terça-feira, 21 de junho de 2011

Hipocrisia, eu quero uma pra viver!


Aquilo que é tachado de "defeito", na prática pode ser um mal mais do que necessário!
Bom dia, meu povo! Saudades de mim? É, eu sei que sim.

Vocês já devem ter percebido que vários títulos das minhas postagens referem-se a trechos originais ou levemente adaptados de várias canções. É uma tendência de adicionar trilha sonora à acontecimentos importantes ou triviais da minha vida. Como diria meu amigo Thy: "acho digno".

Muita gente me pergunta: “Mas porque esse nome 'Feminista de Arake'?”. Bom, já dei algumas pistas no “quem sou eu” e também através de algumas postagens. Porém, como a ocasião pede algo mais explícito, vou abrir o jogo e revelar esse segredo do universo em atenção à sua audiência e paciência.

Em primeiro lugar, já deixei claro que excetuando-se os planos de dominação mundial, não tenho grandes pretensões quanto a este blog. Quando me refiro à pretensões, quero dizer em termos de referência, de exemplo. Coitada de mim. Mal me encontrei na vida, como eu poderia ser modelo pra quem quer que seja? Até porque medindo 1,60m e pesando quase 60 Kg, só se fosse modelo da Nacional Gás!

Quando somos mais jovens, especialmente na adolescência, sofremos de uma síndrome que ataca todo fedelho nessa fase repleta de hormônios e parca de juízo: a síndrome da onipotência. A gente sabe tudo, pode tudo, entende de tudo sem nunca ter vivido nada. Eu, então, nem se fala. Se ainda hoje não tive um filho é por medo de que ele dê para mim, metade do trabalho que dei para os meus pais. Não que eu fosse uma Christiane F., drogada, prostituída, pichadora de quinta categoria e fã histérica dos Backstreet Boys. Não, não cheguei a tanto (até porque na minha época o sucesso era o DOMINÓ). Mas porque sempre que meus pais tentavam me dar uma orientação ou chamar a atenção sobre algo, eu rebatia com unhas e dentes ciente de que entendia da vida bem melhor do que eles. Deixando claro, é óbvio, que não tenho absolutamente nada a ver com os roteiros escritos para a MALHAÇÃO. Sim, porque além de ser um seriado eterno, a novelinha tem uma outra particularidade: nela os pais são retratados como um bando de bocós e os garotinhos e garotinhas é quem dão as lições de vida, como exemplos ímpares de maturidade e equilíbrio. Só para vocês terem uma ideia do efeito positivo do folhetim sobre a juventude brasileira, lembrem-se de que Dado Dolabella já foi um dos protagonistas da parada, tá legal!

Hoje tenho o discernimento para enxergar essa inversão de papéis, mas aos 15 anos de idade não duvido que usaria a “moral da história” dos capítulos como aparato para o monte de besteiras que costumava repetir para enfrentar a autoridade paterna. Alienação e você, tudo a ver!

Com o passar dos anos e depois de quebrar a cara muitas vezes, ganhei várias estrias e alguma experiência. Percebi que a vida é algo bem mais complexo e difícil do que as “certezas” que a gente costuma carregar. Concluí que acusar alguém de hipócrita, fingido ou dissimulado pode ser um tremendo exagero e o pior: um tiro no próprio pé. Afinal, quem não precisa de máscaras para sobreviver num mundo que exige do ser humano uma capacidade absurda de adaptação?

A primeira lição básica e efetiva relacionada a isso aprendi por conta da mais pura e extrema necessidade. Precisei entrar no mercado de trabalho muito jovem (porque os coitados dos meus pais abriram foi cedo). E lá estava eu, cheia de gás, energia, competência e desejo sincero de trabalhar e progredir. Mas pera lá! Tinha algo que antes precisava saber: - Não misture sua vida pessoal com a vida profissional. Deixe seus problemas do lado de fora.

Assim, aprendi na marra que para garantir seu salário no dia 30 e ainda ser eleita a funcionária do mês, você precisa incorporar uma personagem e colocar uma máscara sorridente e agradável. Não importa se você acordou atrasada, saiu sem tomar café, foi espremida no terminal do Papicu, pisaram na sua unha encravada, levou uma bronca do chefe por causa do atraso e de quebra, ainda ficou sabendo que aquela fulana mais falsa do que cédula de 30 reais abocanhou a vaga de gerente que por mérito deveria ser sua. Não interessa: o cliente que te espera não tem nada a ver com o peixe. Aliás, é bem provável que a tal da fulana falsa que faturou a promoção, embora seja notoriamente menos competente do que você, tenha conseguido a vaga justamente porque foi mais hábil na arte de disfarçar aquilo que não seria conveniente para seu crescimento profissional. Podia detestar o chefe, mas sabia respeitar a posição hierárquica e preservar sua autoridade na frente de funcionários e clientes (mesmo se em casa ela mantivesse um boneco de vodu com o qual o espetava todas as noites); podia ser uma tarada que nas madrugadas da vida vai pra cama com meio mundo de gente, mas no ambiente corporativo era discreta, vestia-se adequadamente e não confessava a ninguém suas aventuras sexuais; podia detestar o tempero da cozinha do refeitório e achar cafonérrima aquela farda que obrigaram a usar, mas fazia questão de tratar todo mundo com amenidades e elogiar desde a mão pesada da cozinheira (excesso de alho faz bem pra saúde) até o estilo moderno do uniforme quadrado de tecido vagabundo que quando marca não tem ferro de passar que coloque no lugar de novo. E quanto a você, “sincera e verdadeira”, foi cair na besteira de comentar com uma cliente que estava com uma baita dor de cabeça porque terminou com o namorado safado que te colocou um par de chifres, esperando que ela compreendesse sua dor, te desse colo e, para compensar sua perda, fizesse uma generosa compra e completasse com uma polpuda gorjeta. Besteira! O que você ganhou foi nome de paranóica e antiética, afinal, a criatura também tem os problemas dela e não foi até a loja para dar consulta psicológica pra vendedor frustrado, não.

Você pode até dizer: “mas o mundo é muito cruel!”. Bingo! É isso mesmo, gata, finalmente aprendeu! Aproveitando as palavras doces do meu professor de Sociologia (aquele destruidor de sonhos, lembra?) que repete a cada aula: “o mundo não é do jeito que deveria ser, mas do jeito que é”. Chupa essa manga, fofa! Já que sua bagagem cármica não te permite reencarnar num mundo mais evoluído e harmonioso (até porque VOCÊ não está preparada pra isso, então, não sinta-se injustiçada), o jeito é aprender a viver nesse mesmo, né?

Não estou dizendo que ninguém precise ser um robô desumano e desalmado, sem sentimentos ou coração. Só estou dizendo que existe hora e local pra dar chilique, tá, meu bem! Por isso é tão importante preservar a individualidade, reservar os momentos pra cuidar de si mesmo e até investir e cultivar os seus relacionamentos amorosos, familiares e afetivos. É justamente pra conseguir suportar o tranco! E olhe lá, porque se você inventar de chegar em casa todo dia estressada, xingando o vizinho fuxiqueiro, chutando o coitado do cachorro que festeja sua chegada e respondendo com grosseria o pobre marido que te aguarda saudoso e apaixonado, o mínimo que vai conseguir é estender sua lista de inimigos e desafetos. Até na intimidade é preciso respirar fundo e procurar disfarçar seu mau humor e rebeldia. Principalmente porque sentimento é algo que cresce a medida que é alimentado. E quanto mais você rememorar e falar sobre eles, maiores eles lhe parecerão, sejam positivos ou negativos.

Portanto, meu bem, uma dose de hipocrisia faz bem pra saúde e ainda ajuda a preservar os dentes. Se você não acredita, experimenta dizer “francamente” pro Maguila que ele deveria aprender a falar corretamente, para ver o prêmio que você vai ganhar, tá!

E para não perder o fio da meada, depois de todo esse preâmbulo, esclareço que a escolha do nome do blog e a própria existência dele foi um meio que encontrei para exorcizar uma boa parcela das minhas preocupações. É o meu cantinho, onde posso conversar abertamente (mantendo a privacidade necessária, é lógico). Além disso, com ele percebi que rotular os outros é uma besteira, mas se rotular é um erro maior ainda. Tenho minha parcela de feminista, mas também de esposa e dona de casa; de mulher comprometida e valente, mas também de vaidosa e fútil; de caridosa e generosa, mas também de compradora compulsiva; de mulher recatada e discreta, mas que debaixo dos lençóis... desculpa, me empolguei, é melhor deixar pra lá!

Para ser bem sincera, enxergar a vida dessa forma, admitindo que em vários momentos precisarei usar máscaras, na verdade me tirou um peso dos ombros ao invés de adicionar. Porque muito desse peso vem das cobranças que fazemos a nós mesmos. Então ver as coisas com mais naturalidade, reconhecendo sua real utilidade e aplicação, nos livra dessa obrigação utópica de sermos 100% autênticos, orgulhosos de sempre dizer a verdade doa a quem doer. Pois quando se aprende que isso dói muito mais na gente, concordamos que aprender a escolher as palavras ou até mesmo a hora certa de se calar não é necessariamente um defeito ou uma degradação da personalidade. É simplesmente um jeito de preservar a si mesmo e ao próximo.

Xêro no olho!

2 comentários:

  1. Existe uma coisa chamada "a arte de viver" ... e é isso ai tudo que você disse, amiga.

    As vezes precisamos usar "mascaras", não pra fingir algo que não somos, pra para dar as pessoas o que eles querem ver, e assim não sermos afetados (pisados) de forma negativa. Eu já menti pra sobreviver, menti até pra fazer os outros felizes, só não menti pra mim ainda, seria sufocante de mais.

    Ótimo post! #AchoDigno

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  2. Querido Thy, como fazemos parte da mesma gangue de desafiantes da sociedade (e de quebra, ainda acusados de cobras falsas, fingidas e hipócritas), certamente você concebeu todos os detalhes implícitos no meu desabafo com o peculiar humor negro de sempre. Afinal, rir de si mesmo é uma arte, né, bem?

    Beijos, fófis!

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