segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fazendo ouvido de mercador!

Nem escuta a zuada da mutuca!

Você já deve ter escutado essa expressão que significa dar uma de surdo, fingir que não ouviu. Ela se referia à forma como os mercadores antigos agiam para não dar ouvidos às ofertas de preço reduzidas dos clientes que tentavam barganhar a mercadoria, ou ainda uma maneira de não dar atenção às críticas e reclamações sobre os produtos vendidos. Em outras palavras, desdenhar!
Apesar da expressão remeter à uma antiga forma de negociação, ela ainda hoje é bastante utilizada. Pensem, por exemplo, naquelas pobres criaturas que ocupam as vagas de operadores de telemarketing (especialmente dos departamentos de atendimento ao consumidor) que além de serem obrigados a falar apenas no gerúndio ainda escutam poucas e boas dos clientes que descontam toda sua indignação nos ouvidos deste inocente ser. Não tenho dúvidas de que os coitados, para suportar as queixas diárias de toda a natureza, precisam programar seus ouvidos para o “modo mercador”. E enquanto utilizam polidamente os termos para explicar a situação para o cliente revoltado, na sua criativa cabecinha eles devem estar indo a forra, pensando: “Senhor, estarei transferindo a sua ligação para a p.... que pariu. Por gentileza, peço que no final o senhor possa estar respondendo positivamente à pesquisa de satisfação em relação ao meu atendimento, para evitar que o filho da p... do meu supervisor possa estar me mandando embora. Algo mais em que posso estar sendo útil?”.
Apesar da técnica de fazer ouvido de mercador não ser lá muito ortodoxa por desmerecer o consumidor, ela contém uma lição de vida que pode ser muito útil para todos nós. Há momentos em que precisamos mesmo nos fazer de surdos diante dos apelos da maioria, ou ainda na hora de tomar decisões e traçar nossos caminhos.
Todo mundo gosta de dar um bom pitaco na vida alheia. E mesmo que essas pessoas não sejam exemplos de sucesso e equilíbrio, tem sempre na ponta da língua um “conselho” capaz de mudar a sua vida. Claro que podemos aprender muito com quem tem mais experiência. Mas não podemos esquecer que a experiência prática em si é necessária e bem mais proveitosa, capaz de render um aprendizado que nem o mais sábio dos conselhos é capaz de transmitir.
Sou uma indecisa por natureza e muitas vezes me privei de oportunidades por escutar demais. “Faça isso”, ou então, “faça aquilo”; “é melhor assim, desse jeito que você quer fazer não vai dar certo”; “olha lá, depois não diga que não avisei”... Enfim, é tanta coisa que uma resolução pessoal que antes de ser compartilhada com meio mundo de gente lhe parecia tão firme e tão clara, no final das contas está envolta numa aura de pessimismo, dúvidas e medos que travam qualquer cristão. E essas incertezas não serão solucionadas pelos conselheiros de plantão. Você vai precisar lidar com elas sozinho, quando deitar a cabecinha no travesseiro e repassar mais um dia perdido em que planejou tanta coisa e no final, não fez nada! E assim segue mais um dia, depois outro, e depois mais outro. Quando se dá conta, perdeu anos da existência vivendo em função da opinião alheia.
Nós, mulheres, somos vítimas constantes desse pensamento. Afinal, seres “frágeis e indefesos”, despreparadas e perdidas, sempre precisamos de alguém mais “forte e equilibrado” para nos orientar. Uma mulher segura e independente, que toma as próprias decisões, é praticamente uma aberração da natureza. Uma fêmea sem aquela conveniente essência de fragilidade tão habilmente incutida e manipulada pela sociedade, não pode ser considerada uma verdadeira mulher. E essa era a desculpa perfeita para justificar o acesso da mulher a tantos espaços que lhes foram negados durante toda história.
Por exemplo, no âmbito dos esportes, até poucos anos atrás era restrito o acesso das mulheres à participação em treinamentos e competições esportivas. Alegava-se que a atividade iria comprometer o já frágil organismo feminino, além do temor que o esporte pudesse causar a masculinização da mulher. Balela! Hoje a prática desportiva é considerada uma questão de saúde, além do fator estético que contribui para a elevação da autoestima da praticante. Mas para se chegar a esse nível de aceitação, não tenha dúvida de que muitas mulheres precisaram desafiar o senso comum, enfrentar o preconceito e obter “na marra” esse direito. Em outras palavras, precisaram “fazer ouvido de mercador”.
Portanto, minha amiga, não desconsidere a sabedoria de quem já sabe e viveu mais. Especialmente se este alguém for uma pessoa que te ame de verdade. Mas jamais se prive de ouvir os apelos do próprio coração, pois é ele que vai carregar por muito tempo a dor e a angústia pela frustração de metas não realizadas.

Beijos e boa semana para todos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Amor não tem sexo!

Mas tem gente que esquece!

 Bom dia, meus fofurecos!

Uma das coisas mais gratificantes que senti ao ingressar na faculdade foi perceber que certos pensamentos filosóficos que norteavam minha louca cabecinha, tinham embasamento científico. Ou seja, se eu sou doida, não sou a única. Legal!

Dentre as peripécias da Sociologia uma teoria me chamou a atenção: a da Imaginação Sociológica. Basicamente consiste no indivíduo, seja ele sociólogo ou não, desenvolver uma habilidade de abstração, de imaginar aquilo que não existe para você como se de fato existisse. Um exercício de empatia, de colocar-se no lugar do outro, imaginando-se submetido às mesmas circunstâncias. Essa ideia tem como base o fato de que o ser humano não conhece sequer os próprios limites, quanto mais os dos outros que vivem em realidades diferentes da dele. E derruba por terra aquela mania besta que temos de sair rotulando e julgando todo mundo, porque julgar da posição de mero espectador, guiado unicamente pela visão dos próprios (pré)conceitos, é uma atitude estúpida, cruel e desprovida de credibilidade.

Foi um dos textos mais interessantes que já li e com qual mais me identifiquei. Não que eu seja “a certinha”, muito pelo contrário, como todo indivíduo tenho, sim, muitas “certezas” preconcebidas que jamais passaram pela prova de fogo da experiência. Mas reconheço que da adolescência para cá, muita coisa mudou. E procurei usar as decepções que tive comigo mesma para desenvolver o princípio de que toda pessoa é um universo, com sua história de vida, particularidades, influências, enfim, tanta coisa que é humanamente impossível dimensionar... E acredito que se todo mundo procurasse pensar assim, haveria mais tolerância e compreensão na sociedade.

O problema é que ainda estamos beeeeem longe disso. Hoje mesmo estava lendo uma matéria no Jornal “O Povo” relatando que o número de assassinatos contra gays, travestis e lésbicas em 2010 cresceu mais de 30% no Brasil em relação à 2009. E o que é pior: o risco de um homossexual ser assassinado aqui na nossa região, o Nordeste, é em torno de 80% maior do que em relação às outras regiões. Algo que me envergonha e me entristece!

O curioso é que a nossa terrinha é conhecida pela veia cômica, pelos expoentes do humor. Mas parece que essa característica de levar as coisas na esportiva se restringe ao campo da sátira, de fazer piadas com a faceta divertida e caricata de alguns homossexuais. Agora, partiu para o lado da convivência no trabalho, na família e na sociedade a coisa muda de figura. É tolerância zero!
O que me custa entender é como alguém pode hostilizar tão radicalmente um ser humano por conta da sua orientação sexual. Matar uma pessoa porque ela simplesmente está tentando levar sua vida da forma como acha melhor já não é mais uma questão particular, é de interesse social e governamental. Torcer o SEU nariz para uma realidade é uma coisa, agora TORCER o pescoço do outro deixa de ser da alçada particular.

Os crimes homofóbicos estão aumentando, mas políticas públicas que é bom... Criar coordenadorias e gerências da diversidade e organizar paradas são estratégias simbólicas. E que em certos casos só servem mesmo para reforçar estereótipos. Na prática, não contribuem praticamente com nada. A prova está aí! A diversidade sexual está na mídia, até celebridades estão se assumindo aparentemente porque a sociedade está mais propícia a “aceitá-los”. Porém, as estatísticas mostram o contrário.

Gente, fazer festinha é maravilhoso, mas tem hora que é preciso guardar a purpurina. O assunto é sério. Se as pessoas não mudam numa boa, que o façam por livre e espontânea pressão. As leis estão aí e a impunidade só reforça a conivência das autoridades, porque os instrumentos de punição existem mas não estão sendo aplicados.

E quanto à reflexão de cada um o que peço é que procurem colocar-se no lugar dessas pessoas que estão sendo discriminadas POR NADA! Sim, porque quem o fulano pega ou deixa de pegar, não é da conta de ninguém. É muito melhor que cada um possa exercer sua sexualidade da forma como lhe convir, do que agir mantendo as aparências que se encaixam nas expectativas sociais enquanto mantém uma vida dupla. Quantos homens casados, pais de família “acima de qualquer suspeita” não extravasam sentimentos reprimidos durante umas voltinhas pela madrugada, enganando a si mesmos e às suas companheiras? Será que ele pode ser culpado de agir assim? Será que não o faz como estratégia de sobrevivência em meio à uma sociedade preconceituosa? E se essa pessoa fosse seu filho? Deixaria de ser só porque é homossexual? São perguntas que devemos fazer sempre, pois poem em cheque muitas das nossas certezas.

Um beijão para todos!