domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vou não, quero não, posso não...


Domingo ensolarado, sem muita coisa pra fazer a não ser curtir a beleza do fim de semana.

Zapeando na Internet, decidi dar uma olhada no YouTube nos clipes toscos da Música do Aviões do Forró: “Vou não, quero não, posso não”. Fiquei rachando de rir. Baboseira pura, mas é divertido. E o que seria da vida se não existissem essas futilidades pra nos entreter? Ri mais ainda dos comentários postados nos vídeos pelos membros da “Associação dos Cricris de Plantão”, criticando a alienação dos jovens que produziram o besteirol e desferindo teses acadêmicas sobre a falta de cultura das massas. Só não entendi como eles chegaram até os tais clipes. Será que havia links nos sites do Paulo Freire que eles costumam acessar? Bom, é melhor deixar pra lá.

Quanto a minha curiosidade, essa foi motivada pela popularidade que a composição alcançou entre as pessoas comprometidas. A música virou uma espécie de hino dos infelizes homens casados, sufocados pelo mandato ditatorial de suas tiranas esposas. E o refrão é usado em tom de provocação entre colegas que se permitem esse tipo de brincadeira, naquele tipo de espirituosidade comum principalmente entre o povo nordestino.

A letra, embora inquestionavelmente jocosa, reflete a impressão geral de que o casamento só é vantajoso pra mulher. Para o homem, vira uma prisão, que o priva das liberdades deleitosas da fase de solteiro. Uma visão amplamente aceita e incentivada por todos: machos e fêmeas.

Mas, curiosamente, as pessoas continuam casando. E não me recordo de fatos verídicos envolvendo homens que foram levados ao altar escoltados pelo delegado da cidade depois de “mexerem” com a filha alheia. São lendas dos tempos coronelistas encenadas em casamentos juninos matutos, por sinal, muito engraçados. Na prática, o que acontece mesmo, é que as pessoas, embora critiquem a instituição e dêem mil e um motivos contra, ainda se casam. E muito. E lógico, também se separam.

Mas estudos comprovam que o homem sofre mais com a separação, contrariando a idéia de que o casamento é um tormento para eles e um paraíso para elas. A psicanalista e sexóloga Regina Navarro, que conduziu um estudo sobre o assunto, afirma que os meninos desde cedo são estimulados a se afastar da mãe, incentivados a cultivar a independência desde a infância e crescem tentando negar que dependem de uma mulher. Quando adultos, constroem aquela imagem do durão que não quer casar, mas ao ingressarem numa relação duradoura ficam dependentes e sentem-se desamparados durante a ruptura. Por isso, é muito raro um homem propor a separação. É bem possível que até ame menos que a mulher, mas são muito mais apegados ao convívio e ficam perdidos com a perda da rotina. Para mim, o estudo só comprova uma constatação prática.

Lógico que o casamento, como toda e qualquer escolha de vida, gera uma perda. Ou você acha que a mulher não sente saudades de quando era a princesa do lar, com um pai fazendo suas vontades e a mãe pondo um jantar gostoso sobre a mesa quando ela chegava em casa? Embora a vida moderna tenha levado os casais a dividirem mais as tarefas domésticas, o mais comum é que a mulher ainda assuma a maior parte dos afazeres do lar, mesmo trabalhando fora. Mas as pessoas não casam pensando nisso (até deveriam pensar, antes de dar o passo decisivo). Elas querem casar porque desejam ficar juntas, estão apaixonadas, é um passo natural. Se vão existir dilemas, antes ou depois da decisão, paciência! É assim mesmo. São indagações que fazemos enquanto seres  humanos, dotados de pensamento crítico e influências exteriores. Sócrates já dizia: Casar ou não casar – você sempre lamentará!

O maior problema dos casamentos, a meu ver, não são as opções que se perdem ou a saudade da vida de solteiro. São as expectativas que geramos para a união, como se tivesse de ser uma simbiose, com os dois se fundindo num mesmo ser e anulando a individualidade em favor da constituição de um modelo ideal (e falido, diga-se de passagem).

Casar não muda quem somos (pelo menos, não deveria) e, PRINCIPALMENTE, não muda o outro. Temos de continuar a cultivar nossos pensamentos, diretrizes, trabalhar pelos nossos objetivos. Sem, é claro, partir pro terreno do enfrentamento e impor arbitrariamente nossa vontade, mesmo que não faça sentido, só porque é a NOSSA vontade. Os homens fazem isso conosco há séculos e detestamos. Portanto, nem devemos permitir que nos tratem assim, nem devemos fazer o mesmo. Como disse, casamento é uma escolha. E como escolheram viver a dois, sejam flexíveis para conversar e propor idéias sem violentar-se nem atropelar o parceiro. Esse equilíbrio é a chave para a mudança desse conceito deturpado e ridículo do casamento como uma prisão, que por sua vez gera o sentimento de posse (diga-se de passagem, principalmente nos homens) que é o responsável por tantos crimes passionais cometidos por cônjuges.

Recado dado, vou indo. Vou sim, quero sim, posso sim, porque meu marido não manda em mim!

2 comentários:

  1. Olá!
    Você postou a imagem do video, ao invés do próprio vídeo. Conserta ai pras cunhãs verem! rs

    P.S. Gostaria de dar uma dica de blogueiro para blogueiro. Você já sabe que eu adoro seus textos,mas queria que você aplicasse uma nova rotina para eles. Depois de escrito, selecione todo o texto e clique em "justificar" para deixá-lo melhor apresentado na página! Era isso e Parabéns pelo magnifico blog. Já coloquei até na minha listas de blog do Encartes Pop.

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  2. Olá, Jeff! Obrigada pelas dicas. Quanto a primeira, foi distração mesmo, já vou colocar o link.
    Já a segunda, eu já havia tentado, mas não consegui usando as ferramentas do blog. Vou experimentar justificando no word e colando pra cá. Muito obrigada por tudo!

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