar, já deixei claro que excetuando-se os planos de dominação mundial, não tenho grandes pretensões quanto a este blog. Quando me refiro à pretensões, quero dizer em termos de referência, de exemplo. Coitada de mim. Mal me encontrei na vida, como eu poderia ser modelo pra quem quer que seja? Até porque medindo 1,60m e pesando quase 60 Kg, só se fosse modelo da Nacional Gás!

Quando somos mais jovens, especialmente na adolescência, sofremos de uma síndrome que ataca todo fedelho nessa fase repleta de hormônios e parca de juízo: a síndrome da onipotência. A gente sabe tudo, pode tudo, entende de tudo sem nunca ter vivido nada. Eu, então, nem se fala. Se ainda hoje não tive um filho é por medo de que ele dê para mim, metade do trabalho que dei para os meus pais. Não que eu fosse uma Christiane F., drogada, prostituída, pichadora de quinta categoria e fã histérica dos Backstreet Boys. Não, não cheguei a tanto (até porque na minha época o sucesso era o DOMINÓ). Mas porque sempre que meus pais tentavam me dar uma orientação ou chamar a atenção sobre algo, eu rebatia com unhas e dentes ciente de que entendia da vida bem melhor do que eles. Deixando claro, é óbvio, que não tenho absolutamente nada a ver com os roteiros escritos para a MALHAÇÃO. Sim, porque além de ser um seriado eterno, a novelinha tem uma outra particularidade: nela os pais são retratados como um bando de bocós e os garotinhos e garotinhas é quem dão as lições de vida, como exemplos ímpares de maturidade e equilíbrio. Só para vocês terem uma ideia do efeito positivo do folhetim sobre a juventude brasileira, lembrem-se de que Dado Dolabella já foi um dos protagonistas da parada, tá legal!

Hoje tenho o discernimento para enxergar essa inversão de papéis, mas aos 15 anos de idade não duvido que usaria a “moral da história” dos capítulos como aparato para o monte de besteiras que costumava repetir para enfrentar a autoridade paterna. Alienação e você, tudo a ver!

Com o passar dos anos e depois de quebrar a cara muitas vezes, ganhei várias estrias e alguma experiência. Percebi que a vida é algo bem mais complexo e difícil do que as “certezas” que a gente costuma carregar. Concluí que acusar alguém de hipócrita, fingido ou dissimulado pode ser um tremendo exagero e o pior: um tiro no próprio pé. Afinal, quem não precisa de máscaras para sobreviver num mundo que exige do ser humano uma capacidade absurda de adaptação?

A primeira lição básica e efetiva relacionada a isso aprendi por conta da mais pura e extrema necessidade. Precisei entrar no mercado de trabalho muito jovem (porque os coitados dos meus pais abriram foi cedo). E lá estava eu, cheia de gás, energia, competência e desejo sincero de trabalhar e progredir. Mas pera lá! Tinha algo que antes precisava saber: - Não misture sua vida pessoal com a vida profissional. Deixe seus problemas do lado de fora.

Assim, aprendi na marra que para garantir seu salário no dia 30 e ainda ser eleita a funcionária do mês, você precisa incorporar uma personagem e colocar uma máscara sorridente e agradável. Não importa se você acordou atrasada, saiu sem tomar café, foi espremida no terminal do Papicu, pisaram na sua unha encravada, levou uma bronca do chefe por causa do atraso e de quebra, ainda ficou sabendo que aquela fulana mais falsa do que cédula de 30 reais abocanhou a vaga de gerente que por mérito deveria ser sua. Não interessa: o cliente que te espera não tem nada a ver com o peixe. Aliás, é bem provável que a tal da fulana falsa que faturou a promoção, embora seja notoriamente menos competente do que você, tenha conseguido a vaga justamente porque foi mais hábil na arte de disfarçar aquilo que não seria conveniente para seu crescimento profissional. Podia detestar o chefe, mas sabia respeitar a posição hierárquica e preservar sua autoridade na frente de funcionários e clientes (mesmo se em casa ela mantivesse um boneco de vodu com o qual o espetava todas as noites); podia ser uma tarada que nas madrugadas da vida vai pra cama com meio mundo de gente, mas no ambiente corporativo era discreta, vestia-se adequadamente e não confessava a ninguém suas aventuras sexuais; podia detestar o tempero da cozinha do refeitório e achar cafonérrima aquela farda que obrigaram a usar, mas fazia questão de tratar todo mundo com amenidades e elogiar desde a mão pesada da cozinheira (excesso de alho faz bem pra saúde) até o estilo moderno do uniforme quadrado de tecido vagabundo que quando marca não tem ferro de passar que coloque no lugar de novo. E quanto a você, “sincera e verdadeira”, foi cair na besteira de comentar com uma cliente que estava com uma baita dor de cabeça porque terminou com o namorado safado que te colocou um par de chifres, esperando que ela compreendesse sua dor, te desse colo e, para compensar sua perda, fizesse uma generosa compra e completasse com uma polpuda gorjeta. Besteira! O que você ganhou foi nome de paranóica e antiética, afinal, a criatura também tem os problemas dela e não foi até a loja para dar consulta psicológica pra vendedor frustrado, não.

Você pode até dizer: “mas o mundo é muito cruel!”. Bingo! É isso mesmo, gata, finalmente aprendeu! Aproveitando as palavras doces do meu professor de Sociologia (aquele destruidor de sonhos, lembra?) que repete a cada aula: “o mundo não é do jeito que deveria ser, mas do jeito que é”. Chupa essa manga, fofa! Já que sua bagagem cármica não te permite reencarnar num mundo mais evoluído e harmonioso (até porque VOCÊ não está preparada pra isso, então, não sinta-se injustiçada), o jeito é aprender a viver nesse mesmo, né?

Não estou dizendo que ninguém precise ser um robô desumano e desalmado, sem sentimentos ou coração. Só estou dizendo que existe hora e local pra dar chilique, tá, meu bem! Por isso é tão importante preservar a individualidade, reservar os momentos pra cuidar de si mesmo e até investir e cultivar os seus relacionamentos amorosos, familiares e afetivos. É justamente pra conseguir suportar o tranco! E olhe lá, porque se você inventar de chegar em casa todo dia estressada, xingando o vizinho fuxiqueiro, chutando o coitado do cachorro que festeja sua chegada e respondendo com grosseria o pobre marido que te aguarda saudoso e apaixonado, o mínimo que vai conseguir é estender sua lista de inimigos e desafetos. Até na intimidade é preciso respirar fundo e procurar disfarçar seu mau humor e rebeldia. Principalmente porque sentimento é algo que cresce a medida que é alimentado. E quanto mais você rememorar e falar sobre eles, maiores eles lhe parecerão, sejam positivos ou negativos.

Portanto, meu bem, uma dose de hipocrisia faz bem pra saúde e ainda ajuda a preservar os dentes. Se você não acredita, experimenta dizer “francamente” pro Maguila que ele deveria aprender a falar corretamente, para ver o prêmio que você vai ganhar, tá!

E para não perder o fio da meada, depois de todo esse preâmbulo, esclareço que a escolha do nome do blog e a própria existência dele foi um meio que encontrei para exorcizar uma boa parcela das minhas preocupações. É o meu cantinho, onde posso conversar abertamente (mantendo a privacidade necessária, é lógico). Além disso, com ele percebi que rotular os outros é uma besteira, mas se rotular é um erro maior ainda. Tenho minha parcela de feminista, mas também de esposa e dona de casa; de mulher comprometida e valente, mas também de vaidosa e fútil; de caridosa e generosa, mas também de compradora compulsiva; de mulher recatada e discreta, mas que debaixo dos lençóis... desculpa, me empolguei, é melhor deixar pra lá!

Para ser bem sincera, enxergar a vida dessa forma, admitindo que em vários momentos precisarei usar máscaras, na verdade me tirou um peso dos ombros ao invés de adicionar. Porque muito desse peso vem das cobranças que fazemos a nós mesmos. Então ver as coisas com mais naturalidade, reconhecendo sua real utilidade e aplicação, nos livra dessa obrigação utópica de sermos 100% autênticos, orgulhosos de sempre dizer a verdade doa a quem doer. Pois quando se aprende que isso dói muito mais na gente, concordamos que aprender a escolher as palavras ou até mesmo a hora certa de se calar não é necessariamente um defeito ou uma degradação da personalidade. É simplesmente um jeito de preservar a si mesmo e ao próximo.

Xêro no olho!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Amigos para sieeeeeempreeeeeee!

No fundo no fundo, todo mundo é lobo em pele de cordeiro: basta pisar no calo certo!

Nem vou me meter a besta de pedir desculpas pelo abandono deste espaço fofo. Promessas vãs já não colam mais. Então, pula essa parte e vamos ao que interessa (ou não!).

Ser humano é bicho engraçado. Carente, instável, contraditório... Já me conformei com essas facetas confusas, só não aprendi a lidar com elas. Um amigo, bem mais velho, costuma dizer que jamais devemos confiar em ninguém, jamais devemos dedicar ostensivamente amizade e dedicação, porque cedo ou tarde, aquele bestfriendforever se travestirá em inimigo num passe de mágica, por uma bobagem insignificante e infantil. E usará o que sabe sobre você, inclusive em termos sentimentais (afinal, conhece suas fraquezas), como arsenal típico de “fogo-ex-amigo”. O assunto, inclusive, já rendeu um post aqui no blog, com o título: “Seja sua melhor amiga!”
O diacho dessa história é que ainda não aprendi a lição. Pois esse post a que me referi foi escrito há meses. E eu, como típico ser humano que do alto da sua sabedoria professa máximas resultantes da experiência que sequer foram absorvidas antes de serem compartilhadas, mandei o pau a propagar minhas verdades ciente de que entendia tudo sobre o tema. E quebrei a cara de novo! Em suma: eu sou apenas uma bocó!
Mas tudo bem. Como diria o barbudinho Che Guevara: “Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura”. Ou seja, ninguém vai sair por aí fazendo recrutamento e seleção de amigos com direito a baterias de entrevistas e exames com psicólogos, investigadores, elenco do CSI e detectores de mentira. Relaxa! Na verdade, eu sempre caio nesse “conto do amigo” não porque nunca tenha me decepcionado ou me afastado voluntariamente de alguém. Mas porque, independente de qualquer coisa, geralmente soube conservar na mente as experiências positivas e aquilo que de bom foi cultivado da relação antes do Apocalipse. Digo “geralmente” porque evitei jogar na cara da pessoa coisas que ela me revelou em momentos de fragilidade e insegurança. Mas nem toda vida resguardei-me dessa prerrogativa. Afinal, se a fulaninha pensa que é festa da uva e solta a metralhadora em cima de mim, evidentemente que, de uma forma de outra, era preciso me defender. Nada mais natural!
Admitir as coisas como ela são pode ser duro e desestimulante. Pra acabar de lascar, ainda vem um amado mestre de Filosofia apresentar uma das constatações de Maquiavel -“É melhor ser temido do que amado!”- e um professor de Sociologia destruidor de sonhos jogar na nossa cara que nada que o ser humano faz é desinteressado. De quebra, nessa mesma aula, escuto a bombástica revelação das minhas “amigas” de sala (uma olho junto e uma paraense folgada) que admitiram, com a voz fria e o olhar impassível, que desde o período de nivelamento na faculdade, no começo deste ano, planejaram aproximar-se da minha humilde pessoa com o intuito de aproveitarem-se da minha farta inteligência e notória modéstia. E eu achando que era por causa da minha aura irresistível e estilo descolado. Ora, vejam só!
Nesse dia, cheguei em casa com um pacote de chumbinho e uma corda bem resistente (gosto de ter opções). Mas depois de um banho e uma cerveja (algo raro de acontecer), deitei na cama e pensei melhor. Realmente tem horas que a existência parece tão looooooooonga e a caminhada, bem cansativa. Então, é normal se apegar a certas ilusões, procurar fugas criativas. Eu, pelo menos, adoro fechar os olhos e pensar que estou numa praia tranquila e paradisíaca, sem um farofeiro ou paredão de som sequer, com um biquíni minúsculo, depilada a laser e zero de barriga, comendo potes de torta alemã com batata Rufles que não engordam e com o amor ao lado, dizendo a cada cinco minutos que sou linda e o quão charmoso e apaixonante é o meu hábito de deixar um monte de tranqueiras espalhadas pela casa (se Dona Nélia estivesse aqui, certamente diria: "Não se deslumbre, meu bem!"). Normalmente isso acontece dentro do ônibus, quando estou voltando pra casa depois das 22 horas: de pé, segurando a barra de ferro do coletivo só com uma mão (porque não tem um cristão de Deus que se ofereça para segurar minhas coisas) enquanto um tarado aproveita a lotação para me seviciar a cada freada brusca; ou sentada ao lado de um sujeito que deve ter nascido com um saco escrotal com capacidade para 100 litros e por isso invade meu espaço com as pernas tão arreganhadas que mais parece uma asa delta.
No entanto, o que não é normal é virar uma pessoa amarga, com medo de viver. Desconfiado de tudo e de todos, cheio de ódio e rancor. Remoendo mágoas e massacrando a mente e o corpo com sentimentos que, à exemplo das ilusões que citei acima, também impedem que se enxergue a realidade: nem melhor, nem pior – simplesmente do jeitinho que ela é!
Há um provérbio que diz que o desconfiado erra tanto quanto aquele que confia demais. Talvez mais ainda. Então, não vale a pena nortear sua vida por esses aspectos negativos. O que é ruim atrai o que é ruim. Não há nada de maduro e inteligente em impedir o sofrimento evitando as pessoas e as experiências que a vida nos traz: está mais pra covardia. A verdadeira maturidade é expressada pela serenidade e a resiliência, a capacidade de superar obstáculos e lidar com problemas. E o lado bom é que dá pra exercitar. Com bom humor e alto astral, combustíveis essenciais pra rir de si mesmo e dessa vida bandida, cheia de altos e baixos. Da minha parte, garanto que estou TENTANDO!

Beijos, bom final de semana pra todos!

P.S.: E para atestar a veracidade do princípio cruel escancarado pelo professor de Sociologia, admito que esse post, aparentemente despretensioso e banal, foi redigido com um interesse, sim! Só não vou dizer qual é. Hehehehehe!