terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Acaba com esse mau costume, cunhãzinha sem vergonha!

Palavrão é o cacete, pô!

Vocês devem estar estranhando o título da postagem. Mas estou num momento nostálgico, relembrando fatos marcantes da minha velha infância.

Essa fase áurea, vivida em plenos anos 80, foi marcada por psicose embalada pelos hits da Cindy Lauper. Eu era tão, mas tão cricri que me penitenciava durante meses quando deixava escapar um palavrão inocente, do tipo “pitomba” (vai lá saber porque diabos isso pode ser considerado palavrão, mas era assim que mamãe me reprimia). Caso saísse, num momento de fúria insana, algo mais cabeludo, nem conseguia dormir imaginando que os Cavaleiros do Apocalipse viriam me arrancar da cama e me jogar no fogo do inferno.

A personalidade controladora da minha mamys (herdada genética e culturalmente por esta que vos fala), contribuía para a eterna sensação de culpa. E o mínimo deslize já era motivo para eu escutar essa célebre frase. O que denotava que o hábito faz o monge e o palavrãozinho fugidio de hoje faz a Dercy Gonçalves de amanhã.

Com o tempo e a emancipação precoce (saí das barras da saia da mãe aos 14 anos), vendo ainda que escapei ilesa de alguns “p.... que pariu”, fui relaxando mais até alcançar um certo patamar de liberdade e rebeldia. Por um lado foi bacana. Eu nem de longe queria ser aquela criança insegura, que vivia com medo de tudo. Mas agora, mais amadurecida e depois de ter levado umas pancadas da vida, vi que a mania delirante de minha genitora tinha lá seu fundamento.

Os princípios aplicados para reger nossas vidas, moldados especialmente na infância, provavelmente nos acompanharão por toda a existência, mesmo quando ignorados. E à medida que o tempo passa nosso desenvolvimento moral vai se firmando, dentro do universo individual de cada um. É um processo natural de amadurecimento, construído de forma interativa, com influência exteriores do ambiente, do contexto, das experiências particulares e de convivência.

O problema é que certas influências e experiências não são assim tão positivas. E é inegável o alcance da mídia nos conceitos aplicados à convivência social e aos valores pessoais. Com o toque publicitário correto e a estratégia de divulgação ideal, certos comportamentos e ações antes consideradas inadequadas, de repente, tornam-se exemplos a serem seguidos. Lembro, por exemplo, da antiga propaganda da Marlboro, onde os atores escalavam montanhas, praticavam esportes e depois se deleitavam com a “saudável” sensação de tragar um cigarro, quando na realidade um fumante sequer tem fôlego para subir um lance de escadas.

Mas embora concordando que as peças publicitárias devem ser reguladas por normas éticas e a informação inverídica (como era o caso dessa propaganda) mereça a devida punição, por induzir o consumidor ao erro, não posso negar que também acredito que essa influência midiática tem sua raiz muito mais na nossa fraqueza do que no nosso pretenso desconhecimento.

Afinal, desde criança escutamos falar que o cigarro faz mal pra saúde, presenciamos casos de pessoas vítimas de doenças terríveis por causa do fumo, mas quando QUEREMOS fumar, nosso cérebro, numa tentativa de tendenciosa preferência, elege a informação que mais se adequa ao nosso desejo, que é o aspecto legal e descolado do hábito.

Não estou querendo julgar ninguém, até porque também fumo e falo com uma certa propriedade. Só estou tentando dar o devido peso a cada coisa admitindo que o poder que a mídia tem sobre nós, em parte, é por nossa culpa.

O ser humano sempre buscou a liberdade como um bilhete dourado. Mas o conceito de liberdade sem limites nem conseqüências é uma utopia! Somos presos às regras de convivência social, aos direitos de nossos semelhantes e, principalmente, a nós mesmos, porque toda ação gera uma reação na mesma intensidade. Não há como fugir disso!

Por isso, acho que o autoconhecimento é a primeira etapa de quem busca o verdadeiro ideal de liberdade. Porque de nada adianta tentar fugir de si mesmo, se jogando no mundo chutando todas as regras. Em determinado momento você mesmo irá se cobrar, isso se antes não for cobrado pelos outros, quando nessas loucuras infringir o direito alheio.

Se a pessoa procura se conhecer dia a dia, ela consegue separar o joio do trigo e descartar da sua consciência programada certas cobranças sem sentido incutidas pela educação repressora secular e eleger aquilo que realmente serve pra você e que vale a pena ser cultivado como bons hábitos. Enxergando assim, esses princípios deixam de ser amarras e constituem-se na verdadeira autonomia do ser humano que constrói sua própria fortaleza de caráter e personalidade, cujas influências exteriores ou mesmo as interiores (geradas por sentimentos de culpa infundados) não são capazes de abalar.

Só não espere que isso seja obtido num passe de mágica. É um exercício diário, um hábito que deve ser exercido e relembrado até que se torne natural. Eleja suas diretrizes, escolha seu caminho e norteie-se pela emoção raciocinada para não ficar largada no mundo como folha ao vento. E permita-se relembrar diariamente esses objetivos, porque o que não faltarão serão desvios no meio da estrada. Mas tudo isso numa boa, porque um palavrãozinho aqui e acolá também não mata ninguém. A não ser que você esculhambe o Maguila. Aí, bebê, é o fim da linha pra você. Entra na fila da reencarnação e pede pra nascer muda da próxima vez.

Beijão!

3 comentários:

  1. É bem verdade tudinho que está escrito. Eu, com meus 21 anos de idade,já percebi tudo isso que você falou e continuo percebendo, vivendo essas experiências a cada dia. Uma música que eu adoro e reflete basicamente o que expressou é "Admirável Chip Novo" da Pitty. Realmente, as vezes somos como fantoches nas mãos da sociedade e daqueles que nos impõe regras.
    É preciso um amadurecimento considerável e também receber muitos palavrões para lutar pela sua verdadeira identidade.
    Beijukas

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  2. Jeff, confesso que não conheço o repertório da Pitty. Também confesso que meu desconhecimento talvez tenha raíz num certo preconceito contra a artista, prova de que se pode perder muita coisa interessante por conta de idéias pré concebidas. Sua dica despertou minha curiosidade. Vou conhecer a música e refletir sobre a letra.
    Beijão, pra ti também!

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  3. Oi Lulu, a letra da música é bem pequena, e para alguns ela é muito abstrata, começando pelo título. Eu consegui enxergar sua mensagem principal através das duas pequenas estrofes. Admiro a Pitty pelas suas letras bem elaboradas e os temas que são expostos.
    Até o próximo post!

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