Você confirma uma dor de cabeça durante 4 anos? Siiiiiiiiiiiimmmmmm!!!!! |
Hoje, dia 24 de fevereiro, completa-se 79 anos da conquista do direito das mulheres brasileiras de votar em eleições nacionais. Na época uma premissa restrita, permitida apenas para mulheres casadas, desde que devidamente autorizadas por seus cônjuges, viúvas e solteiras com renda própria (algo extremamente raro na época). Mas de fato uma conquista importantíssima que abriu caminho para os próximos avanços, embora obtidos a passos de tartaruga.
Nessa batalha histórica o nosso Nordeste (onde o machismo sempre foi muito presente) foi pioneiro. Antes do direito a nível nacional, em 1927 o estado do Rio Grande do Norte se tornou o primeiro do país a permitir que as mulheres votassem nas eleições e, no mesmo ano a professora potiguar Celina Guimarães entrou para a história como a primeira brasileira a fazer o alistamento eleitoral. Ainda no Rio Grande do Norte, Alzira Soriano foi a primeira mulher escolhida para ocupar um cargo eletivo, ao eleger-se prefeita de Lajes em 1928, embora a anulação dos votos de todas as mulheres pela Comissão de Poderes do Senado tenha impendido-a de terminar seu mandato.
Aos trancos e barrancos a ala feminina foi ocupando seu espaço no segmento político. Hoje vivemos um momento histórico ao eleger a primeira mulher presidente do país, diga-se de passagem, com forte apoio nordestino, fato que além de conferir um aparato simbólico que contribui para a mudança de referenciais sobre a mulher no poder, também gera uma expectativa de medidas concretas que espera-se de uma governante capaz de administrar os problemas nacionais com pulso firme, porém com uma visão mais sensível.
No entanto, ainda é mínima a participação da mulher na política, especialmente na partidária. Os partidos, mesmo regulados por leis que determinam as cotas mínimas de participação feminina em sua composição, nem sempre cumprem essas metas e ainda são relapsos e incompetentes na formação política delas, fatores que aliados ao preconceito (inclusive dentro da família) desestimulam a mulher a ingressar ativamente nessa área. A ocupação em cargos eletivos também é ínfima, ainda mais numa nação com população feminina superior. E embora alguns observadores contestem o comentário de que mulher não vota em mulher, classificando de mito, a realidade mostra que isso acontece, sim.
Vejamos, por exemplo, o caso de Dilma Roussef. Não há quem ignore o fato de que Lula foi vital na sua eleição. Dilma, em termos de massa, era uma ilustre desconhecida, mas depois de uma forte campanha ao lado do popular presidente, que a apresentava como “Mãe dos Pobres”, “Mãe do PAC”, e coisas do tipo, simplesmente ascendeu vertiginosamente ganhando a aprovação do povão. Aliás, muita gente desinformada votou na candidata crente de que a mesma era esposa do Luís Inácio, num momento meio “Evita Perón”.
Na minha cidade, Maracanaú, uma amiga certa vez candidatou-se à prefeita. Mesmo reunindo todos os atributos de preparo intelectual, competência gestora, respeitável histórico de participação em movimentos de luta estudantil e social, experiência em cargos eletivos e de quebra, ainda ser uma conhecida filha da terra, não conseguiu obter êxito na empreitada, embora tenha alcançado uma expressiva votação. A eleição foi conquistada por um homem que não possuía nem de longe a identificação que ela mantinha com Maracanaú. E o mais curioso é que, analisando os votos da candidata, constatamos que a grande maioria foi dada por homens, mesmo sendo ela uma ferrenha defensora dos direitos das mulheres, ativamente envolvida na luta contra a violência e a discriminação de gêneros em qualquer setor da sociedade.
Ainda temos muito que caminhar. E para isso, não podemos mais deixar nas mãos dos outros os rumos do nosso destino. Viver à margem da política é uma ilusão perigosa, pois são essas decisões que escreveram o passado, ditam o presente e antecipam o futuro. Hoje desfrutamos de liberdades das quais nossas mães e avós foram privadas e devemos usá-las em nosso benefício. Nada de chegar o dia da votação e ir lá apertar qualquer tecla pra voltar pra casa a tempo de fazer o almoço. Somos a maioria da população e do eleitorado, então façamos jus a nossa parcela de responsabilidade diante dos problemas e das soluções que determinam os rumos do país. Participar, informar-se, engajar-se em movimentos organizados são meios de obter os esclarecimentos necessários a nossa verdadeira formação cidadã. Cidadania não é receber bolsa família, é ser consciente de seus direitos e deveres. E consciência é um conceito muito mais abrangente, que inclui uma visão crítica e racional da realidade, algo bem além de dar uma olhadinha no horário eleitoral só para resmungar dos caras de pau ou rir da peruca do Tiririca.
Então, mulher, não seja abestada! Como se diz, voto não tem preço, tem consequência. E nós já sofremos demais os efeitos de nossa displicência.
Beijos!
Não tenho nada contra mulheres ocupando cargos políticos, pelo contrário, me dá uma segurança muito boa. Geralmente as pessoas julgam os políticos masculinos como corruptos e coisas do gênero (muitas vezes o julgamento é confirmado por suas ações). Ainda não me passou pelos ouvidos nenhum termo atribuido a politica feminina,quer dizer, até que aqui em Fortaleza ouvimos muito "os 'buracos' da Luiziane e sua fortaleza bela". Se cada mulher souber fazer o que você citou de " fazer jus a nossa parcela de responsabilidade diante dos problemas e das soluções que determinam os rumos do país", então vai conquistar a cada dia um maior espaço na sociedade e aquilo que a muito tempo atrás era empregado apenas para o homem, vai se tornar tranquilamente visível para a mulher. Com Dilma no poder, a mulher brasileira só fez dar um grande passo na sua caminhada.
ResponderExcluirConfesso que precisei reler seu texto algumas vezes para capturar a mensagem principal. Certo momento cheguei a uma conclusão boba pensando que você estava afirmando que, como a maior parte da população é feita por mulheres, seria mais do que justo ela atribuir seu voto para a classe feminina. Não sei se você também quis passar essa mensagem, mas certo momento veio essa idéia na cabeça que me deixou absorto em pensamentos. Bem, continue com esse trabalho fantástico. Parabéns!
Jeff, você foi muito feliz em suas observações. Depois do texto, a caminho da aula, fiquei imaginando se realmente as pessoas entenderiam o que eu queria dizer. Então vou tentar ser mais clara.
ResponderExcluirO primeiro ponto é a questão da participação da mulher na política em geral. Muitas, pelo preconceito sofrido ou pelo despreparo, preferem ficar a margem do processo. Votam, é claro, mas por pura obrigação e conrinuam sofrendo as consequencias de uma política que ainda exclui as minorias e prefere lavar as mãos quando o assunto é igualdade de gêneros. E quando um segmento social tem prejuízos, o primeiro passo é se organizar e lutar pelos interesses em comum e isso inclui, obviamente, escolher representantes que comunguem com o mesmo propósito e isso em todas as esferas: municipal, estadual e federal.
O segundo ponto é a questão da ocupação dos cargos eletivos. Se a mulher ao longo dos anos provou sua força e competência e conquistou o espaço em vários setores que até há pouco tempo era ocupado somente por homens, como se explica que na política a participação feminina ainda seja irrisória? Será que não existe aí uma ponta de preconceito? Será que se a candidata a presidente fosse uma mulher muito mais preparada do que Dilma Roussef, mas não tivesse um homem como Lula ao seu lado, para dar sua benção, ela teria sido eleita? E quando cito o exemplo dessa amiga que foi derrotada numa eleição para prefeita perceba que listo suas qualidades como líder, ser humano e gestora, mas que ainda assim não foram suficientes para elegê-la e que embora possuísse um inegável histórico de luta em favor das mulheres no município, os votos que recebeu foram em sua grande maioria de homens. Será que as próprias mulheres não são, muitas vezes, preconceituosas umas com as outras? Quantas mulheres com idéias machistas você já conheceu? Homem machista existe aos bandos. Mas é o que já esperamos deles, pois é algo notório e que muitas mulheres deram a própria vida para combater. Agora aceitar que uma mulher atue em causa contrária é lamentável! E a verdade é que enquanto a ala feminina não se conscientizar de seu papel e fazer por onde mudar essa realidade, aumentando a sua representação política, a exemplo de participação bem sucedida em outros setores (como educação, família e mercado de trabalho) continuaremos a ter a ausência de políticas públicas, projetos e leis voltados à aplicação e fiscalização de nossos direitos, ou seja, a coisa vai continuar andando beeeeeemmm devagar. Ou será que homens que figuram em cargos durante anos e nada fizeram vão agora mudar de idéia e privilegiar as mulheres em seus mandatos? Não digo que mulher obrigatoriamente precise votar em mulher. Mas por favor, que não deixem de votar por causa do sexo da guria. O que não faltam são femêas capazes, com enorme potencial de liderança e representação social que com certeza fariam um excelente trabalho na ocupação de cargos eletivos, com um visão gestora bem mais SENSÍVEL E HUMANA. E quanto aos candidatos masculinos, na hora que perceberem que as eleitoras estão se organizando e procurando direcionar sua superior faixa de votos a políticos realmente comprometidos com nosso gênero, rapidamente vão mudar sua visão e elaborar mais propostas para atender aos anseios do eleitorado, que vai se mostrar mais exigente e consciente de sua própria força. É um processo de mudança de estereótipos que envolve diretamente a mulher. São elas que vão mudar sua situação. E não esperar que surja um príncipe salvador que num passe de mágica reconheça aquilo que é e sempre nos foi de direito. Num processo natural de troca de interesses usamos as armas que temos. E nesse ponto, o voto feminino é um poderoso arsenal, ainda relegado a segundo plano.
Beijos!
Jeff, desculpa o exagero no texto, mas só para ilustrar ainda com outro exemplo.
ResponderExcluirTenho conhecimento com líderes do movimento LGBTT e sei de grande parte das dificuldades que o segmento encontra para legitimar sua condição de igualdade na sociedade.
O Brasil é um país ainda bastante homofóbico e o tom de humor que usamos para falar do assunto não muda a realidade do preconceito sexual. E se o país é assim, claro que a grande maioria os políticos eleitos reflete esse pensamento. Por isso é tão difícil conseguir a aprovação de leis que assegurem direitos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, os direitos previdenciáriso dos companheiros, a adoção de crianças para estes casais, etc. Porque mesmo aqueles políticos que tenham interesse em votar, temem a represália nas urnas e preferem, muitas vezes, ser contra ou se abster.
E conheço MUITOS candidatos que sabendo dessa carência se APROVEITAM DA SITUAÇÃO aproximando-se desses grupos em período eleitoral, mostrando-se amigos, parceiros, quando na verdade não conhecem absolutamente nada do universo, da vida real dessas pessoas que diariamente são vítimas do preconceito no trabalho, na escola, na família. Depois de eleitos, com o voto desses eleitores que confiaram em suas intenções, dão as costas e nada mais fazem, para não se queimar.
Portanto, será que a forma mais eficiente destes indivíduos terem assegurados seus direitos não seria se organizando, se politizando, se capacitando para formarem LIDERANÇAS dentro de seus segmentos que tenham realmente compromisso com a causa? Ou ainda vão continuar esperando que alguém que finge conhecê-los e respeitá-los assuma essa tarefa?
Agora sim, consegui entender perfeitamente bem o seu prisma. =D
ResponderExcluirInfelizmente existem poucas 'feministas de arake' e vejo que seu blog e suas idéias podem ser fundamentais na construção de uma nova consciencia para as mulheres. Admiro bastante a sua postura e pode ter certeza que como seu conterrâneo misterioso, votaria em você caso se elegesse. :)
Hoje, meu blog está fazendo aniversário, dá uma passadinha lá para deixar registrado seu Parabéns. Obrigado por esclarecer minha dúvida, é sempre bom debater seus posts. Abraço